São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2007

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Dois sem

Locutor se antecipa, anuncia prata do Brasil no dois sem timoneiro e acaba atrapalhando dupla, que alivia e termina com a medalha de bronze

MÁRVIO DOS ANJOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

No primeiro dia de finais do remo, tinha mesmo que haver emoção, após muitas provas que não eliminavam ninguém, pouco público e barcos que se poupavam para a repescagem quando o vencedor se definia.
O que ninguém imaginava é que um pouco mais de emoção fosse atrapalhar. A empolgação de um locutor foi a explicação para a perda da medalha de prata na disputa dos brasileiros do dois sem (dois remadores, cada um com um remo longo).
Foi a justificativa de Allan Bittencourt e Anderson Nocetti nas entrevistas após a regata em que obtiveram um bronze na lagoa Rodrigo de Freitas.
"Paramos um pouco antes, talvez desse para brigar pela prata. Nos atrapalhamos um pouco com o narrador", declarou o gaúcho Bittencourt, 28.
O barco brasileiro brigava com o dos Estados Unidos pela prata nos 500 m finais do percurso de 2 km, enquanto o Canadá, de Dan Casaca e Christopher Jarvis, liderava de longe.
No sistema de som, quando a briga se encaminhou ao final, o Brasil estava à frente. O Estádio de Remo se inflamou.
Foi quando o locutor Sérgio Nogueira afirmou que o Brasil havia cruzado em segundo. Depois, sem nomear o terceiro, corrigiu, anunciando que a definição da segunda colocação dependeria do "photofinish".
Segundos depois, o placar mostrou que, por 27 centésimos de segundo, a prata ficara com os americanos Daniel Beerry e Patrick O'Dunne. Ao ver o resultado, o público continuou vibrando, mas os brasileiros baixaram as cabeças.
Conformado com a situação, Bittencourt tentou minimizar a influência externa e fez o mea culpa. "A responsabilidade do que acontece lá dentro da água é nossa", declarou, acrescentando que as condições de vento forte no final da raia também dificultaram a tarefa.
Mas Nocetti reforçou a posição da dupla de que os alto-falantes criaram o problema.
"Solicitamos depois que o locutor parasse, porque estava narrando tudo errado", disse o catarinense, 33, que tinha planos bem específicos para a prova da manhã de ontem.
O dois sem foi adotado por Nocetti para o Pan, em decisão feita há sete meses. Bittencourt, campeão sul-americano, estava sem parceiro, num dos barcos mais tradicionais do remo nacional. Foi nele que o país obteve seu último ouro na modalidade em Pans, em Indianápolis, em 87, com Ronaldo e Ricardo Carvalho. E foi nele que o especialista em single skiff viu chance de vitória, pois Marcelus Marcili era o nome que disputaria sua prova no Rio.
"Nunca tinha remado o dois sem na vida. Aí o parceiro do Allan parou de remar, e nós sabíamos que, para o ouro, era só enfrentar EUA e Canadá, já que os remadores da América do Sul eram mais fracos. Havia chance de vencer", declarou Nocetti, que no Pré-Olímpico sul-americano voltará a disputar seu single skiff original. A disputa será de novo no Rio.
Foi o segundo bronze de Nocetti em Pans. Em Santo Domingo, ele foi terceiro no quádruplo skiff, ao lado de Bittencourt, e uma prata no double skiff. Os dois voltarão a ser vistos na lagoa amanhã, na final do oito com timoneiro.
Hoje as finais recomeçam, às 9h, e dois barcos brasileiros cairão na água. Camila Carvalho e Luciana Granato tentam a primeira medalha do remo feminino nacional em Pans no double skiff (duas remadoras, cada uma com dois remos) peso leve.
No quatro sem masculino, é a vez de Renan Castro, Leandro Tozzo, Gibran Cunha e Alexandre Ribas tentarem a sorte.


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