São Paulo, domingo, 18 de abril de 2010

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Base santista floresce após Neymar

Ao lançar mais revelações no profissional, Santos torna-se alvo de jovens jogadores, que vêm de longe e de times rivais

Clube tem estrutura mais precária que outros grandes nas categorias inferiores, mas compensa ao priorizar técnica no garimpo de atletas

RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS

Uma bola cai junto da grade do CT Meninos da Vila durante treino do time sub-17. O goleiro santista esquece o treino, vai pegá-la e a coloca ao lado da trave. Quer evitar um furto, comum quando garotos da favela se posicionam atrás do campo.
É em dois gramados com alguns pontos carecas e irregulares, cercados por uma comunidade carente no bairro do Saboó, que o Santos lapida seus novatos até os 17 anos.
Sua estrutura das divisões de base é inferior às de São Paulo, Corinthians e Palmeiras, que têm mais campos e alojamentos acoplados para os garotos. As instalações santistas são na Vila Belmiro, onde há sala de musculação e áreas de lazer.
Mas é o time da Baixada o responsável pelas maiores revelações do atual futebol brasileiro: Neymar e Paulo Henrique Ganso. São sucessores da geração anterior, de Diego e Robinho, que dão nomes aos gramados do CT da base.
Explica-se: o Santos dá mais liberdade, mais chances e trata com mais carinho os garotos.
"Vim do São Paulo. Saí de lá porque não sobe ninguém. Não tem jogador no profissional. A base é muito sem privilégio", conta o beque Paulo Henrique, 17, que trocou o clube paulistano pelo da Baixada há um ano. "Aqui a relação é muito mais próxima com o profissional."
O time sub-17 treina com frequência com o profissional. O sub-20 tem o campo permanente no mesmo CT da equipe de cima. O técnico Dorival Jr. intensificou o diálogo.
Sem dinheiro para grandes contratações, o Santos é quem mais apela à base entre os grandes paulistas. No elenco atual, são 13 dos 36 jogadores. Todas as principais estrelas foram formadas no clube.
"A procura para jogar no Santos é muito grande. Sabem que o clube valoriza o que é feito aqui", analisa o coordenador da divisão de base, Bebeto. "Trabalhamos jogadores para sustentar o time profissional, não para vendê-los novos."
Assim, atletas de São Paulo, Corinthians e Palmeiras já foram para o Santos. Da Cabofriense, veio André. A maioria chega por indicação: o jogador é testado e, se convencer, fica.
Meia hora ao lado do coordenador da base é o suficiente para vê-lo receber convite para peneira no Ceará. O evento será promovido só para o observador santista, que viaja com tudo pago pelo organizador.
A estimativa do Santos é que em torno de 60% dos jogadores sejam de fora da cidade-sede.
A porta de entrada do Santos é a técnica do jogador, critério classificado como "fundamental". "Me acharam no futsal", relata o meia Emerson, 16, que já serviu a seleção nacional.
Não há preferência por atletas altos. Mas, óbvio, zagueiros e goleiros têm mais estatura.
"Temos liberdade para escolher o esquema tático. Tentamos usar mais o 4-4-2 para formar meias e laterais, que vão ser mais úteis", diz o técnico do sub-17, Claudinei Oliveira.
Nas categorias inferiores ao sub-15, o treinamento é lúdico, como ocorre em outros clubes. Ou seja, é possível ver garotos jogando rúgbi no time abaixo de 13 anos como em uma tarde desta última semana. "O sujeito tem que sentir prazer no que faz", defendeu Bebeto.
Em comum em todas as divisões, estão os penteados com cabelo raspado na lateral e o moicano. Símbolo do Santos caseiro, Neymar não sai mesmo da cabeça dos garotos.


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