São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2008

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Diego Hypólito se testa pós-queda

Para atleta, que se diz ansioso por "recomeço" no solo, revés olímpico não é pior que a fome na infância

Ginasta vê na etapa da Copa na Escócia, hoje e amanhã, chance de mostrar que está recuperado e admite usar movimento que o derrubou


CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Diego Hypólito, 22, realiza hoje sua primeira exibição oficial depois da queda na decisão do solo da Olimpíada obcecado pelo desejo de apagar a imagem deixada no tablado de Pequim e mostrar que está recuperado. "Aquela derrota, com certeza, vai ficar, como uma cicatriz. Pela minha reação, todos ficaram preocupados, mas não foi o pior momento da minha vida", diz. "Já vivi dificuldades muito piores, como passar fome por não ter leite e feijão em casa." Sob o comando do técnico Renato Araújo, que diz ter se surpreendido com o ânimo de seu pupilo na volta aos treinos, Diego Hypólito tenta recobrar a confiança que o tornou bicampeão mundial e o fez chegar com amplo favoritismo à decisão do solo na China. Na etapa da Copa do Mundo em Glasgow, onde irá encarar rivais de Pequim, como Alexander Shatilov (ISR), o brasileiro ainda buscará pontos no salto, visando a finalíssima da Copa em Madri, em dezembro, que terá os oito melhores de cada aparelho -no solo, em que é líder do ranking, ele já tem vaga. Em entrevista, o atleta revela o momento mais difícil da derrota na China e diz que irá testar movimento que o derrubou.

 

FOLHA - Como é voltar aos torneios internacionais após a Olimpíada?
DIEGO HYPÓLITO
- Eu tinha que competir, de qualquer forma, pois estou bem fisicamente, muito melhor do que na final olímpica. E eu tenho que mostrar para mim que consigo voltar a atuar e que, principalmente, posso ir bem no solo.

FOLHA - Aquela derrota na final ainda o atormenta?
DIEGO HYPÓLITO
- Atormentou muito. Sorte até que o Renato [Araújo] nem veio perto de mim na hora, senão seria ainda pior. Nos primeiros três dias, não consegui dormir. Chorei muito. Em seguida, dormi um dia inteiro. Na volta ao Brasil, passei três semanas fechado, sem ver ninguém, juntando os cacos e me remontando. Mas eu já tinha superado o momento mais difícil, que foi o de levantar após a queda na final. Ali, foi terrível, porque o corpo não respondia, ficou pesado.

FOLHA - Foi o pior de todos os seus momentos? Você pensou em parar?
DIEGO HYPÓLITO
- Não foi o pior momento. Foi uma derrota. Todo atleta sofre derrota. E não foi porque estava sob pressão ou tinha voltado de cirurgia e sofrido com a dengue. Foi fatalidade, destino. É diferente de coisas que ocorreram comigo na infância. Já vivi dificuldades muito piores, como passar fome por não ter leite e feijão em casa. Isso foi difícil e me tornou forte. Perder na Olimpíada foi um momento, não me fez pensar em parar. Pelo contrário, reforçou o amor pela ginástica. Se tivesse ganhado, talvez não teria a cabeça de hoje, de valorizar mais o treino. E vou superar essa derrota, pois sei que posso voltar à Olimpíada e ser campeão. Ainda é meu objetivo.

FOLHA - E você acredita que possa ser campeão em Glasgow?
DIEGO HYPÓLITO
- Eu só quero acertar a minha série de solo. Estou muito ansioso por isso. Será como uma reestréia para mim. Tenho experiência, mas é um recomeço. Meu técnico não fala, mas sei que ele tem muito medo de que eu erre. Todos estão preocupados. Eu não estou com medo, até gosto da pressão. Mas não penso em resultado, apenas na apresentação.

FOLHA - Você está ansioso...
DIEGO HYPÓLITO
- Muito. Estou até nervoso, não sei dizer. Enquanto não entrar para competir no solo, não vou sossegar.

FOLHA - Você usará a série olímpica, inclusive o movimento [o duplo twist grupado] que o tirou do pódio?
DIEGO HYPÓLITO
- Já fiz esse movimento após a Olimpíada. É que agora ele ficará para sempre marcado. Vou apresentá-lo. Já o usei em exibição no Sul e foi tudo bem. Já a série olímpica, não sei. Não preciso ter o mais alto grau de dificuldade hoje, pois quero chegar 100% à finalíssima de dezembro.


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