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TOSTÃO
Futebol inventado
As jogadas do Ronaldinho, quando atua bem, são tão espetaculares e plásticas
que não parecem reais
A MAIORIA das pessoas vai ler
essa coluna após o jogo final
do Mundial de Clubes.
Por causa dos mistérios e da imprevisibilidade do futebol, coisas
inimagináveis poderão acontecer no
jogo.
Daí o fascínio desse esporte.
O mistério me encanta mais do
que a realidade. "O mistério é mais
que real." (Manoel de Barros)
Após o show do Barcelona contra
o América do México, grande número de jornalistas e torcedores que
quase só assistem aos jogos do Campeonato Brasileiro e da Copa do
Mundo descobriu que o futebol pode ainda ser bonito e eficiente.
Isso não significa que o Barcelona
joga sempre tão bem. Por isso e por
enfrentar um time mais forte, não
será zebra uma vitória do Internacional.
Se o Barcelona perder hoje e o Ronaldinho jogar mal, a equipe continuará superior à do Inter e o Ronaldinho não deixará de ser o melhor
do mundo, mesmo que não seja escolhido, por causa do desempenho
na Copa da Alemanha, o melhor do
ano pela Fifa.
Os times e jogadores precisam ser
avaliados pelo que fizeram na média
de suas atuações.
Como o Barcelona é um time que
arrisca -esse é um dos seus encantos-, não é tão difícil vencê-lo. Às
vezes sofre placares elásticos, como
o recente contra o Sevilla, um 3 a 0
na Supercopa da Europa. O mesmo
ocorria com o Santos de Pelé, a melhor equipe que vi atuar.
Os adversários do Barcelona costumam recuar para contra-atacar,
como tentou fazer o América do México.
Algumas vezes dá certo.
Poucos, como o Chelsea, que ganhou e empatou os dois últimos
confrontos contra o time catalão,
marcam mais na frente para evitar o
toque de bola do Barcelona, outro
dos seus encantos. O Inter deveria
tentar fazer o mesmo, sem violência.
O Inter precisa ter muito cuidado
para não perder a bola na sua intermediaria, como ocorreu com freqüência com o América. O Barcelona costuma marcar por pressão desde o início e decidir o jogo no primeiro tempo.
A melhor maneira de marcar o
Ronaldinho é o Inter não deixá-lo livre quando o time gaúcho estiver
com a bola.
Ao perdê-la, não dá tempo para o
defensor encostar no Ronaldinho,
pois a equipe catalã, quando recupera a bola, é muito rápida no passe para o jogador.
Além de jogar bonito e com eficiência, o Barcelona é um dos raros
times do mundo que atua com apenas um volante, dois meias habilidosos e rápidos que marcam e atacam e
mais três atacantes.
Apenas o centroavante Gudjohnsen atua fixo no ataque. Pela direita,
Giuly também recua para marcar.
Ronaldinho geralmente volta somente até a linha do meio-campo
para fechar esse espaço ou receber a
bola.
O Barcelona atua da maneira que
quase todos os treinadores do mundo dizem que não dá mais para jogar
no futebol de hoje. Além de campeão da Europa, o Barcelona é bicampeão e líder do campeonato espanhol. Está na hora de os técnicos
mudarem os seus conceitos.
Os motivos de o Ronaldinho jogar
melhor no Barcelona do que na seleção brasileira são a sua maneira e a
da equipe atuar, o forte conjunto do
time catalão e por ter adquirido na
Espanha o direito de jogar mal. O
restante é perfumaria. Deco, Xavi,
Iniesta e outros também jogam melhor no Barcelona do que nas suas
respectivas seleções.
As jogadas do Ronaldinho, quando ele atua bem, costumam ser tão
espetaculares, plásticas, surpreendentes e eficientes, que não parecem
reais. Seriam inventadas pela nossa
imaginação.
É a reinvenção do futebol.
tostao.folha@uol.com.br
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