São Paulo, sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

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CANOAGEM

Torneio no Rio exibe embarcação polinésia antes usada em travessias

Canoa de 3.000 anos abre jornada rumo ao Pan- 2007

Divulgação
Atletas disputam regata no Rio Va'a 2004, etapa brasileira do circuito mundial que termina amanhã


LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Pan de 2007 no Rio pode ter em seu programa competições de um esporte mais longínquo do que os nascidos na Grécia Antiga.
Representantes nacionais da Associação Brasileira de Va'a têm, na próxima segunda, uma reunião com Ruy Cézar, secretário carioca de esportes. Querem a canoagem polinésia como esporte de demonstração no Pan de 2007.
Para isso, apostam na repercussão do Rio Va'a 2004, etapa brasileira do circuito mundial da modalidade, que começou ontem e termina amanhã na praia Vermelha (na zona sul), com a participação de atletas de dez países.
É a terceira edição do evento, que pela primeira vez terá provas femininas e infantis. Outro destaque é a participação de Sebastian Cuattrin, canoísta que representou o Brasil nos Jogos de Atenas.
No país, a modalidade existe há pouco mais de três anos e tem hoje cerca de 300 praticantes competitivos. "O crescimento desse esporte no Brasil segue o espírito da tradição polinésia, do desenvolvimento paralelo de núcleos independentes", conta o francês Nicolas Bourlon, 39, secretário-executivo da associação brasileira.
Hoje a canoagem polinésia tem núcleos de prática em quatro cidades do país: Rio, Florianópolis, Bertioga e Santos. Mas há canoas em Brasília, no Paraná e no Pará.
A principal competição é a que ocorre no Rio, que envolve cerca de R$ 100 mil na organização. A maior preocupação é a segurança -há barcos de apoio e até um helicóptero para acompanhar as provas. "Nada pode dar errado. A prova é em mar aberto e será uma vitrine para tentarmos incluir a modalidade no Pan", diz Bourlon.
São duas categorias distintas: V6 e V1. A primeira é uma embarcação para seis remadores, a segunda, individual.
Outra diferença é o respeito à tradição polinésia. A canoa para seis atletas é mais fiel na reprodução da embarcação histórica. Nela, é obrigatório o uso de remos de madeira, e o estabilizador fica preso ao corpo da canoa com fibras 100% feitas de algodão. Já no barco individual é autorizado o uso de remos de fibra de carbono e o de materiais mais modernos.
As provas de V1 têm 2 km de distância. As de V6 são de 19 km para as mulheres e de 28 km para guarnições masculinas e mistas.
As equipes favoritas são a havaiana e a taitiana. Na primeira, há um brasileiro, que deve ser responsável pela introdução da embarcação no litoral nordestino.
O baiano Rodrigo Souza mudou-se para o Havaí em busca de ondas gigantes. Lá, conheceu a canoa polinésia ("outtrigger", em inglês) e começou a praticar canoagem. Hoje, integra uma das melhores guarnições do mundo e sabe bem a importância histórica do barco que aprendeu a manejar.
As canoas polinésias foram as primeiras a fazerem grandes travessias e tiveram, para os polinésios, papel semelhante ao das caravelas para espanhóis e portugueses do século 15. Há registros de que nativos da Polinésia (conjunto de ilhas na Oceania) usaram canoas similares às da prova de hoje para atingir o Havaí e a América há cerca de 3.000 anos.
A escolha dos remadores era rigorosa. Os mais fortes tinham preferência, em especial os com alto nível de gordura corporal, pois tinham de suportar dias remando, com dieta rígida. Depois, foram adaptadas velas à canoa, o que aumentou sua autonomia.


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