São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2010

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MINHA HISTÓRIA JAMERSON MICHEL DA COSTA, 24

homem

Pessoas perguntam: "Aquele é o goleiro que fechou o gol? É gay? " Posso ser um exemplo. Quero ganhar dinheiro trabalhando

DANILO SÁ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM

GOIANINHA (RN) Acho que o homossexual está dentro de você desde o dia em que nasce. Eu não era declarado, mas minha família perguntava por que eu não arranjava namorada, não andava em festa.
Sempre fui muito calado, muito quieto, só jogava vôlei mesmo. Então eu cheguei à conclusão de que deveria me declarar. Fiz um almoço, reuni minha família e contei.
No começo, foi muito difícil porque os pais não gostam de que o homem seja homossexual, querem que ele seja homem. No começo, meu pai disse que ia me botar para fora de casa, mas a minha mãe sempre me apoiou.
Hoje ele me apoia e tem orgulho por eu ser goleiro, porque ele era atacante [amador]. Tenho amigos homossexuais que também sofreram com isso na família.
A família me apoia, acostumou-se. Meu pai, só quando bebe, diz que eu deveria ser outra coisa. Minhas duas irmãs me apoiam e dizem para eu ser o que sou, que não tenho nada a esconder.

IMPULSO
Primeiro eu jogava vôlei, aí perceberam que eu tinha muito impulso e me contrataram para ser goleiro. Deixei o esporte porque não tinha muita altura. Mas gostava mesmo era do vôlei. Sei que, se tivesse ficado no vôlei, teria menos preconceito.
No futebol, está difícil.
Em 2006, eu jogava no Estrela do Mar. Para os jogadores, foi muito difícil, eu era calado, ninguém acreditava.
Quando eu decidi contar, falei para o técnico no meio de campo e ele que passou para o resto da equipe. Muitos amigos se afastaram.
Um rapaz daquele não vai andar comigo porque pensa que os outros vão achar que eles estão vivendo comigo.
Mas, aos poucos, eles foram se acostumando, vieram conversar comigo.
No futebol, teve muito preconceito. Quando vou jogar fora, a torcida sabe e pega no pé. É preconceito, é difícil.
Mas a torcida do Palmeira me apoia e gosta bastante de mim. Os jogadores adversários me conhecem, mas a torcida pega no pé mesmo, principalmente quando defendo as bolas. "Aquele gay, é imoral", eles dizem [risos]. Mas depois, quando termina o jogo, vêm me dar parabéns, dizem que sou um bom goleiro. Ficam com mais raiva de mim porque jogo bem.

FORA DOS CAMPOS
Quando vou a festas, não me visto como mulher, mas gosto de "baby look", calças.
Não gosto de saltos, só de tênis, boné e brincos.
O pessoal fica abismado comigo. Me olham e ficam se perguntando: "Aquele é o goleiro que estava agarrando aquele dia? Que fechou o gol? E ele é gay?".
Eu me visto assim pois acho meu corpo bonito, me acho bonito. Faço academia. Mas lançar moda no campo não, só ando assim nas baladas. Os outros jogadores são todos brincalhões comigo.
Quando estou na festa, me chamam para ficar na mesa com eles, sentar para tomar uma, são legais comigo.
Estou solteiro. Mas aqui [no campo] é preciso ser profissional. Agora, fora do futebol é outra coisa.

GAYS NO FUTEBOL
Eles não se revelam com medo, é só o medo. Está na hora de botar para fora.
O homossexual que não se declara tem preconceito com ele mesmo. Acho que os preconceituosos precisam aceitar as pessoas como elas são.
Acho que posso ser um exemplo. Quero ganhar dinheiro com meu trabalho.
Terminei o pré-vestibular há três anos. Quis fazer faculdade de educação física, mas não tive condições.
Quero ir para um time maior. No começo, vai ser difícil, mas aos poucos vão se acostumar. Sou educado, gosto de respeitar e ser respeitado e vão me entender.


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