São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2008

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Governo contraria COB e traça metas

Principal mecenas do esporte no país, ministério espera que o país fique entre o 16º e o 20º lugar nos Jogos de Pequim

Avesso a projeções, comitê diz que "o mais importante é dar suporte à evolução técnica" e, de novo, nega-se a citar número de medalhas


EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério do Esporte, principal mecenas do esporte nacional, produziu um programa de metas para as três próximas Olimpíadas, a começar por Pequim, em agosto. A iniciativa da pasta, responsável pelas leis Piva e de incentivo fiscal e por projetos como o Bolsa-Atleta, é um choque contra uma tradição do Comitê Olímpico Brasileiro: não realizar projeções.
As metas são produto de um inédito Plano Nacional de Desenvolvimento do Esporte, projeto de longo prazo desenhado pelo ministério, que engloba rendimento, inclusão social, infra-estrutura e desenvolvimento institucional, com previsão de ações intercaladas.
Segundo o ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., para a edição deste ano dos Jogos, a expectativa da pasta é que a delegação brasileira, que em Atenas obteve a 16ª colocação, melhore a posição na classificação.
""Em Pequim, os efeitos da política pública de esporte, que engloba leis, o programa Bolsa-Atleta e patrocínios estatais, como o da Petrobras via lei de incentivo, já poderão, espero, ser sentidos", afirma Silva Jr.
O documento produzido pela Secretaria Nacional de Alto Rendimento do ministério é menos exigente. Prevê em Pequim o país do 16º ao 20º lugar, igualando o posto de Atenas-2004 ou aproximando-se dele.
Para Londres-12, a idéia é o Brasil melhorar sua posição no top 20, colocando-se entre o 11º e o 15º lugar. O plano abrange até os Jogos de 2016, quando a previsão é que o país atinja a décima colocação, a mesma do Reino Unido na última edição da Olimpíada, em Atenas.
Nos Jogos da Grécia, os britânicos conquistaram 9 ouros, 9 pratas e 11 bronzes. Ao ganhar 5 ouros, 2 pratas e 3 bronzes, o Brasil obteve a 16ª posição.
O ministério, no entanto, admite que planejamento esportivo não é uma ciência exata.
""É a nossa expectativa. Mas precisamos ver como a delegação brasileira se comporta em Pequim", ressalva Silva Jr.
Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, entidade que centraliza o recebimento do dinheiro da Lei Piva e que decide o quinhão da verba das loterias que cada confederação esportiva terá direito anualmente, não faz previsões sobre medalhas.
O COB, via assessoria, diz que ""o mais importante [para o comitê] é dar suporte à evolução técnica e ao aumento qualitativo da participação brasileira [nos Jogos], independente do número de medalhas". Sobre a projeção da pasta, alega desconhecer "critérios, argumentações e projeção do ministério para realizar análise".
Antes de definir metas a longo prazo, o ministério estudou o desempenho do Brasil nas diferentes edições dos Jogos.
""No papel, queremos que o país se consolide como top 20 em Pequim. Planejamos cinco ouros e posição entre 16º e 20º. Mas a posição pode até ser melhor, após anos de investimento consistente e considerável", diz o secretário nacional de Alto Rendimento, Djan Madruga.
""Os repasses governamentais de 2001 a 2006 ao COB via Lei Piva atingiram R$ 332 milhões. E ao Comitê Paraolímpico Brasileiro, R$ 59 milhões."
A exemplo do que fazem Cuba e países europeus, a médio e longo prazo, a secretaria direcionará atenção especial a esportes que rendem amplo número de medalhas: lutas em geral, ciclismo, canoagem e remo.
Outros esportes, bastante badalados, também precisariam de tratamento diferenciado.
""A natação não fez a transição da geração de prata para a de ouro, coisa que o vôlei fez. E o rico histórico do atletismo não registra medalha de ouro recentemente", diz Madruga.
Um outro ponto contemplado no projeto é o desenvolvimento científico e tecnológico.
""O Brasil precisa dar esse salto. Desenvolver a ciência do esporte e melhorar as praças esportivas", fala o secretário, ao lembrar que atletas da luta greco-romana e do atletismo já fizeram uso do centro de treinamento em altitude, aberto neste ano em Itamonte (MG), numa parceria entre os governos federal, estadual e municipal.
A estrutura, dizem os atletas que a usaram, ainda é rústica. Conta com pousada e academia, mas a idéia é ampliá-la.
""Centros de treinamento por modalidade ou multidisciplinares são fundamentais. Não cabe que a natação e a vela não tenham CT. Em 2016, queremos um centro olímpico nacional", complementa Madruga.
Na questão tecnológica, a pasta buscou subsídios no Instituto Australiano do Esporte e já estuda como implantá-los.


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