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São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2003

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FUTEBOL

Volta por cima

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

"Fingiram pena de mim, não precisava./ Ali onde eu chorei/ qualquer um chorava./ Dar a volta por cima que eu dei/ quero ver quem dava."
Os versos geniais de Paulo Vanzolini poderiam ter sido cantados pela torcida palmeirense na festa de sábado à noite no Parque Antarctica, quando seu time venceu o Marília e praticamente sacramentou sua volta à Série A.
Os leitores que me acompanham (ou aturam) há algum tempo sabem que não sou palmeirense -muito pelo contrário. Mas confesso que o sábado de aleluia alviverde me emocionou. Cheguei até a sentir uma ponta de inveja.
Uma provação como essa temporada na Segundona, em que jogadores e torcedores tiveram de suportar todo tipo de gozação dos adversários, é uma dessas experiências que aprofundam o sentimento de identificação com um clube, um escudo, uma bandeira.
Os palmeirenses nunca foram tão palmeirenses como em 2003, o ano em que bateram o pé no fundo do poço para voltar triunfalmente à superfície, solidários e felizes.
Quem foi ao Parque Antarctica ao longo da temporada, quem fez das tripas coração para ir com o time para campos longínquos, quem sofreu calado a zombaria de corintianos, são-paulinos e santistas, quem comeu, enfim, desse pão amargo sabe que valeu a pena não virar a mesa, não voltar pela porta dos fundos. Ganhar no tapetão é como fazer sexo mediante pagamento. O prazer de vencer em campo não tem preço.
Muito se especulou nos últimos tempos sobre qual seria o desempenho do Palmeiras se estivesse disputando o torneio da Série A.
Estaria brigando para não ficar na lanterna ou por uma vaga na Libertadores da América? Seu nível estaria acima ou abaixo do de Corinthians, Flamengo e Atlético-PR (só para citar três grandes clubes em fase infeliz)?
É impossível saber. Pelo que vi nos últimos jogos do Palmeiras, a equipe está longe de ser uma academia, mas pratica um futebol solidário e combativo, que tem no incansável e onipresente Magrão a sua figura mais emblemática.
Além disso, conta com um punhado de jogadores "diferenciados", como se costuma dizer: o goleirão Marcos, o lateral-esquerdo Lúcio (cujo gol contra o Marília foi uma obra-prima) e o atacante Vágner Love, com seu estilo malandro de gafieira.
Soma-se a isso um treinador, Jair Picerni, pouco dado a estratégias sofisticadas, mas de grande inteligência prática e capacidade de comunicação com os atletas.
Para disputar a Série A com pretensões a uma boa colocação, o Palmeiras terá que se reforçar, claro, mas já conta, para começar, com uma base mais sólida que a da maioria dos clubes. Uma base forjada e curtida na adversidade. E 100% alviverde.
 
Por motivo de força maior, escrevi esta coluna antes de ver o jogo do Brasil contra o Peru, daí a ausência de comentários a respeito. Fica para a próxima.

Vizinhos rivais
Em casa, a Argentina, travada e sem inspiração, penou durante o primeiro tempo diante da Bolívia no sábado. Depois do intervalo, prevaleceu a categoria individual de seus jogadores, sobretudo do meia-atacante Pablo Aimar, que fechou o placar de 3 a 0 com um lindo gol de letra. Queiramos ou não, nossos "muy amigos" vizinhos produzem quase tantos craques quanto nós.

Quem te viu
Já a outrora poderosa Colômbia, coitada, está apanhando mais que o Marília. Depois da terceira derrota seguida, o técnico Maturana, que também já foi poderoso, está ameaçado. O preocupante é que a única seleção que sofreu gol da Colômbia nas eliminatórias da Copa, até agora, foi a nossa.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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