São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2008

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"Sem minhas amizades, seria difícil contratar"

Para dirigente, rebaixamento complicou reformulação de elenco do Corinthians

Caio Guatelli/Folha Imagem
Antônio Carlos, no Parque São Jorge


O CORINTHIANS que está entre os quatro melhores do Paulista e demonstra ser competitivo tem a cara de Mano Menezes. Mas foi forjado graças à rede de relacionamentos que o diretor técnico Antônio Carlos Zago diz ter construído como atleta. Ele conta que, sem boas relações, não teria montado o elenco atual.
Em entrevista à Folha, o cartola afirma que, após a queda do clube para a Série B, ficou mais difícil convencer jogadores a vestir a camisa corintiana. Antônio Carlos, 38, comentou também sobre o gesto racista que fez para o volante Jeovânio, hoje no Valenciennes, da França, ainda quando atuava pelo Juventude como zagueiro.  

FOLHA - Como você avalia o time que ajudou a montar?
ANTÔNIO CARLOS -
Até agora está sendo feito um bom trabalho. A intenção era contratar jogadores que encarassem este ano difícil que temos pela frente. Não é fácil você, não digo convencer, mas contratar jogadores que praticamente estavam em equipes da Série A e trazer para jogar a Série B do Brasileiro.

FOLHA - Na sua nova função, alguma coisa já o surpreendeu?
ANTÔNIO CARLOS -
O que mais me surpreende é que esse cargo causou muita inveja. Eu tive que conviver com isso. Pessoas falando mal de você, pessoas que você conhece.

FOLHA - Como vê o caso que em que foi acusado de racismo?
ANTÔNIO CARLOS -
Espero que as pessoas esqueçam isso, porque aquele ali não era o Antônio Carlos. Naquele dia, eu saí de campo com muita vergonha daquilo que eu tinha feito. Eu me arrependi mesmo. Houve uns três, quatro episódios na minha carreira de que eu me arrependo. Na Itália, houve uma vez que cuspi no Simeone. Peguei quatro jogos. Mas me arrependi na hora. Ele era um cara chato, só que era legal fora de campo. E, uma semana depois, encontrei-o com a mulher. Não sabia onde enfiar a cara. Pedi desculpas a ela. Ela disse que não tinha problema porque conhecia bem o marido que tinha.

FOLHA - Pediu desculpas ao Jeovânio pelo gesto que fez?
ANTÔNIO CARLOS -
Ele não aceitou. Pelo que me falaram, foi mais a mulher dele que não deixou ele aceitar. Depois, parei. Você vai atrás e não consegue falar com o cara. Deixei de lado.

FOLHA - Quais foram as conseqüências judiciais do caso?
ANTÔNIO CARLOS -
Eu tenho que me apresentar todo mês no fórum. Eu assino um termo, uma folha. Se eu deixar o país, tenho que avisar. Isso é por quatro anos. Já foram dois anos.

FOLHA - Acha que essa é uma punição justa?
ANTÔNIO CARLOS -
Eu acho que foi, mas quiseram me pegar como bode expiatório para dar exemplo para todos. Eu fiz um gesto infeliz. Só que, às vezes, a pessoa mata e não é punida.

FOLHA - Qual o índice de acerto das contratações do Corinthians?
ANTÔNIO CARLOS -
Você não contrata só para eles jogarem mas também para formar um grupo. E esse grupo fez com que o Dentinho melhorasse seu futebol. Carlão apareceu. E muito. O Bruno Octávio, outro atleta da base, também vinha bem.

FOLHA - Mas qual a porcentagem do acerto nos reforços?
ANTÔNIO CARLOS -
Não sei, uns 80%. E esses 20% não é que erramos, mas são jogadores que ainda não tiveram chance de jogar ou não tiveram seqüência.

FOLHA - Agora está mais fácil contratar do que após o rebaixamento?
ANTÔNIO CARLOS -
A imagem do Corinthians hoje é bem diferente. Aquela imagem do rebaixamento prejudicou muito. Se eu não tivesse um bom relacionamento com os jogadores que contratamos, eu acho que teria dificultado. Muitos que jogaram comigo foram assediados por outras equipes, mas preferiram vir para o Corinthians, como o Alessandro, o Chicão, o Bóvio. O William eu não conhecia, mas o representante dele sim, na época em que eu era jogador do São Paulo, e ele, diretor lá. É o Pérsio Rainho [conselheiro são-paulino]. Isso contou bastante.

FOLHA - Você pensa sobre como ficará sua situação ao fim do mandato de Andres Sanchez?
ANTÔNIO CARLOS -
Infelizmente minha amizade com o Andres não foi vista com bons olhos. Até pelo fato de outras pessoas quererem o cargo que é meu. Isso fez com que o Andres até brigasse com algumas pessoas que ele conhecia há algum tempo. O Andres não me trouxe só por nossa amizade, mas pela minha competência também. Todo mundo tem um começo. O meu foi bem mais difícil por ser no Corinthians e com a equipe rebaixada para a Série B.

FOLHA - Para o cargo, é fundamental ter sido jogador?
ANTÔNIO CARLOS -
Não digo fundamental, mas ajuda. O vestiário do futebol é bem diferente do de basquete, de vôlei.

FOLHA - Como é sua rotina?
ANTÔNIO CARLOS -
Não sou obrigado a ir a todos os jogos. Eu tenho que ver vídeos, conversar com jogadores, ver quando terminam contratos. De manhã e de tarde, estou aqui [no clube]. Falo a toda hora com o Mário [Gobbi]. Com o Andres, pelo menos uma vez por dia, mas para saber se está tudo bem. Não para passar problemas. Quem tem que falar com o Andres é o Mário. Tem uma hierarquia.


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