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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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Sars segura brasileiros na China

RICARDO WESTIN
DA SUCURSAL DO RIO

Não foi registrado nenhum caso de pneumonia asiática entre os cerca de 500 brasileiros que moram na China. Mesmo assim, pelo menos 12 deles estão se vendo obrigados a viver uma espécie de quarentena. Eles são jogadores de futebol e não podem deixar o país, epicentro da doença.
É o caso do zagueiro Lula, da equipe Qingdao: "Meu passaporte está em ordem e posso comprar as passagens de volta para o Brasil quando quiser. O problema é que tenho um contrato com o clube, e eles não querem me liberar para fugir dessa pneumonia".
Assim que o surto de Sars (síndrome respiratória aguda grave, na sigla em inglês) alcançou proporções alarmantes, os chineses passaram a fugir de lugares onde houvesse pessoas aglomeradas.
Por isso, todos os torneios esportivos que seriam disputados em território chinês foram suspensos por tempo indeterminado. O país mal pôde sentir o gosto do campeonato nacional de futebol. Há 40 dias, depois de apenas três semanas de jogos, as 15 equipes receberam a notícia de que a competição havia sido interrompida. Comenta-se que as partidas só voltarão a ser disputadas no segundo semestre, em outubro.
Enquanto esperam alguma posição da Federação Chinesa, os clubes continuam os treinamentos e fazem de conta que estão em pré-temporada.
"Não tenho opção. Mas estou treinando sem ânimo, sem objetivo e com medo do vírus", conta o meia André Gaspar, companheiro de equipe de Lula.
Os dois tentaram explicar à direção do Qingdao que, enquanto estivessem no Brasil, treinariam por conta própria e que, assim que o campeonato fosse retomado, voltariam imediatamente para a China. Foi tudo em vão.
"É importante que todos treinem juntos, incluindo os estrangeiros", respondeu à Folha o auxiliar técnico do time, Lee Chuman. "Tudo o que podemos fazer é esperar."
Lula, que por causa da pneumonia asiática proibiu que a família o visitasse em julho, não se conforma: "Os orientais são frios para lidar com essa situação. É difícil tocar o coração deles".
O medo da doença é tanto que, na cidade de Chengdu, o meia Marcelo Marmelo, do Sichuan, só sai de casa para treinar e ir ao supermercado, mas sempre com uma máscara protegendo o nariz e a boca. "Não temos mais condições de ficar aqui. Se pegarmos a doença, nem mesmo o Brasil vai querer a gente de volta", diz.
A direção do Beijing Guoan, equipe da capital, tomou uma atitude drástica. Deixou Pequim, onde foi registrado o maior número de casos de Sars, e isolou toda a equipe -incluindo quatro brasileiros- no centro de treinamento de uma cidade do interior.
O volante Marcos diz que no abrigo se sente mais seguro. "Se eu tivesse que continuar em Pequim, já teria ido embora há muito tempo", conta.
A Federação Chinesa espera definir a data para a volta do campeonato até o fim do mês. Enquanto a decisão não sai, os jogadores brasileiros não conseguem esconder a impaciência.
"Todos nós já combinamos. Se a situação perder o controle e não tivermos segurança, vamos esquecer tudo e ir embora para casa. Em primeiro lugar está a nossa vida", diz André Gaspar.
Não se sabe ao certo quantos jogadores de futebol brasileiros atuam na China. A embaixada tem conhecimento de 12. A CBF acredita que o número possa chegar a 20 atletas.
A confederação brasileira tem registro apenas de jogadores que se mudam para o exterior. Mas não é informada quando eles se transferem para outro país.
Já passaram pelos gramados chineses jogadores conhecidos, como Júnior Baiano (titular na Copa de 1998) e Márcio Santos (campeão mundial em 1994).



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