São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2008

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JUCA KFOURI

A decadência de Luxemburgo


Entre o marketing pelo marketing, como fime não como meio, o antimarketing prevaleceu

VANDERLEI LUXEMBURGO acordou sábado com dor no cotovelo, fruto de uma luxação ao cair no chão do aeroporto de Congonhas, ao furar um chute num desses membros de torcidas uniformizadas que sempre sustentou.
Para piorar, no próprio sábado leu, nesta Folha, jornal de maior circulação do país, que Muricy Ramalho está prestes a superá-lo também nas estatísticas do Campeonato Brasileiro, depois de tê-lo deixado para trás nas preferências gerais para a seleção brasileira.
Como se não bastasse, ao acordar no domingo, no Rio, cotovelo ainda dolorido, viu, no "Globo", duas páginas quase inteiras dedicadas a Muricy, apresentando-o com uma simpatia que não chega a ser sua marca registrada. Porque desde que Luxemburgo disse à rádio Globo que era melhor que o técnico do São Paulo, ele só vem colhendo reações que comprovam que apenas ele, e alguns fãs, pensam igual.
Pois não só virou alvo de chacota, como viu o rival ganhar espaço até onde supunha ter cadeira cativa. Na verdade, Luxemburgo surtou desde que a coluna de Renato Maurício Prado, exatamente no "Globo", informou que o treinador tricolor estava bem cotado na CBF.
Bem no primeiro jornal que o presidente da entidade lê diariamente.
Daí para frente, até Síndrome do Pânico, esta terrível doença moderna, houve quem, no Palmeiras, diagnosticasse nele, embora ele tenha passado mesmo por uma crise depressiva, outro transtorno desses dias estressantes. Porque, desde que dormiu no Palácio da Alvorada, tinha certeza de que seria o ungido para o cargo hoje ocupado por Dunga na seleção.
Se ciúmes de homem é o pior tipo de ciúmes e se ele atingiu Romário, Edmundo, Marcelinho Carioca, São Marcos etc, está claro que nada pode fazer em relação a Muricy Ramalho, que fez do antimarketing seu melhor marketing, além de ter recuperado seu time e jogadores, como Hugo e Borges, que pareciam condenados.
Luxemburgo, então, aprofundou suas manias e superstições, com atitudes que não ficam bem para quem se acha moderno e profissional. Começou a mandar o time usar a camisa de cor de marcar texto para dar sorte, porque assim foi orientado pelo além, como botou na cabeça que Lenny se consagraria contra o Grêmio, com resultado conhecido. Aliás, de Preá a Lenny, como se jogou dinheiro fora no Palmeiras, graças ao dedo de Luxemburgo, que é bem capaz de confundir Rosa de Luxemburgo com Joana D'Arc, mas não foi esperto para perceber que seria cremado na fogueira da vaidade que ergueu para si. Foi o que se viu na goleada impiedosa do Flamengo, que pode custar até a Libertadores.
Luxemburgo ainda é suficientemente moço para dar a volta por cima e recomeçar uma trajetória de vitórias esportivas, desde que se concentre na sua atividade principal. Porque também os abalos na imagem de iniciativas como a do seu instituto acabaram por fazer com que ele desviasse a atenção do coração de seu negócio e perdesse, para usar uma expressão de que gosta, o foco. A ponto de virar, de novo, alguém que torcedores ou conselheiros menos civilizados achem que podem passar a mão.

blogdojuca@uol.com.br


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