São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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JUCA KFOURI

Ronaldinho, o extraterrestre

Só há uma explicação para deixar alguém como ele no banco de reservas: avareza, egoísmo. Ou então cegueira

RONALDINHO GAÚCHO não é mesmo jogador para a seleção brasileira. Nem para a espanhola, a argentina, a italiana ou a alemã.
Quem sabe seja para a seleção de Marte. Ou de Vênus, que perdeu os dedos e ficou com os anéis.
Porque os dedos o planeta deixou para o responsável pela seleção brasileira explicar as razões de sua ausência no time do Brasil. E haja dedos, hein, Dunga?
É bem provável que você leia estas mal traçadas já depois do jogo entre Barcelona e Inter.
Se Ronaldinho Gaúcho tiver feito a metade do que fez diante do América, sempre haverá alguém para dizer que ele é mesmo um jogador de clube.
E para perguntar, com ar perplexo para disfarçar a pouca imaginação, ou inteligência, por que ele não joga assim na seleção.
Se, ao contrário, ele não tiver ido bem, dirão que, definitivamente, não é jogador de decisão.
Digam o que disserem, amanhã, ao que tudo indica, Ronaldinho será aclamado pela terceira vez seguida como o melhor jogador do mundo.
E a pergunta sobre os motivos que o levam ao banco de reservas da seleção brasileira ganhará mais força. A resposta é simples e não invalida tudo de bom que Dunga vem fazendo como técnico da CBF.
Porque quem viu Ronaldinho participar do primeiro gol contra os mexicanos com um toque desconcertante de calcanhar, quem o viu marcar o terceiro gol, quem o viu passar para Deco marcar o quarto e quem o viu se livrar de três adversários e mandar por cobertura a bola ao travessão sabe que o problema não é de quem viu.
É de quem não vê.
Ora, se um técnico de futebol não é capaz de fazer com que o melhor jogador do mundo jogue o melhor futebol do mundo no seu time, o problema não é do jogador nem do torcedor. É do técnico, só dele, que, em nome do esporte que o abriga, deve reconhecer sua incapacidade, pedir seu boné e ir embora, não sem antes marcar hora no oculista.
E não é verdade que o Barcelona joga para Ronaldinho, algo impossível numa seleção pentacampeã mundial, embora ela mesma já tenha jogado, quando ganhou o tetra, para Romário.
O Barça não joga para Ronaldinho. Ronaldinho é que joga para o Barça, que o digam os embasbacados mexicanos. O que ele fez na última quinta-feira foi um recital em homenagem à bola, com requintes coletivos que lembraram a maravilhosa exibição da seleção brasileira diante dos argentinos na decisão da Copa das Confederações.
Mas na Copa da Alemanha...
Pois é. Cada vez fico mais convencido de que a razão de sua apatia foi mesmo o esgotamento físico e mental que o pegou de jeito na Copa do Mundo. A exemplo do que já tinha acontecido tanto com Zidane como com Verón, na Copa de 2002, então os dois maiores candidatos ao brilho e que chegaram à Ásia mortos. Este domingo me pega dividido.
Entre torcer para que o Inter tenha descoberto um meio de pará-lo sem ser a tiros ou bordoadas e a vontade de vê-lo desfilar seu imenso talento.
Vê-lo sorrir outra vez, como sorriu na quinta-feira, diferentemente dos jogos pela Copa do Mundo. Porque quem gosta de futebol, e de ganhar, não pode deixar de aplaudir este extraterrestre que está a exigir uma intervenção dura da Branca de Neve, sob o risco de ela perder o comando sobre seus anões.
Só há uma explicação aceitável para deixar Ronaldinho Gaúcho no banco: avareza, egoísmo, preservação de uma jóia tão rara que seu dono teme expor e prefere guardar só para si. Mesmo que isso lhe custe, além dos dedos, o pescoço.


blogdojuca@uol.com.br

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