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MINHA HISTÓRIA JAMERSON MICHEL DA COSTA, 24
homem
Pessoas perguntam: "Aquele é o goleiro que fechou o gol? É gay? " Posso ser um exemplo. Quero ganhar dinheiro trabalhando
DANILO SÁ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM
GOIANINHA (RN)
Acho que o homossexual
está dentro de você desde o
dia em que nasce. Eu não era
declarado, mas minha família perguntava por que eu
não arranjava namorada, não andava em festa.
Sempre fui muito calado,
muito quieto, só jogava vôlei
mesmo. Então eu cheguei à
conclusão de que deveria me
declarar. Fiz um almoço, reuni minha família e contei.
No começo, foi muito difícil porque os pais não gostam
de que o homem seja homossexual, querem que ele seja
homem. No começo, meu pai
disse que ia me botar para fora de casa, mas a minha mãe
sempre me apoiou.
Hoje ele me apoia e tem orgulho por eu ser goleiro, porque ele era atacante [amador]. Tenho amigos homossexuais que também sofreram com isso na família.
A família me apoia, acostumou-se. Meu pai, só quando bebe, diz que eu deveria
ser outra coisa. Minhas duas
irmãs me apoiam e dizem para eu ser o que sou, que não
tenho nada a esconder.
IMPULSO
Primeiro eu jogava vôlei,
aí perceberam que eu tinha
muito impulso e me contrataram para ser goleiro. Deixei o
esporte porque não tinha
muita altura. Mas gostava
mesmo era do vôlei. Sei que,
se tivesse ficado no vôlei, teria menos preconceito.
No futebol, está difícil.
Em 2006, eu jogava no Estrela do Mar. Para os jogadores, foi muito difícil, eu era
calado, ninguém acreditava.
Quando eu decidi contar,
falei para o técnico no meio
de campo e ele que passou
para o resto da equipe. Muitos amigos se afastaram.
Um rapaz daquele não vai andar comigo porque pensa
que os outros vão achar que eles estão vivendo comigo.
Mas, aos poucos, eles foram se acostumando, vieram conversar comigo.
No futebol, teve muito preconceito. Quando vou jogar
fora, a torcida sabe e pega no pé. É preconceito, é difícil.
Mas a torcida do Palmeira
me apoia e gosta bastante de
mim. Os jogadores adversários me conhecem, mas a torcida pega no pé mesmo, principalmente quando defendo
as bolas. "Aquele gay, é imoral", eles dizem [risos].
Mas depois, quando termina o jogo, vêm me dar parabéns, dizem que sou um bom
goleiro. Ficam com mais raiva de mim porque jogo bem.
FORA DOS CAMPOS
Quando vou a festas, não
me visto como mulher, mas
gosto de "baby look", calças.
Não gosto de saltos, só de
tênis, boné e brincos.
O pessoal fica abismado
comigo. Me olham e ficam se
perguntando: "Aquele é o
goleiro que estava agarrando
aquele dia? Que fechou o
gol? E ele é gay?".
Eu me visto assim pois
acho meu corpo bonito, me
acho bonito. Faço academia.
Mas lançar moda no campo
não, só ando assim nas baladas. Os outros jogadores são
todos brincalhões comigo.
Quando estou na festa, me
chamam para ficar na mesa
com eles, sentar para tomar
uma, são legais comigo.
Estou solteiro. Mas aqui
[no campo] é preciso ser profissional. Agora, fora do futebol é outra coisa.
GAYS NO FUTEBOL
Eles não se revelam com
medo, é só o medo. Está na
hora de botar para fora.
O homossexual que não se
declara tem preconceito com
ele mesmo. Acho que os preconceituosos precisam aceitar as pessoas como elas são.
Acho que posso ser um
exemplo. Quero ganhar dinheiro com meu trabalho.
Terminei o pré-vestibular
há três anos. Quis fazer faculdade de educação física, mas
não tive condições.
Quero ir para um time
maior. No começo, vai ser difícil, mas aos poucos vão se
acostumar. Sou educado,
gosto de respeitar e ser respeitado e vão me entender.
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