São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JOSÉ ROBERTO TORERO

Meu querido inimigo


Será que, em tempos de globalização e incorporação, não é necessário rivais se unirem para não morrer?


VOCÊ JÁ VIU este filme. Há dois sujeitos que se detestam. Cada um tem o seu charme, mas, por algum motivo, eles se odeiam. Porém surge um terceiro homem, poderoso e malévolo, e os dois primeiros acabam se unindo para destruí-lo.
Os tais dois ex-inimigos podem ser caubóis, espiões, cavaleiros andantes, soldados, jornalistas, golpistas, qualquer coisa. É um enredo que se encaixa em várias histórias. Até no futebol. Há, por exemplo, o caso do Colorado Esporte Clube e do Esporte Clube Pinheiros. Eram times simpáticos e haviam conquistado uns poucos títulos. Mas não tinham força suficiente para ombrear com os gigantes de sua cidade: Coritiba e Atlético. Então se fundiram e deram origem ao Paraná Clube, que, em menos de 20 anos, já ganhou sete Estaduais.
Fico pensando se outros clubes rivais, outros inimigos, também não poderiam dar as mãos para crescer. Há várias cidades que não comportam dois ou três times. Um rouba torcida do outro e nenhum deles consegue se tornar realmente forte.
Rio Preto, por exemplo, tem o próprio Rio Preto e o América. São clubes inimigos, é claro, mas será que, caso juntassem forças, não conseguiriam formar um grande time? Torcedores de ambos os clubes vão me xingar, eu sei, vão dizer que há uma separação histórica, que um não pode conviver com o outro. A esses eu responderia que até Maluf e Lula já se uniram contra um inimigo comum (pensando bem, este foi um exemplo infeliz).
De qualquer forma, Rio Preto é uma cidade com mais de 400 mil habitantes (e sua microrregião chega a quase 800 mil). Bem poderia ter um time poderoso, daqueles que incomodam o Trio de Ferro. Mas não. As duas equipes dividem forças, torcedores e dinheiro. O resultado é que atualmente os dois estão perto do rebaixamento, um na primeira e outro na segunda divisão do Paulista.
Botafogo e Comercial são mais um exemplo. Por que os dois não passam a se chamar Ribeirão Preto (ou Pinguim, em homenagem ao célebre bar da cidade) e juntam suas forças? Por que, em vez de ter dois times na segunda divisão, a cidade não tem um na primeira? É claro que a longa inimizade entre os dois é divertida, mas será que este tempo não passou? Será que, em tempos de globalizações e incorporações, não é necessário se unir para não morrer?
Saindo de SP: será que um Florianópolis Futebol Clube não iria mais longe que Avaí e Figueirense? É claro que a cidade perderia seu grande clássico, mas ganharia um time com capacidade de se manter na primeira divisão do Brasileiro.
E, em Maceió, o Clube de Regatas Brasil e o Clube Sportivo Alagoano, vulgos CRB e CSA, não poderiam unir suas siglas? É claro que o nome ficaria horrível, algo como Clube Sportivo de Regatas Alagoano do Brasil, CSRAB, mas a equipe poderia almejar a um certo domínio regional, duelando com as equipes de Salvador, Fortaleza e Recife.
Enfim, parece-me que cidades brasileiras com menos de 1 milhão de habitantes não têm capacidade para sediar dois times fortes. Mas será que vale a pena unir-se ao inimigo? Ou será melhor definhar ao seu lado, apenas pela possibilidade de vê-lo morrer primeiro?

torero@uol.com.br


Texto Anterior: Boxe: Brasileiros caem em semifinais de pré-olímpico
Próximo Texto: Calendário alivia dor da Ferrari
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.