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Show do milhão
De olho na Copa, cidades abrem cofre
Antes mesmo de saberem se abrigarão jogos do Mundial do Brasil, favoritas e zebras iniciam festival de gastos sem licitação
Empresas de consultoria já possuem contratos de viabilidade técnica com governos e prefeituras que ultrapassam R$ 5 milhões
FELIPE BÄCHTOLD
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
Ainda sem garantias sobre
sua participação na Copa de
2014, que será realizada no Brasil, Estados e prefeituras abriram os cofres para tentar se garantir como sede. Os gastos vão
desde a contratação sem licitação de consultorias para elaboração de projetos até viagens e a
participação em eventos.
Duas multinacionais de consultoria vão receber, juntas,
mais de R$ 5 milhões para realizar estudos de viabilidade técnica das candidaturas. A Price
Waterhouse foi contratada em
Goiás, Pará e Rio Grande do
Norte. A Deloitte, no Amazonas e em Mato Grosso. Os governos dispensaram licitação.
Estão na disputa 18 cidades,
mas no máximo 12 serão sedes.
As despesas já ocorrem tanto
em azarões, como Rio Branco
(AC), quanto em favoritas. Na
última quinta, as candidatas
entregaram relatório básico à
Fifa. A escolha será em março.
Só em Natal (RN), os gastos
previstos para essa fase da candidatura são de R$ 3,5 milhões.
Em Goiás, há 15 dias, cinco
compras de serviços para a Copa consumiram R$ 1,2 milhão.
O Pará, que gastou R$ 2,1 milhões só em consultorias, mandou representante do comitê à
Itália para "registrar" o projeto.
A Prefeitura de Belém já realiza obras no entorno do Mangueirão, enquanto o governo do
Estado anunciou que vai ampliar uma via de acesso ao estádio e construir um terminal hidroviário -este último ao custo
de R$ 8 milhões somente em
sua primeira etapa.
Mato Grosso já anunciou
gastos superiores a R$ 1 milhão
com empresas de consultorias
e de arquitetura.
Rio Branco, a menor cidade
candidata, já consumiu R$ 350
mil -também sem licitação-
no projeto de reforma de seu
estádio, a Arena da Floresta.
Nome quase certo em 2014,
Minas prevê gastos de mais de
R$ 1 milhão em estudos de viabilidade técnica do estádio.
Já os governos estaduais do
Rio, da Bahia, do Ceará e de
Mato Grosso do Sul disseram
não terem desembolsado verbas para a elaboração de projetos de modernização de estádios, que deve ser feita por parcerias público-privadas.
Mas o governo do Ceará estima ter gasto até agora R$ 1,5
milhão, incluindo a contratação, sem exigência de licitação,
por R$ 36,2 mil, de uma promotora de eventos para uma feira.
A Bahia pagou R$ 500 mil à
Fundação Instituto de Administração da USP para ajudar
na escolha do projeto de reforma do estádio da Fonte Nova.
Alagoas não entregou relatório à Fifa por não ter os R$ 750
mil cobrados por um escritório
de arquitetura. "Se tivéssemos
certeza de ser sede, pagaríamos", disse Roberto Mendes,
secretário-adjunto de Esporte.
O advogado Ariosto Peixoto,
especialista em licitações, afirma que a lei prevê a dispensa da
concorrência devido ao grau de
especialidade da empresa contratada. Mas pode ser irregular,
diz, se outras companhias atuarem na mesma área.
"Esses contratos são frequentemente condenados no
Tribunal de Contas", diz. Ele
afirma ainda que a dispensa de
licitação é usada como forma
de acelerar contratações.
Estados que também pleiteiam ser sede da Copa disseram que não foi preciso contratar serviços de consultoria, como Santa Catarina, Rio Grande
do Sul e Paraná, além do Distrito Federal. Os comitês de São
Paulo, Curitiba e Florianópolis
informaram que os projetos foram elaborados por funcionários dos próprios governos e
que o gasto foi "mínimo".
Para Claudio Weber Abramo,
diretor-executivo da ONG
Transparência Brasil, as movimentações dos governos até
agora indicam que é preciso
"vigiar" para que não se repitam até 2014 os problemas do
Pan do Rio, como o estouro de
orçamentos. "As contratações
em si não são ilícitas, mas é
bom vigiar. Nesse processo
acontece muita coisa", afirma.
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