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Base santista floresce após Neymar
Ao lançar mais revelações no profissional, Santos torna-se alvo de jovens jogadores, que vêm de longe e de times rivais
Clube tem estrutura mais precária que outros grandes nas categorias inferiores, mas compensa ao priorizar técnica no garimpo de atletas
RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS
Uma bola cai junto da grade
do CT Meninos da Vila durante
treino do time sub-17. O goleiro
santista esquece o treino, vai
pegá-la e a coloca ao lado da trave. Quer evitar um furto, comum quando garotos da favela
se posicionam atrás do campo.
É em dois gramados com alguns pontos carecas e irregulares, cercados por uma comunidade carente no bairro do Saboó, que o Santos lapida seus
novatos até os 17 anos.
Sua estrutura das divisões de
base é inferior às de São Paulo,
Corinthians e Palmeiras, que
têm mais campos e alojamentos acoplados para os garotos.
As instalações santistas são na
Vila Belmiro, onde há sala de
musculação e áreas de lazer.
Mas é o time da Baixada o
responsável pelas maiores revelações do atual futebol brasileiro: Neymar e Paulo Henrique Ganso. São sucessores da
geração anterior, de Diego e
Robinho, que dão nomes aos
gramados do CT da base.
Explica-se: o Santos dá mais
liberdade, mais chances e trata
com mais carinho os garotos.
"Vim do São Paulo. Saí de lá
porque não sobe ninguém. Não
tem jogador no profissional. A
base é muito sem privilégio",
conta o beque Paulo Henrique,
17, que trocou o clube paulistano pelo da Baixada há um ano.
"Aqui a relação é muito mais
próxima com o profissional."
O time sub-17 treina com frequência com o profissional. O
sub-20 tem o campo permanente no mesmo CT da equipe
de cima. O técnico Dorival Jr.
intensificou o diálogo.
Sem dinheiro para grandes
contratações, o Santos é quem
mais apela à base entre os grandes paulistas. No elenco atual,
são 13 dos 36 jogadores. Todas
as principais estrelas foram
formadas no clube.
"A procura para jogar no Santos é muito grande. Sabem que
o clube valoriza o que é feito
aqui", analisa o coordenador da
divisão de base, Bebeto. "Trabalhamos jogadores para sustentar o time profissional, não
para vendê-los novos."
Assim, atletas de São Paulo,
Corinthians e Palmeiras já foram para o Santos. Da Cabofriense, veio André. A maioria
chega por indicação: o jogador é
testado e, se convencer, fica.
Meia hora ao lado do coordenador da base é o suficiente para vê-lo receber convite para
peneira no Ceará. O evento será
promovido só para o observador santista, que viaja com tudo
pago pelo organizador.
A estimativa do Santos é que
em torno de 60% dos jogadores
sejam de fora da cidade-sede.
A porta de entrada do Santos
é a técnica do jogador, critério
classificado como "fundamental". "Me acharam no futsal",
relata o meia Emerson, 16, que
já serviu a seleção nacional.
Não há preferência por atletas altos. Mas, óbvio, zagueiros
e goleiros têm mais estatura.
"Temos liberdade para escolher o esquema tático. Tentamos usar mais o 4-4-2 para formar meias e laterais, que vão
ser mais úteis", diz o técnico do
sub-17, Claudinei Oliveira.
Nas categorias inferiores ao
sub-15, o treinamento é lúdico,
como ocorre em outros clubes.
Ou seja, é possível ver garotos
jogando rúgbi no time abaixo
de 13 anos como em uma tarde
desta última semana. "O sujeito
tem que sentir prazer no que
faz", defendeu Bebeto.
Em comum em todas as divisões, estão os penteados com
cabelo raspado na lateral e o
moicano. Símbolo do Santos
caseiro, Neymar não sai mesmo
da cabeça dos garotos.
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