São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2007

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TOSTÃO

Dois craques diferentes


Entre Kaká e Ronaldinho, eu prefiro o atleta do Barcelona por ele ser artista, misterioso, surpreendente e incomum


ROBINHO DISSE que Fabio Capello não confia no seu futebol. Outros falam que o sonho do técnico do Real Madrid é trazer Kaká para o time espanhol, um jogador que une a técnica com o vigor físico e a disciplina tática.
Kaká é desejo de todos os treinadores. Muitos, talvez a maioria, como Dunga, o preferem a Ronaldinho Gaúcho. Em vez de ficar feliz em ter dois craques com características diferentes, Dunga parece querer que Ronaldinho faça o mesmo que Kaká.
Quando dá show, o futebol bonito de Ronaldinho é elogiado. Quando aparece pouco ou atua mal, ele é criticado por enfeitar demais e não ser objetivo. Escutei isso milhões de vezes, principalmente nas transmissões da TV Globo.
Tenho a impressão, posso estar enganado, de que a TV Globo vê com mais alegria o sucesso de Kaká que o de Ronaldinho. O jogador do Barcelona, como acontecia com Rivaldo, não fica tanto à disposição da emissora para fazer reportagens especiais.
Durante o recente amistoso contra Portugal, Galvão Bueno afirmou que o irmão e procurador de Ronaldinho (Assis) dificulta o relacionamento do jogador. O narrador não foi explícito. O problema seria com a Globo?
Na Copa do Mundo de 2006, Ronaldinho e Kaká tiveram péssimas atuações. Por ter sido eleito duas vezes o melhor do mundo, Ronaldinho foi mais criticado, o que era esperado. Mesmo assim, acho que a imprensa e os torcedores foram mais duros com ele.
Pelo fato de Kaká ser um jogador mais vigoroso, ter bastante mobilidade e aparecer muito no jogo, mesmo quando atua mal, a sua apática atuação, embora tenha sido menos frustrante, foi tão ou mais surpreendente que a de Ronaldinho.
Além disso, após os amistosos na Suíça e antes do Mundial, muitos, como Zagallo, diziam que Kaká estava "voando" e que ele seria o grande astro da Copa. Já Ronaldinho dava sinais de que teria muitas dificuldades no Mundial.
Os que preferem Kaká a Ronaldinho argumentam que brilhar no Campeonato Italiano é muito mais difícil. Isso já era. Hoje, na média, os times da Espanha marcam mais e são melhores que os da Itália. Semanas atrás, a média de gols na Espanha era a mais baixa dos campeonatos nacionais da Europa.
As pessoas que só assistem aos gols ou aos melhores momentos do time catalão querem que Ronaldinho faça sempre as mesmas jogadas espetaculares na seleção.
Em muitas partidas que Ronaldinho é chamado de mágico na Espanha, ele seria criticado no Brasil. Diriam que ele fez somente duas belas jogadas.
Se tivesse que escolher entre Kaká e Ronaldinho, dois craques, não teria dúvidas que seria Ronaldinho. Kaká é mais técnico, mais racional, mais vigoroso, mais disciplinado, mais previsível e mais comum. Ronaldinho, além da técnica e eficiência, é mais artista, mais surpreendente, mais misterioso e incomum.
Kaká pensa e depois faz. Ronaldinho faz, por intuição ou sei lá como, e depois pensa, se quiser, no que fez.

Altitude
O Flamengo está certo em protestar e em não querer jogar mais em lugares tão altos, com quase 4.000 m. O protesto não foi fora de hora. Uma coisa é saber os problemas da altitude. Outra é vivê-los. Nos anos 60, o Cruzeiro atuou em La Paz e os jogadores já saíam durante o jogo para respirar mais oxigênio. Na véspera, ao chegar ao hotel, o saudoso massagista Nocaute Jack, campeão de luta livre, subiu um andar pelas escadas com um saco de material de jogo nas costas para mostrar aos jogadores que o problema era psicológico. Chegou e desmaiou.

tostao.folha@uol.com.br


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