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TÊNIS
O medo de ganhar
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
O francês Antony Dupuis é
o típico "boa praça". Filho
único, educado, mimado pelo pai
e pela mãe, começou a jogar tênis
aos nove anos. Com uma vida
confortável, não tinha "obrigação" de dar certo como tenista.
Aos 19 anos, porém, optou por
ser profissional. Mas não engrenava. Em 1995, Dupuis jogou apenas cinco partidas (perdeu quatro). No ano seguinte, jogou seis, e
em 1997, outras cinco. Aos 24, disputava torneios future com garotos mal saídos da puberdade.
Como ele gastava o tempo? Recuperando-se de lesões? Não. Dupuis, que faz 31 anos na terça, não
registrou na carreira nenhuma
contusão grave. Ele gastava o
tempo com seus hobbies: viagens
(em especial para Bora Bora),
mergulhos, jet ski, F-1...
Só em 1998, com 25 anos nas
costas, é que viu como seria vergonhoso gastar tanto tempo e energia em um trabalho que não lhe
dava retorno. Contratou um bom
técnico, Benoit Carelli, deixou de
ser aquele mimado que gostava
só de jogar e encarou treinos físicos e táticos. Já na temporada seguinte, foi às quartas em três ATP
Tours e terminou entre os cem
primeiros do ranking. Em 2000,
ganhou títulos de challengers.
Em 2001, disputou sua primeira
final. Começou ganhando os dois
sets do jogo em Munique contra o
tcheco Jiri Novak, mas não resistiu. "Não encontrei o ritmo de
uma decisão", limitou-se a dizer.
Neste domingo, pois, Dupuis teve outra chance. Depois de passar
pelo espanhol Feliciano Lopez,
pelo suíço Ivo Heuberger, pelo
russo Mikhail Iouzhny e pelo conterrâneo Gregory Carraz, encarou o croata Mario Ancic na final
de Milão.
Contendo o nervosismo, venceu
o primeiro set, com 6/2. No segundo set, equilibrado, a definição ficou para o tie-break. Aí, parecia
mesmo que o veterano Dupuis,
30, deixaria para trás o inexperiente Ancic, 19.
O francês abriu 6/2 e ficou a um
ponto de ganhar seu primeiro título importante. Com a mão suada, errou a primeira bola. "Ouvindo" o coração bater forte, perdeu o ponto seguinte. Com as pernas tremendo, não matou a outra
bola. Quando recobrou a consciência, viu Ancic fazer 14 a 12.
"Foi uma sensação estranha
quando comecei a sacar para fechar o jogo. Minhas mãos suavam, meu coração batia mais forte. Tudo estranho. Quando vi, o
segundo set já tinha ido", disse
Dupuis, ainda nervoso, em inglês.
O que fez então no terceiro set?
"Pensei: caramba, perdi o título.
Vou só tentar manter meu saque.
Assim, pelo menos, perco no tie-break e não faço feio."
A decisão foi para o tie-break, e
Dupuis teve um décimo match
point. Dessa vez, não desperdiçou. Fechou em 7/5 e, aí, sorriu,
atirou a raquete para cima, se jogou no chão, chorou... Fez, aos 30
anos, o que um jovem tenista faz
quando ganha o primeiro título.
"Sempre entro achando que
vou perder. Isso ajuda a relaxar e
a tirar o peso das costas", diz Dupuis. Sujeito estranho, você vai dizer. Que nada. No domingo, em
Milão, Dupuis deu um grande
salto. Não só ficou com o título,
mas, principalmente, perdeu o
medo de ganhar.
Boas atuações
Justamente na melhor partida que disputou em Viña del Mar, Gustavo Kuerten acabou derrotado. E Flávio Saretta continua engasgando
nos jogos decisivos.
Grande atração
Começa na segunda-feira, em pleno Carnaval, o Torneio da Costa do
Sauípe. Para que tem (um bom) dinheiro, é o evento ideal para ver
Kuerten e Carlos Moyá.
Excelente notícia
O Cepeusp, centro de práticas esportivas da USP, a mais prestigiosa
universidade brasileira, está com seis novas quadras de tênis. Nos
EUA, as universidades são celeiros. Aqui, por enquanto, não.
E-mail reandaku@uol.com.br
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