São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2004

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O maratonista

Pausa na caminhada para um almoço no casarão dos Anaipacos, onde avós, pais e filhos vivem juntos, e Yannis, o primogênito, busca a mulher dos sonhos, desde que igual à sua mãe

A GRANDE família

PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

O acesso ao terceiro município atravessado pela maratona, Neos Voutzas, é feito por uma rua à direita, na altura do km 15,4 da caminhada: é um lugar procurado por milionários de Atenas, segundo contam no posto de gasolina da beira da estrada, porque está perto e longe da cidade, em um pedaço alto e, ao mesmo tempo, a dois quilômetros do mar.
"Um terreno de 1.000 m2 aqui custa 300 mil", diz Yannis Anaipacos, 27, chamado ao posto pelo amigo Dimitrios Magos, 53.
Yannis veio dar o seu depoimento de homem grego que já saiu de casa para morar só, mas voltou porque sentiu falta dos bons tratos. Na Grécia, além de ser comum homens de mais de 40 anos ainda morarem com a família, em muitos casos todos vivem no mesmo edifício: os pais em um apartamento com os avós, o filho casado com a mulher em outro, a filha com o marido e os filhos em um terceiro, e assim por diante. Tudo comprado (ou construído) pelo pai.
O de Yannis também se chama Dimitrios, é professor de teologia e ex-dono de escola aposentado. Ele construiu a casa onde eles moram em Neos Voutzas, em 1980, já pensando no futuro do menino de três anos e de sua irmã, Katherina, de quatro: a casa tem três andares de 200 m2 cada, com cozinhas, salas e quartos independentes. Ao todo, são mais de 600 m2.
"Minha irmã chegou a morar no andar de baixo, por um ano, mas o marido dela não agüentou a falta de privacidade, e eles se mudaram", conta Yannis, que não tem namorada fixa, mas diz que, quando se casar, pretende continuar ali (e não se mudar para a casa dos pais dela, como se só houvesse as duas opções).
Ele mora no andar térreo, mas lava as roupas (quer dizer, a mãe dele) no segundo. "Sempre fui muito mimado; é assim na Grécia. Nem acho que tenha sido tão bom, porque agora fico procurando uma mulher igual à minha mãe", conta.
Por fora, a casa tem muitas varandas amplas, garagem para cinco carros e fachada verticalizada. Por dentro, é apenas confortável. Os sofás são gordos e rosados (como a família), o chão é de ladrilho, há imagens religiosas grandes em vários ambientes e muitos móveis pesados: uma escadaria de mármore leva a cada entrada de "apartamento".
Atualmente, moram no casarão o pai, a mãe, a avó, Yannis e um irmão bem mais novo, Mario, de 19 anos. "Ele está trabalhando na Olimpíada como pegador de bolinhas no jogo de tênis!", grita a avó, apontando para a TV. E lá está o menino, numa partida de uma tenista grega.

Intimação
São cerca de 13h30, e as mães intimam para o almoço: "Fica que tem pastitio", elas dizem, de maneira irrecusável. Pastitio (escrito assim por elas) é, como o nome sugere, uma mistura de espaguete com pedaços de carne, coberto com molho de queijo gratinado.
Também estão na casa uma passadeira de roupas albanesa e uma amiga de infância da mãe de Yannis: chama-se Paraskevi ("sexta-feira", em grego), mas o apelido é Voula, que vem a ser diminutivo de Paraskevoula. "Entendeu, Pavlacos?", elas perguntam, rindo, usando o apelido de "Pavlos" e enchendo o prato.
Todos comem muito (e dizem que o jantar é mais farto). Refrigerante light? Nem pensar.
Sobremesa: a avó, Maria, 1,64 m, 95 kg, pergunta: "Fruta? Melão, abricó, melancia?".
"Prefere doce?", pergunta a mãe, Dimitra, 1,62 m, 84 kg. "Traz o baklavá", ela diz, alto. Baklavá é um doce de mel e frutas secas, parecido com os libaneses.
Tudo muito acolhedor: na saída, a família vai para a varanda acenar: "Sto caló!", dizem todos. "Vá com Deus!"


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