São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2006

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ATLETISMO

Erro no arredondamento do tempo faz norte-americano Gatlin agora dividir a marca com o jamaicano Powell

Cronômetro muda o recorde dos 100 m

LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

O norte-americano Justin Gatlin, 24, não pode mais se conclamar o homem mais rápido do mundo. Ontem, a Iaaf (entidade que rege o atletismo mundial) anunciou que houve um erro na cronometragem da prova em que ele cravou 9s76 na distância, na última sexta-feira, no Qatar.
Após revisarem o procedimento, os técnicos da Iaaf apontaram que o tempo correto marcado por Gatlin é 9s77, o que apenas iguala a marca anterior, do jamaicano Asafa Powell. Agora, os dois dividem o melhor desempenho na prova mais nobre do atletismo.
O problema foi no arredondamento da marca de Gatlin. Na prova de Doha, o tempo cravado pelo campeão olímpico foi 9s766.
"A regra de arredondamento da Iaaf não foi aplicada de forma correta. A Tissot Timing lamenta o ocorrido e se desculpa pelo incidente inédito", atestou uma nota oficial da empresa suíça encarregada da cronometragem.
Pelo regulamento do atletismo, os seis milésimos que Gatlin gastou além dos 9s76 justificam o arredondamento da marca para 9s77, o que não foi feito no Qatar por falha humana.
"Estamos muito desapontados por Justin, mas pensamos que ele tem todo o talento para fazer o recorde novamente em breve. É melhor ter um resultado honesto", declarou o porta-voz da Iaaf, Nick Davies, que comparou a marca de Gatlin à de Powell.
Segundo ele, os especialistas da Iaaf checaram os arquivos e constataram que o jamaicano também correu a distância "em 9s76 e alguma coisa" quando fez o recorde, em junho do ano passado, em Atenas. "É 9s77. Estamos convencidos de que ambos correram por volta do mesmo tempo."
Davies explicou que a Iaaf não considera os milésimos por acreditar que os equipamentos de cronometragem ainda não têm a precisão necessária para detectar essa fração de segundos, uma vez que, no atletismo, a velocidade do vento e as condições da pista também pesam. "A regra é clara. Estamos presos aos centésimos."
Gatlin não se manifestou publicamente sobre o caso. Seu agente, Renaldo Nehemiah, declarou que o episódio servirá de incentivo para o velocista tentar quebrar o recorde novamente.
O atletismo não é o único esporte olímpico que se atém aos centésimos -há também a natação, que já precisou de semifinais "tira-teima", para desempatar atletas com tempos idênticos.
Há disputas, contudo, que consideram até décimos de milésimos de segundo. Ontem, durante boa parte das sessões de treino para as 500 milhas de Indianápolis, a diferença entre o brasileiro Hélio Castro Neves e o norte-americano Sam Hornish era de 0s0004 a favor do brasileiro, que acabou o dia em segundo lugar, atrás do companheiro da equipe Penske.
Especialistas, entretanto, apontam como uma jogada de marketing da IRL -que costuma exaltar a competitividade de seu campeonato- considerar os décimos de milésimos de segundo, por tratar-se de uma fração tão ínfima e abstrata que não poderia ser levada em conta para determinar quem foi mais rápido.


Com agências internacionais


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