São Paulo, quarta, 18 de fevereiro de 1998

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OLIMPÍADA
Competição mais esperada de Nagano exibe novo confronto entre patinadoras norte-americanas
Duelo no gelo

RÉGIS ANDAKU
Editor-assistente interino de Esporte

Criada em 1924 como ""filha desprezada" dos Jogos Olímpicos e ignorada até recentemente, a Olimpíada de Inverno atingiu o sucesso. E o motivo é que o evento ganhou cara de competição.
Antes aclamada como palco de uma disputa longínqua e secundária, ela tem agora ares de grandes duelos e rivalidade exacerbada.
Como exemplo, duas americanas que saíram dos rinques de patinação para a fama: Nancy Kerringan e Tonya Harding.
Há quatro anos, antes da Olimpíada de Lillehammer (Noruega), o marido de Harding liderou um atentado contra as pernas de Kerrigan. Com uma barra de ferro, Jeff Gillooly agrediu os joelhos da patinadora artística.
A trama foi descoberta, os culpados foram punidos, Kerrigan foi à Noruega, e 110 milhões de americanos a viram, pela TV, perder o ouro para a ucraniana Oksana Baiul, colocando a patinação artística na lista dos dez programas mais vistos no mundo na ocasião.
Hoje, começa a disputa nos rinques de Nagano a competição mais aguardada desta Olimpíada.
E, sem Kerringan (28, em casa, com o marido e o filho) nem Harding (27, suspensa pelo resto da vida e separada do marido agressor), duas outras norte-americanas são as protagonistas.
Michelle Kwan, 17, e Tara Lipinski, 15, não chegaram às vias de fato, mas, inimigas não declaradas, pouco se esforçam para dirimir as constantes insinuações de que têm ódio uma pela outra.
Velocidade máxima
Lipinski e Kwan se evitam. A última, campeã mundial em 96 e atual campeã norte-americana, não foi à cerimônia de abertura em Nagano. Lipinski, hoje campeã mundial e campeã americana da última temporada, foi.
""Não fui porque estava na companhia de pessoas bastante agradáveis em casa", disse Kwan.
O primeiro encontro em Nagano só ocorreu, por força da necessidade, quando ambas foram testar o rinque que abrigará a disputa.
E nem isso foi amistoso. Uma hora, quando Kwan descansava, Lipinski foi em sua direção em alta velocidade. No momento em que cerca de cem jornalistas e fotógrafos registrariam o choque, Lipinski, a cerca de dois metros e meio da rival, desviou. Assustada, Kwan deu um passo para trás.
Guerra verbal
Enquanto Lipinski usa seu lado mais ""moleque" para provocar Kwan, esta prefere as declarações.
""Não sei até quando ela vai competir, mas, enquanto competir, estarei lá. Acho que seremos rivais, espécie de inimigas, por pelo menos 25 anos", disse certa vez.
A frase mais famosa foi proferida pouco antes do torneio nacional de 97, em Nashville: ""A única que pode me derrotar sou eu".
Dias depois, Kwan completou com imperfeição uma pirueta e perdeu para Lipinski.
Fala a mais jovem: ""Não sei por que me relacionam tanto assim com ela. Tirando o fato de que ambas querem ser a melhor, não há nada em comum".
Rebate Kwan: ""Só paro quando não houver nenhuma dúvida de que eu sou a melhor".
Por conta dessa rivalidade, a Federação Americana de Patinação fechou contrato de US$ 100 milhões com a rede de TV ABC, que exibirá os duelos por dez anos.


Com agências internacionais


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