São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2009

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Show do milhão

De olho na Copa, cidades abrem cofre

Antes mesmo de saberem se abrigarão jogos do Mundial do Brasil, favoritas e zebras iniciam festival de gastos sem licitação

Empresas de consultoria já possuem contratos de viabilidade técnica com governos e prefeituras que ultrapassam R$ 5 milhões

FELIPE BÄCHTOLD
MATHEUS PICHONELLI

DA AGÊNCIA FOLHA Ainda sem garantias sobre sua participação na Copa de 2014, que será realizada no Brasil, Estados e prefeituras abriram os cofres para tentar se garantir como sede. Os gastos vão desde a contratação sem licitação de consultorias para elaboração de projetos até viagens e a participação em eventos.
Duas multinacionais de consultoria vão receber, juntas, mais de R$ 5 milhões para realizar estudos de viabilidade técnica das candidaturas. A Price Waterhouse foi contratada em Goiás, Pará e Rio Grande do Norte. A Deloitte, no Amazonas e em Mato Grosso. Os governos dispensaram licitação.
Estão na disputa 18 cidades, mas no máximo 12 serão sedes.
As despesas já ocorrem tanto em azarões, como Rio Branco (AC), quanto em favoritas. Na última quinta, as candidatas entregaram relatório básico à Fifa. A escolha será em março.
Só em Natal (RN), os gastos previstos para essa fase da candidatura são de R$ 3,5 milhões.
Em Goiás, há 15 dias, cinco compras de serviços para a Copa consumiram R$ 1,2 milhão.
O Pará, que gastou R$ 2,1 milhões só em consultorias, mandou representante do comitê à Itália para "registrar" o projeto.
A Prefeitura de Belém já realiza obras no entorno do Mangueirão, enquanto o governo do Estado anunciou que vai ampliar uma via de acesso ao estádio e construir um terminal hidroviário -este último ao custo de R$ 8 milhões somente em sua primeira etapa.
Mato Grosso já anunciou gastos superiores a R$ 1 milhão com empresas de consultorias e de arquitetura.
Rio Branco, a menor cidade candidata, já consumiu R$ 350 mil -também sem licitação- no projeto de reforma de seu estádio, a Arena da Floresta.
Nome quase certo em 2014, Minas prevê gastos de mais de R$ 1 milhão em estudos de viabilidade técnica do estádio.
Já os governos estaduais do Rio, da Bahia, do Ceará e de Mato Grosso do Sul disseram não terem desembolsado verbas para a elaboração de projetos de modernização de estádios, que deve ser feita por parcerias público-privadas.
Mas o governo do Ceará estima ter gasto até agora R$ 1,5 milhão, incluindo a contratação, sem exigência de licitação, por R$ 36,2 mil, de uma promotora de eventos para uma feira.
A Bahia pagou R$ 500 mil à Fundação Instituto de Administração da USP para ajudar na escolha do projeto de reforma do estádio da Fonte Nova.
Alagoas não entregou relatório à Fifa por não ter os R$ 750 mil cobrados por um escritório de arquitetura. "Se tivéssemos certeza de ser sede, pagaríamos", disse Roberto Mendes, secretário-adjunto de Esporte.
O advogado Ariosto Peixoto, especialista em licitações, afirma que a lei prevê a dispensa da concorrência devido ao grau de especialidade da empresa contratada. Mas pode ser irregular, diz, se outras companhias atuarem na mesma área.
"Esses contratos são frequentemente condenados no Tribunal de Contas", diz. Ele afirma ainda que a dispensa de licitação é usada como forma de acelerar contratações.
Estados que também pleiteiam ser sede da Copa disseram que não foi preciso contratar serviços de consultoria, como Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, além do Distrito Federal. Os comitês de São Paulo, Curitiba e Florianópolis informaram que os projetos foram elaborados por funcionários dos próprios governos e que o gasto foi "mínimo".
Para Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, as movimentações dos governos até agora indicam que é preciso "vigiar" para que não se repitam até 2014 os problemas do Pan do Rio, como o estouro de orçamentos. "As contratações em si não são ilícitas, mas é bom vigiar. Nesse processo acontece muita coisa", afirma.


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