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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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FUTEBOL

Pega, pega pegou o Timão

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

O Corinthians foi eliminado da Libertadores por causa de suas deficiências técnicas, pelos méritos do River Plate, por razões inexplicáveis e imprevisíveis e, principalmente, porque os jogadores e o técnico não controlaram a ansiedade e acharam que disputariam uma guerra, e não uma partida de futebol.
O Corinthians não tem mostrado a qualidade da final do Campeonato Paulista ou o título foi uma ilusão, já que o time só ganhou de um adversário do mesmo nível, o São Paulo? Não podemos esquecer que o Corinthians não está entre os primeiros no Brasileiro e, antes do River Plate, só tinha enfrentado times fracos na Libertadores.
Mas a principal razão das duas derrotas para o River foi a incapacidade de lidar com a responsabilidade e a pressão de nunca ter sido campeão da Libertadores. A desculpa de que o time é jovem é furada. A média de idade do time argentino é quase a mesma.
O Corinthians mitificou demais a Libertadores. Enfrentar os rivais argentinos foi a gota d'água. A equipe mostrou preocupação com a catimba argentina e se esqueceu de jogar futebol. O River jogou, e o Corinthians deu pontapés. Confundiu garra com violência. Achou que era um jogo de malandragens e não de técnica.
Em Buenos Aires, o Timão jogou como timinho. Desde o início, apenas se defendeu. Fez um gol de bola parada e não suportou a pressão. Os dois gols do River poderiam ter acontecido muito antes, com ou sem o Kléber.
No Morumbi, o Corinthians foi um time assustado, extremamente tenso. A ansiedade ajuda antes de uma decisão desde que não ultrapasse certo limite. Ela estimula a produção de substâncias químicas que aumentam a atenção, a forca física, o entusiasmo e a capacidade de superar obstáculos.
Porém, quando a ansiedade é excessiva, diminuem a razão e o raciocínio, a bola bate na canela, e o entusiasmo e a virilidade se transformam em agressividade e violência. Foi o que aconteceu com o Corinthians.
Os gritos na lateral do campo, prática comum dos técnicos brasileiros, cada vez mais frequentes nas atuações do Geninho, perturbaram todos os jogadores, não apenas o Roger, um promissor lateral. A expulsão foi péssima para o time, que empatava e precisava vencer. O Corinthians se descontrolou, o River aproveitou e só restou tocar um tango.
A poucos metros do lance da expulsão, ouviram-se gritos do Geninho: "Pega, pega, pega". Roger pegou e agrediu D'Alessandro.
Após o jogo, Geninho declarou que, na linguagem do futebol, pegar significa chegar junto ou antes do rival e não deixá-lo dominar a bola. É verdade. O técnico afirmou também que o Jair Picerni grita "pega" durante todo o jogo. Em vez de se mirar no Parreira, Geninho copiou o técnico do Palmeiras.
Pegar significa também segurar, agarrar e dar certo. As novas leis do esporte assinadas pelo presidente Lula, o Estatuto do Torcedor e a moralização do esporte, também precisam pegar. "Há leis que pegam e as que não pegam."
Num ambiente tenso e agressivo de uma decisão, em que se perde o limite entre a garra e a violência, pegar passa a significar também derrubar e agredir.
O pega, pega pegou e derrubou o Timão.

Estilo e qualidade
O Real Madrid, com os seus cinco craques e um estilo refinado, ofensivo e de toque de bola, é o símbolo do futebol encantador e de alta qualidade. O time foi eliminado da Copa dos Campeões da Europa pela Juventus, o maior representante do estilo pragmático, de muita marcação e de jogadas rápidas de contra-ataque.
O Real tem os melhores jogadores do mundo do meio-campo para a frente. Do meio para trás, é um time comum, com exceção do Roberto Carlos. Hierro é um "ex-jogador em atividade". A Juventus tem um sistema defensivo excepcional, muito superior ao do Real. Futebol não é só ataque. Por isso, não houve tanta surpresa.
Não se pode confundir estilo com qualidade. A Juventus tem um estilo que não agrada, mas é um time eficiente, com excelentes atletas, como Buffon, Del Piero, Nedved, Davids, Trezeguet, Thuran e Montero. Todos são titulares de suas seleções. Nenhum estilo funciona sem bons jogadores.
Não foi a vitória do futebol de resultados sobre o futebol arte. Nesse último jogo, foi a vitória de uma equipe mais bem organizada e que teve melhores atuações individuais.

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