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"Sem minhas amizades, seria difícil contratar"
Para dirigente, rebaixamento complicou reformulação de elenco do Corinthians
Caio Guatelli/Folha Imagem
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Antônio Carlos, no Parque São Jorge |
O CORINTHIANS que está entre os quatro
melhores do Paulista e demonstra ser
competitivo tem a cara de Mano Menezes. Mas foi forjado graças à rede de relacionamentos que o diretor técnico Antônio Carlos Zago diz ter construído como atleta. Ele conta que, sem
boas relações, não teria montado o elenco atual.
Em entrevista à Folha, o cartola afirma que, após a queda
do clube para a Série B, ficou
mais difícil convencer jogadores a vestir a camisa corintiana.
Antônio Carlos, 38, comentou
também sobre o gesto racista
que fez para o volante Jeovânio, hoje no Valenciennes, da
França, ainda quando atuava
pelo Juventude como zagueiro.
FOLHA - Como você avalia o time
que ajudou a montar?
ANTÔNIO CARLOS - Até agora está
sendo feito um bom trabalho. A
intenção era contratar jogadores que encarassem este ano difícil que temos pela frente. Não
é fácil você, não digo convencer, mas contratar jogadores
que praticamente estavam em
equipes da Série A e trazer para
jogar a Série B do Brasileiro.
FOLHA - Na sua nova função, alguma coisa já o surpreendeu?
ANTÔNIO CARLOS - O que mais
me surpreende é que esse cargo
causou muita inveja. Eu tive
que conviver com isso. Pessoas
falando mal de você, pessoas
que você conhece.
FOLHA - Como vê o caso que em
que foi acusado de racismo?
ANTÔNIO CARLOS - Espero que as
pessoas esqueçam isso, porque
aquele ali não era o Antônio
Carlos. Naquele dia, eu saí de
campo com muita vergonha daquilo que eu tinha feito. Eu me
arrependi mesmo. Houve uns
três, quatro episódios na minha
carreira de que eu me arrependo. Na Itália, houve uma vez
que cuspi no Simeone. Peguei
quatro jogos. Mas me arrependi na hora. Ele era um cara chato, só que era legal fora de campo. E, uma semana depois, encontrei-o com a mulher. Não
sabia onde enfiar a cara. Pedi
desculpas a ela. Ela disse que
não tinha problema porque conhecia bem o marido que tinha.
FOLHA - Pediu desculpas ao Jeovânio pelo gesto que fez?
ANTÔNIO CARLOS - Ele não aceitou. Pelo que me falaram, foi
mais a mulher dele que não deixou ele aceitar. Depois, parei.
Você vai atrás e não consegue
falar com o cara. Deixei de lado.
FOLHA - Quais foram as conseqüências judiciais do caso?
ANTÔNIO CARLOS - Eu tenho que
me apresentar todo mês no fórum. Eu assino um termo, uma
folha. Se eu deixar o país, tenho
que avisar. Isso é por quatro
anos. Já foram dois anos.
FOLHA - Acha que essa é uma punição justa?
ANTÔNIO CARLOS - Eu acho que
foi, mas quiseram me pegar como bode expiatório para dar
exemplo para todos. Eu fiz um
gesto infeliz. Só que, às vezes, a
pessoa mata e não é punida.
FOLHA - Qual o índice de acerto das
contratações do Corinthians?
ANTÔNIO CARLOS - Você não contrata só para eles jogarem mas
também para formar um grupo.
E esse grupo fez com que o
Dentinho melhorasse seu futebol. Carlão apareceu. E muito.
O Bruno Octávio, outro atleta
da base, também vinha bem.
FOLHA - Mas qual a porcentagem
do acerto nos reforços?
ANTÔNIO CARLOS - Não sei, uns
80%. E esses 20% não é que erramos, mas são jogadores que
ainda não tiveram chance de jogar ou não tiveram seqüência.
FOLHA - Agora está mais fácil contratar do que após o rebaixamento?
ANTÔNIO CARLOS - A imagem do
Corinthians hoje é bem diferente. Aquela imagem do rebaixamento prejudicou muito. Se
eu não tivesse um bom relacionamento com os jogadores que
contratamos, eu acho que teria
dificultado. Muitos que jogaram comigo foram assediados
por outras equipes, mas preferiram vir para o Corinthians,
como o Alessandro, o Chicão, o
Bóvio. O William eu não conhecia, mas o representante dele
sim, na época em que eu era jogador do São Paulo, e ele, diretor lá. É o Pérsio Rainho [conselheiro são-paulino]. Isso contou bastante.
FOLHA - Você pensa sobre como ficará sua situação ao fim do mandato de Andres Sanchez?
ANTÔNIO CARLOS - Infelizmente
minha amizade com o Andres
não foi vista com bons olhos.
Até pelo fato de outras pessoas
quererem o cargo que é meu.
Isso fez com que o Andres até
brigasse com algumas pessoas
que ele conhecia há algum tempo. O Andres não me trouxe só
por nossa amizade, mas pela
minha competência também.
Todo mundo tem um começo.
O meu foi bem mais difícil por
ser no Corinthians e com a
equipe rebaixada para a Série B.
FOLHA - Para o cargo, é fundamental ter sido jogador?
ANTÔNIO CARLOS - Não digo fundamental, mas ajuda. O vestiário do futebol é bem diferente
do de basquete, de vôlei.
FOLHA - Como é sua rotina?
ANTÔNIO CARLOS - Não sou obrigado a ir a todos os jogos. Eu tenho que ver vídeos, conversar
com jogadores, ver quando terminam contratos. De manhã e
de tarde, estou aqui [no clube].
Falo a toda hora com o Mário
[Gobbi]. Com o Andres, pelo
menos uma vez por dia, mas para saber se está tudo bem. Não
para passar problemas. Quem
tem que falar com o Andres é o
Mário. Tem uma hierarquia.
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