São Paulo, domingo, 18 de junho de 2006

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Scolari e Figo viabilizam feito

Gols após jogadas do capitão levam Portugal a seu primeiro mata-mata de Mundial em 40 anos

Resultado amplia o recorde de vitórias consecutivas de um treinador em Copas do Mundo, com técnico gaúcho somando nove desde 2002

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

A pergunta de um jornalista português a Luiz Felipe Scolari, após Portugal 2 x 0 Irã, não deixou a mais leve dúvida sobre quem é considerado o responsável pela classificação de Portugal à fase de mata-mata, pela primeira vez em 40 anos: o jornalista citou os recordes sucessivos de Scolari à frente de Portugal (45 jogos, maior número de vitórias, mais partidas sem perder, para não falar na classificação após quatro décadas).
Sim, o técnico campeão do mundo com o Brasil em 2002 constituiu nova "família", a portuguesa, e agora emociona-se com ela, a ponto de ter atravessado, lágrimas nos olhos, todo o gramado do estádio de Frankfurt, quando seus jogadores já desciam para o balneário (como os portugueses chamam o vestiário), para saudar na tribuna oposta uma fatia especial de sua torcida: sua mulher, filhos e a família de seu auxiliar, Flávio Teixeira, o Murtosa, e o preparador físico, Darlan Schneider, todos brasileiros.
Antes do jogo, o aplauso caloroso da "família portuguesa" a Scolari quando o rosto do gaúcho apareceu no telão do estádio não deixava dúvidas sobre o peso do técnico em uma seleção que mostrou ontem a consistência usual nos times de Scolari e só não goleou porque sua pontaria foi muito ruim.
De todo modo, o Irã só conseguiu uma vez chutar uma bola na direção do gol de Ricardo, contra dez de Portugal, evidência estatística de uma superioridade abissal.
Mas Portugal poderia ser castigado pela má pontaria, não fosse o outro fator, fora Scolari, que marca a sua equipe-2006: o talento fora de série de pelo menos dois jogadores, o também brasileiro Deco e o português Luís Figo.
Figo deu o passe para o belíssimo gol de Deco aos 19min do segundo tempo, um bate-pronto pouco antes da entrada da área que lhe valeu o troféu de melhor em campo. Figo sofreu o pênalti que Cristiano Ronaldo converteria aos 35min, sempre no segundo tempo.
O gol devolveu o sorriso de menino ao rosto do jogador do Manchester United, que vinha atormentado por problemas musculares e a pressão de ter que fazer "gato e sapato", como disse anteontem Scolari. Foi o prêmio de consolação para o empenho de Cristiano Ronaldo, disparadamente o que mais chutou a gol (sete, quatro no arco), mas que não conseguia fechar as jogadas que começava com classe e dribles bonitos.
De recorde em recorde (é também o treinador com mais vitórias consecutivas em Mundiais, nove), Scolari e o próprio Deco já começam a sonhar mais alto. O meia acha que "não há nenhuma seleção acima da média", o que significa que, no mata-mata, Portugal "pode perder ou ganhar" de seleções teoricamente mais fortes.
Parece obviedade (afinal, ganhar e perder é sempre possível), mas quer dizer o seguinte: uma seleção que chegou à Alemanha como, na melhor das hipóteses, a 12ª ou 13ª, como diz Scolari, agora pode sonhar em ganhar de qualquer uma das "cinco ou seis sempre apontadas como muito boas, se não estiverem bem no mata-mata", calcula o técnico.
Não é sonhar pouco se se considerar que o adversário de Portugal, dependendo da classificação final dos dois grupos, pode ser a Argentina, que mereceu do jornal esportivo francês "L'Équipe" o título de "sublime" na manchete de ontem. Ou, então, a Holanda.
Scolari festejou também o fato de Portugal ter feito a sua melhor partida entre as sete ou oito últimas de preparação para o Mundial. Mais: comemora a paulatina recuperação de jogadores tidos como titulares mas que não vinham fisicamente bem (o próprio Deco, Costinha, Cristiano Ronaldo).


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