São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2004

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JUDÔ

Carioca de Oxford divide alojamento com Guilheiro, primeiro brasileiro a ir ao pódio

Após noite em claro, Canto enriquece quarto de bronze do Brasil na Vila

DOS ENVIADOS A ATENAS

As duas únicas medalhas -ambas de bronze, no judô- conquistadas até agora pelo Brasil em Atenas vão dormir no mesmo lugar na Vila Olímpica.
Apesar de os brasileiros ocuparem 168 quartos em sete prédios, o meio-médio Flávio Canto, que ganhou a dele ontem, divide alojamento com o leve Leandro Guilheiro, medalhista na véspera.
"Não mostrei a medalha. Achei que poderia tirar o foco da concentração dele", disse Guilheiro, que ontem foi incentivar o colega no Ano Liossia Olympic Hall. Estava com a medalha, mas entregou-a ao médico Wagner Castropil. "Ele pediu para ficar com ela no bolso, para dar sorte", disse.
A cautela na tentativa de evitar a desconcentração do amigo, no entanto, não foi suficiente. Canto não pregou os olhos na madrugada. "Passei a noite em claro, acordado, com medo. Estava muito ansioso. Achei que não estava bem para lutar", declarou.
O medalhista tem o judô no sangue, garante sua mãe, Maria Cecília, que sempre encontra um jeito de acompanhar o filho nas principais competições. Ela está em Atenas com o marido, Luiz Felipe, 60, que há pouco mais de dois meses sofreu cirurgia no coração (cinco pontes), e com o outro filho, Pedro, 26.
"Nada de Inglaterra, meu filho é brasileiro. Nasceu na Inglaterra, em Oxford, porque fui grávida para lá com meu marido, que é físico nuclear e cumpria uma etapa acadêmica", afirmou Maria Cecília, professora de inglês.
Ao explicar que sua maior medalha foi ver o pai em Atenas, Canto declarou: "Não tive a cara de pau de pedir uma medalha a Deus". Pouco antes, o pai dissera: "Estou aqui, fiz a minha parte".
A mãe contou ainda que uma das grandes frustrações da vida do filho foi ter ficado na reserva do time nos Jogos de 2000. "Depois de Sydney, o judô deixou de ser minha vida para ser parte da minha vida", afirmou o judoca, que, então, também passou a se preocupar com as atividades no trabalho de inclusão social em localidades carentes do Rio.
Desta vez titular, Canto cumpriu ontem campanha semelhante à do companheiro Guilheiro na véspera: liquidou a luta de estréia, contra o colombiano Mario Antonio Valles, em apenas 37 segundos. A seguir, superou o estoniano Aleksei Budolin, bronze no último Mundial e em Sydney-2000.
Aí aconteceu tropeçou, diante do russo Dmitri Nossov, que o levou para a repescagem.
Retomou a arrancada rumo ao pódio diante do italiano Roberto Meloni. Estava em desvantagem, mas reagiu e fechou o combate por ippon com um estrangulamento. Depois, em apenas 25 segundos, assegurou o direito de lutar pela medalha ao vencer novamente por ippon o sul-coreano Young Woo Kwon. Na decisão do bronze, permitiu leve domínio do polonês Robert Krawczyk no início, mas reagiu e dominou.
A entrega das medalhas teve manifestação ruidosa do público, provocada pelas torcidas brasileira, integrada inclusive por judocas olímpicos, e grega, eufórica com o ouro de Ilias Iliadis. A prata foi para o ucraniano Roman Gontyuk, e o outro bronze, para o russo Dmitri Nossov.
As risadas na entrevista ficaram por conta do namoro de Canto com a jornalista Bianca Rothier, que dura nove anos. A judoca Danielle Zangrando, ao tirar uma foto de Rothier, brincou: "Agora, com a medalha, já dá para casar". Maria Cecília disse adorar a nora. E Canto: "É união estável, vale mais do que casamento". (ADALBERTO LEISTER FILHO E EDGARD ALVES)


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