|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JUDÔ
Carioca de Oxford divide alojamento com Guilheiro, primeiro brasileiro a ir ao pódio
Após noite em claro, Canto enriquece quarto de bronze do Brasil na Vila
DOS ENVIADOS A ATENAS
As duas únicas medalhas
-ambas de bronze, no judô-
conquistadas até agora pelo Brasil
em Atenas vão dormir no mesmo
lugar na Vila Olímpica.
Apesar de os brasileiros ocuparem 168 quartos em sete prédios,
o meio-médio Flávio Canto, que
ganhou a dele ontem, divide alojamento com o leve Leandro Guilheiro, medalhista na véspera.
"Não mostrei a medalha. Achei
que poderia tirar o foco da concentração dele", disse Guilheiro,
que ontem foi incentivar o colega
no Ano Liossia Olympic Hall. Estava com a medalha, mas entregou-a ao médico Wagner Castropil. "Ele pediu para ficar com ela
no bolso, para dar sorte", disse.
A cautela na tentativa de evitar a
desconcentração do amigo, no
entanto, não foi suficiente. Canto
não pregou os olhos na madrugada. "Passei a noite em claro, acordado, com medo. Estava muito
ansioso. Achei que não estava
bem para lutar", declarou.
O medalhista tem o judô no
sangue, garante sua mãe, Maria
Cecília, que sempre encontra um
jeito de acompanhar o filho nas
principais competições. Ela está
em Atenas com o marido, Luiz
Felipe, 60, que há pouco mais de
dois meses sofreu cirurgia no coração (cinco pontes), e com o outro filho, Pedro, 26.
"Nada de Inglaterra, meu filho é
brasileiro. Nasceu na Inglaterra,
em Oxford, porque fui grávida
para lá com meu marido, que é físico nuclear e cumpria uma etapa
acadêmica", afirmou Maria Cecília, professora de inglês.
Ao explicar que sua maior medalha foi ver o pai em Atenas,
Canto declarou: "Não tive a cara
de pau de pedir uma medalha a
Deus". Pouco antes, o pai dissera:
"Estou aqui, fiz a minha parte".
A mãe contou ainda que uma
das grandes frustrações da vida
do filho foi ter ficado na reserva
do time nos Jogos de 2000. "Depois de Sydney, o judô deixou de
ser minha vida para ser parte da
minha vida", afirmou o judoca,
que, então, também passou a se
preocupar com as atividades no
trabalho de inclusão social em localidades carentes do Rio.
Desta vez titular, Canto cumpriu ontem campanha semelhante à do companheiro Guilheiro na
véspera: liquidou a luta de estréia,
contra o colombiano Mario Antonio Valles, em apenas 37 segundos. A seguir, superou o estoniano Aleksei Budolin, bronze no último Mundial e em Sydney-2000.
Aí aconteceu tropeçou, diante
do russo Dmitri Nossov, que o levou para a repescagem.
Retomou a arrancada rumo ao
pódio diante do italiano Roberto
Meloni. Estava em desvantagem,
mas reagiu e fechou o combate
por ippon com um estrangulamento. Depois, em apenas 25 segundos, assegurou o direito de lutar pela medalha ao vencer novamente por ippon o sul-coreano
Young Woo Kwon. Na decisão do
bronze, permitiu leve domínio do
polonês Robert Krawczyk no início, mas reagiu e dominou.
A entrega das medalhas teve
manifestação ruidosa do público,
provocada pelas torcidas brasileira, integrada inclusive por judocas olímpicos, e grega, eufórica
com o ouro de Ilias Iliadis. A prata
foi para o ucraniano Roman
Gontyuk, e o outro bronze, para o
russo Dmitri Nossov.
As risadas na entrevista ficaram
por conta do namoro de Canto
com a jornalista Bianca Rothier,
que dura nove anos. A judoca Danielle Zangrando, ao tirar uma foto de Rothier, brincou: "Agora,
com a medalha, já dá para casar".
Maria Cecília disse adorar a nora.
E Canto: "É união estável, vale
mais do que casamento".
(ADALBERTO LEISTER FILHO E EDGARD ALVES)
Texto Anterior: ATENAS 2004 Terceiro setor Próximo Texto: Frase Índice
|