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FUTEBOL
Volta por cima
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"Fingiram pena de mim,
não precisava./ Ali onde eu
chorei/ qualquer um chorava./
Dar a volta por cima que eu dei/
quero ver quem dava."
Os versos geniais de Paulo Vanzolini poderiam ter sido cantados
pela torcida palmeirense na festa
de sábado à noite no Parque Antarctica, quando seu time venceu
o Marília e praticamente sacramentou sua volta à Série A.
Os leitores que me acompanham (ou aturam) há algum
tempo sabem que não sou palmeirense -muito pelo contrário.
Mas confesso que o sábado de aleluia alviverde me emocionou.
Cheguei até a sentir uma ponta
de inveja.
Uma provação como essa temporada na Segundona, em que jogadores e torcedores tiveram de
suportar todo tipo de gozação dos
adversários, é uma dessas experiências que aprofundam o sentimento de identificação com um
clube, um escudo, uma bandeira.
Os palmeirenses nunca foram
tão palmeirenses como em 2003, o
ano em que bateram o pé no fundo do poço para voltar triunfalmente à superfície, solidários e felizes.
Quem foi ao Parque Antarctica
ao longo da temporada, quem fez
das tripas coração para ir com o
time para campos longínquos,
quem sofreu calado a zombaria
de corintianos, são-paulinos e
santistas, quem comeu, enfim,
desse pão amargo sabe que valeu
a pena não virar a mesa, não voltar pela porta dos fundos. Ganhar
no tapetão é como fazer sexo mediante pagamento. O prazer de
vencer em campo não tem preço.
Muito se especulou nos últimos
tempos sobre qual seria o desempenho do Palmeiras se estivesse
disputando o torneio da Série A.
Estaria brigando para não ficar
na lanterna ou por uma vaga na
Libertadores da América? Seu nível estaria acima ou abaixo do de
Corinthians, Flamengo e Atlético-PR (só para citar três grandes clubes em fase infeliz)?
É impossível saber. Pelo que vi
nos últimos jogos do Palmeiras, a
equipe está longe de ser uma academia, mas pratica um futebol
solidário e combativo, que tem no
incansável e onipresente Magrão
a sua figura mais emblemática.
Além disso, conta com um punhado de jogadores "diferenciados", como se costuma dizer: o goleirão Marcos, o lateral-esquerdo
Lúcio (cujo gol contra o Marília
foi uma obra-prima) e o atacante
Vágner Love, com seu estilo malandro de gafieira.
Soma-se a isso um treinador,
Jair Picerni, pouco dado a estratégias sofisticadas, mas de grande
inteligência prática e capacidade
de comunicação com os atletas.
Para disputar a Série A com
pretensões a uma boa colocação,
o Palmeiras terá que se reforçar,
claro, mas já conta, para começar, com uma base mais sólida
que a da maioria dos clubes. Uma
base forjada e curtida na adversidade. E 100% alviverde.
Por motivo de força maior, escrevi esta coluna antes de ver o jogo do Brasil contra o Peru, daí a
ausência de comentários a respeito. Fica para a próxima.
Vizinhos rivais
Em casa, a Argentina, travada e
sem inspiração, penou durante
o primeiro tempo diante da Bolívia no sábado. Depois do intervalo, prevaleceu a categoria
individual de seus jogadores,
sobretudo do meia-atacante
Pablo Aimar, que fechou o placar de 3 a 0 com um lindo gol de
letra. Queiramos ou não, nossos "muy amigos" vizinhos
produzem quase tantos craques quanto nós.
Quem te viu
Já a outrora poderosa Colômbia, coitada, está apanhando
mais que o Marília. Depois da
terceira derrota seguida, o técnico Maturana, que também já
foi poderoso, está ameaçado. O
preocupante é que a única seleção que sofreu gol da Colômbia
nas eliminatórias da Copa, até
agora, foi a nossa.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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