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O maratonista
Pausa na caminhada para um almoço no casarão dos Anaipacos, onde avós, pais e filhos vivem juntos, e Yannis, o primogênito, busca a mulher dos sonhos, desde que igual à sua mãe
A GRANDE família
PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
O acesso ao terceiro município
atravessado pela maratona, Neos
Voutzas, é feito por uma rua à direita, na altura do km 15,4 da caminhada: é um lugar procurado
por milionários de Atenas, segundo contam no posto de gasolina
da beira da estrada, porque está
perto e longe da cidade, em um
pedaço alto e, ao mesmo tempo, a
dois quilômetros do mar.
"Um terreno de 1.000 m2 aqui
custa 300 mil", diz Yannis Anaipacos, 27, chamado ao posto pelo
amigo Dimitrios Magos, 53.
Yannis veio dar o seu depoimento de homem grego que já
saiu de casa para morar só, mas
voltou porque sentiu falta dos
bons tratos. Na Grécia, além de
ser comum homens de mais de 40
anos ainda morarem com a família, em muitos casos todos vivem
no mesmo edifício: os pais em um
apartamento com os avós, o filho
casado com a mulher em outro, a
filha com o marido e os filhos em
um terceiro, e assim por diante.
Tudo comprado (ou construído)
pelo pai.
O de Yannis também se chama
Dimitrios, é professor de teologia
e ex-dono de escola aposentado.
Ele construiu a casa onde eles moram em Neos Voutzas, em 1980, já
pensando no futuro do menino
de três anos e de sua irmã, Katherina, de quatro: a casa tem três andares de 200 m2 cada,
com cozinhas, salas e
quartos independentes.
Ao todo, são mais de
600 m2.
"Minha irmã chegou a
morar no andar de baixo, por um ano, mas o
marido dela não agüentou a falta de privacidade, e eles se mudaram",
conta Yannis, que não
tem namorada fixa, mas
diz que, quando se casar, pretende continuar
ali (e não se mudar para
a casa dos pais dela, como se só houvesse as
duas opções).
Ele mora no andar térreo, mas lava as roupas
(quer dizer, a mãe dele)
no segundo. "Sempre
fui muito mimado; é assim na Grécia. Nem acho que tenha sido tão bom, porque agora
fico procurando uma mulher
igual à minha mãe", conta.
Por fora, a casa tem muitas varandas amplas, garagem para cinco carros e fachada verticalizada.
Por dentro, é apenas confortável.
Os sofás são gordos e rosados (como a família), o chão é de ladrilho,
há imagens religiosas grandes em
vários ambientes e muitos móveis
pesados: uma escadaria de mármore leva a cada entrada de
"apartamento".
Atualmente, moram no casarão
o pai, a mãe, a avó, Yannis e um irmão bem mais novo, Mario, de 19
anos. "Ele está trabalhando na
Olimpíada como pegador de bolinhas no jogo de tênis!", grita a
avó, apontando para a TV. E lá está o menino, numa partida de
uma tenista grega.
Intimação
São cerca de 13h30, e as mães intimam para o almoço: "Fica que
tem pastitio", elas dizem, de maneira irrecusável. Pastitio (escrito
assim por elas) é, como o nome
sugere, uma mistura de espaguete
com pedaços de carne, coberto
com molho de queijo gratinado.
Também estão na casa uma
passadeira de roupas albanesa e
uma amiga de infância da mãe de
Yannis: chama-se Paraskevi
("sexta-feira", em grego), mas o
apelido é Voula, que vem a ser diminutivo de Paraskevoula. "Entendeu, Pavlacos?", elas
perguntam, rindo, usando o apelido de "Pavlos"
e enchendo o prato.
Todos comem muito
(e dizem que o jantar é
mais farto). Refrigerante
light? Nem pensar.
Sobremesa: a avó, Maria, 1,64 m, 95 kg, pergunta: "Fruta? Melão,
abricó, melancia?".
"Prefere doce?", pergunta a mãe, Dimitra,
1,62 m, 84 kg. "Traz o baklavá", ela diz, alto. Baklavá é um doce de mel e
frutas secas, parecido
com os libaneses.
Tudo muito acolhedor: na saída, a família
vai para a varanda acenar: "Sto caló!", dizem
todos. "Vá com Deus!"
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