São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 2006

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FÁBIO SEIXAS

As montadoras venceram


Documento divulgado ontem não deixa dúvidas: fábricas tomarão o lugar de Ecclestone na chefia da F-1


ESTÁ LÁ na página 8 de um calhamaço divulgado ontem pela FIA. "Precisamos elaborar as regras de modo que permitam a sobrevivência das equipes independentes na F-1. As montadoras disponibilizarão novas tecnologias a preços viáveis, e assim os outros times não terão que gastar fortunas. Nós tomaremos ainda mais conta deles".
O autor da frase é Mosley, presidente da entidade. E o calhamaço é uma espécie de auto-entrevista (como a de um diretor palmeirense dias atrás) do inglês e de Burkhard Göschel, consultor da BMW e comandante da GPMA, ex-GPWC, grupo hoje reduzido à sua velha empresa, Honda, DaimlerChrysler e Renault.
Duas páginas à frente há outro trecho dos bons. "Chegará uma hora em que negociaremos [a compra da F-1]. Estamos abertos a conversas." Desta vez, a lavra é do alemão.
Assim terminou a novela mais chata do automobilismo dos últimos anos, iniciada ainda na virada do século: o duelo, entremeado de ameaças, entre FIA e montadoras.
Uma rixa que começou cheia de bravatas das fabricantes por um único motivo. O de sempre. Dinheiro. Lá por 2000, Fiat, DaimlerChrysler, Renault, Ford e BMW começaram a exigir fatias maiores do bolo.
Se não fossem atendidas, bradavam, sairiam da F-1 e organizariam uma categoria paralela. Em 2001, formalizaram a promessa estabelecendo na Suíça a GPWC Holding B. V. Mais tarde, conseguiram a adesão das japonesas, e acho que foi em Imola, lá por 2002, que anunciaram as primeiras medidas práticas para colocar o bloco na rua: contatos com donos de circuitos, estudos técnicos para os carros... Tudo visando 2008.
De lá pra cá, o grupo sofreu baixas. Saíram Ford, Fiat e Toyota. As duas últimas assinaram, em separado, o novo Pacto de Concórdia. A impressão era que Ecclestone e Mosley venceriam outra. Não foi bem assim.
Ao sentar com a FIA anteontem para acertar os detalhes do contrato que regerá a F-1 após o vencimento do atual, em 31 de dezembro de 2007, Göschel deu a pista mais evidente para solucionar a questão que vem atormentando muita gente: quem ocupará o lugar de Ecclestone, que, aos 76, dá mostras de cansaço?
Dennis, Todt e Briatore vira e mexe são cotados. Mas não, o formato atual, de um homem forte, não existirá mais. O grupo das montadoras vai substituir o todo-poderoso. E o fará sem compaixão com as independentes, hoje representadas por Williams, Red Bull, Toro Rosso e Spyker. Qualquer pessoa que tenha vivido um pouco a F-1 sabe que assistencialismo não existe por lá e entende que a tradução de "nós tomaremos ainda mais conta deles" é "nós os sufocaremos até a morte".
Sem precisar lançar uma categoria paralela, as fábricas de carros conseguiram o objetivo: terão um Mundial só delas. Ecclestone e Mosley não perderam o duelo. Mas as fabricantes ganharam mais. Quanto às independentes, pobre delas...

FORA DO EIXO
Enquanto o polonês Kubica pinta como nova sensação da F-1, um estoniano, Marko Asmer, foi o mais rápido ontem no início dos treinos para o GP de Macau, espécie de Mundial da F-3. Dois brasileiros participam: Fabio Carbone foi o quinto, e Roberto Streit, o oitavo.

FORA DA ORDEM
A Stock corre neste fim de semana sua penúltima etapa num palco deprimente, um remendo de três quilômetros de Jacarepaguá, cheio de mato, segundo relatos de amigos. Líder do campeonato, Cacá Bueno definiu: "O circuito foi mutilado e virou um canteiro de obras".

FORA DA VITRINE
Após algumas provinhas em divisões menores da Nascar, Montoya tentará se classificar para a Nextel Cup, domingo, em Homestead.

fseixas@folhasp.com.br


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