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Diego Hypólito se testa pós-queda
Para atleta, que se diz ansioso por "recomeço" no solo, revés olímpico não é pior que a fome na infância
Ginasta vê na etapa da Copa
na Escócia, hoje e amanhã,
chance de mostrar que está
recuperado e admite usar
movimento que o derrubou
CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Diego Hypólito, 22, realiza
hoje sua primeira exibição oficial depois da queda na decisão
do solo da Olimpíada obcecado
pelo desejo de apagar a imagem
deixada no tablado de Pequim e
mostrar que está recuperado.
"Aquela derrota, com certeza, vai ficar, como uma cicatriz.
Pela minha reação, todos ficaram preocupados, mas não foi o
pior momento da minha vida",
diz. "Já vivi dificuldades muito
piores, como passar fome por
não ter leite e feijão em casa."
Sob o comando do técnico
Renato Araújo, que diz ter se
surpreendido com o ânimo de
seu pupilo na volta aos treinos,
Diego Hypólito tenta recobrar
a confiança que o tornou bicampeão mundial e o fez chegar com amplo favoritismo à
decisão do solo na China.
Na etapa da Copa do Mundo
em Glasgow, onde irá encarar
rivais de Pequim, como Alexander Shatilov (ISR), o brasileiro
ainda buscará pontos no salto,
visando a finalíssima da Copa
em Madri, em dezembro, que
terá os oito melhores de cada
aparelho -no solo, em que é líder do ranking, ele já tem vaga.
Em entrevista, o atleta revela
o momento mais difícil da derrota na China e diz que irá testar movimento que o derrubou.
FOLHA - Como é voltar aos torneios
internacionais após a Olimpíada?
DIEGO HYPÓLITO - Eu tinha que
competir, de qualquer forma,
pois estou bem fisicamente,
muito melhor do que na final
olímpica. E eu tenho que mostrar para mim que consigo voltar a atuar e que, principalmente, posso ir bem no solo.
FOLHA - Aquela derrota na final
ainda o atormenta?
DIEGO HYPÓLITO - Atormentou
muito. Sorte até que o Renato
[Araújo] nem veio perto de
mim na hora, senão seria ainda
pior. Nos primeiros três dias,
não consegui dormir. Chorei
muito. Em seguida, dormi um
dia inteiro. Na volta ao Brasil,
passei três semanas fechado,
sem ver ninguém, juntando os
cacos e me remontando. Mas
eu já tinha superado o momento mais difícil, que foi o de levantar após a queda na final.
Ali, foi terrível, porque o corpo
não respondia, ficou pesado.
FOLHA - Foi o pior de todos os seus
momentos? Você pensou em parar?
DIEGO HYPÓLITO - Não foi o pior
momento. Foi uma derrota.
Todo atleta sofre derrota. E não
foi porque estava sob pressão
ou tinha voltado de cirurgia e
sofrido com a dengue. Foi fatalidade, destino. É diferente de
coisas que ocorreram comigo
na infância. Já vivi dificuldades
muito piores, como passar fome por não ter leite e feijão em
casa. Isso foi difícil e me tornou
forte. Perder na Olimpíada foi
um momento, não me fez pensar em parar. Pelo contrário,
reforçou o amor pela ginástica.
Se tivesse ganhado, talvez não
teria a cabeça de hoje, de valorizar mais o treino. E vou superar
essa derrota, pois sei que posso
voltar à Olimpíada e ser campeão. Ainda é meu objetivo.
FOLHA - E você acredita que possa
ser campeão em Glasgow?
DIEGO HYPÓLITO - Eu só quero
acertar a minha série de solo.
Estou muito ansioso por isso.
Será como uma reestréia para
mim. Tenho experiência, mas é
um recomeço. Meu técnico não
fala, mas sei que ele tem muito
medo de que eu erre. Todos estão preocupados. Eu não estou
com medo, até gosto da pressão. Mas não penso em resultado, apenas na apresentação.
FOLHA - Você está ansioso...
DIEGO HYPÓLITO - Muito. Estou
até nervoso, não sei dizer. Enquanto não entrar para competir no solo, não vou sossegar.
FOLHA - Você usará a série olímpica, inclusive o movimento [o duplo
twist grupado] que o tirou do pódio?
DIEGO HYPÓLITO - Já fiz esse movimento após a Olimpíada. É
que agora ele ficará para sempre marcado. Vou apresentá-lo.
Já o usei em exibição no Sul e
foi tudo bem. Já a série olímpica, não sei. Não preciso ter o
mais alto grau de dificuldade
hoje, pois quero chegar 100% à
finalíssima de dezembro.
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