São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MOTOR

Teoria e prática


Morte de Jacarepaguá expõe falta de força ou de vontade da entidade que deveria zelar pelo automobilismo no país


FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

TEORICAMENTE , no oitavo andar do prédio à rua da Glória, 290, no Rio de Janeiro, existe uma entidade chamada Confederação Brasileira de Automobilismo.
Teoricamente, como consta no estatuto, tal entidade tem como finalidades "dirigir, difundir e incentivar no país todas as modalidades desportivas automobilísticas", "promover, autorizar e fiscalizar a realização de campeonatos e torneios" e "representar e defender, perante os poderes públicos, os interesses legítimos do automobilismo nacional". Teoricamente, a CBA tem um presidente, Paulo Enéas Scaglione, um conselho técnico e, veja só, uma Comissão Nacional de Autódromos. Teoricamente é assim.
A ressalva porque não faltam razões práticas para duvidar de tudo. "Representar e defender (...) os interesses do automobilismo"? Na semana passada, Jacarepaguá morreu. Oficialmente. Porque já havia sido enterrado pelas retroescavadeiras que rasgaram espaço para três arenas do Pan-Americano.
O que ficou, e temerosamente recebeu algumas provas nesse meio tempo, foi um remendo amador, indecoroso, grosseiro e perigoso. Agora, a justificativa é a candidatura olímpica. Sim, a simples postulação aos Jogos -a quarta em 16 anos e provavelmente com destino idêntico às anteriores- foi capaz de destruir o pouco que havia restado. Um plano abstrato e etéreo do Comitê Olímpico Brasileiro teve mais forças que o asfalto sempre elogiado de Jacarepaguá e o concreto armado dos famosos boxes em formato de iglu. Mais forças que a CBA.
E esqueça a balela de que um novo autódromo será erguido no Rio, em Deodoro. Se a cidade tivesse vontade de ter um autódromo, não destruiria uma jóia como Jacarepaguá. E se a tal área em Deodoro fosse boa, o tal "centro olímpico" seria lá. Derrota fragorosa da CBA, portanto. O que só leva a duas conclusões.
Ou a CBA não tem forças ou não as utilizou, sei lá por que motivo. "Promover, autorizar e fiscalizar a realização de campeonatos"? Na tradicional limpeza dos e-mails da volta das férias, encontrei um comunicado da CBA, de 31 de julho do ano passado. "Fórmula Brasil 2000 estréia em Campo Grande".
Foi uma tentativa da CBA de promover uma categoria de monopostos para recém-saídos do kart, órfãos desde o fim da F-Renault, em 2006. Número de rodadas realizadas até hoje: uma. Bela promoção... "Dirigir, difundir e incentivar (...) as modalidades automobilísticas"?
No mês passado, a Linea (Liga Nacional de Esportes Automotor), uma liga independente, possibilidade aberta pela Lei Pelé, realizou uma prova de kart no Rio. Resultado: os pilotos participantes foram suspensos por 180 dias de eventos da CBA. Na prática, é assim. Bem diferente da teoria.

fseixas@folhasp.com.br


Texto Anterior: Reforço: Time muda camisa e mostra Lenny
Próximo Texto: Adriano impera em sua estréia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.