São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Marinheiro só

Scheidt, invicto neste ano e líder em Atenas, não é bicho-papão, dizem os adversários

GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

A derrota entalou na garganta. Última regata na liderança, sétimo título mundial na mão. Mas Robert Scheidt deixou escapar.
No segundo degrau do pódio, o brasileiro decidiu treinar mais para que a cena não se repetisse.
Conseguiu. Desde o revés para o português Gustavo Lima, no dia 25 de setembro do ano passado, ele ganhou todos os eventos que disputou na classe laser.
Ontem, assumiu a liderança na disputa pelo segundo ouro olímpico da categoria e mostrou que quer ampliar sua hegemonia.
Em 2004, foram nove vitórias em nove torneios disputados, a performance mais arrasadora entre os velejadores que estão em Atenas.
Sinal de que os rivais estão desde já alijados da briga pelo pódio?
A resposta é não, ao menos para os candidatos que querem colocar água no chope do brasileiro. A pedido da Folha, os principais adversários de Scheidt analisaram as virtudes e os pontos fracos do atleta. Conclusão unânime: ele é o favorito, o melhor competidor da classe. Mas tem deficiências que podem ser exploradas.
O sueco Karl Suneson, sétimo colocado no ranking mundial, afirma que as condições do mar não vão deixar ninguém disparar na ponta da classificação.
"O Robert é praticamente imbatível em um mar com ventos fortes. Aqui na Grécia não é assim. O clima é confuso, varia muito. As regatas serão vencidas nos detalhes. É nesse ponto que um campeão pode se perder."
Suneson explica que está habituado às condições do local da regata, mas foge do tema quando questionado sobre a estratégia que usará para bater Scheidt. "Você é jornalista do Brasil? Então não conto meus segredos."
O australiano Michael Blackburn é mais maleável. Vice-líder da lista que engloba os melhores da classe -Scheidt está no topo-, ele acredita que a luta pelo ouro envolve ingredientes que vão além da questão técnica.
"Contar com a sorte faz parte da natureza da vela. Todos os campeões precisam dela. Isso é algo real, necessário para vencer. Com o Robert não é diferente."
Até o brasileiro de 31 anos concorda com a reflexão e diz que existe um viés subjetivo na competição. "Hoje [ontem] foi um dia difícil. Em certo momento, optei por um caminho sem saber se daria certo. Deu. Pura sorte."
Discussões filosóficas à parte, Blackburn tratou de estudar o homem a ser batido na Grécia. Resultado: investiu na preparação física, um dos pontos fortes de Scheidt. "Repare como o Robert é forte, alto e leve. Isso dá velocidade ao seu barco. Tentei melhorar a minha condição para tentar surpreendê-lo", explica o australiano.
Outro que pode falar do tema com propriedade é Gustavo Lima. Ele foi o último a subjugá-lo, no Mundial do ano passado.
Anteontem, o português deixou Scheidt para trás e venceu a primeira regata. Só que não manteve o bom desempenho e ocupa apenas o 11º lugar no geral.
"Precisamos minar a consistência do Robert. É preciso ser ousado, atacá-lo com mais freqüência. Caso contrário, brigaremos apenas pelo segundo lugar."
A corrida para derrubar Scheidt segue até domingo. Ele sabe da pressão e do desejo dos adversários. E diz que nem liga. "Estou preparado para tudo."


Texto Anterior: Programação da TV
Próximo Texto: Pingue-pongue: "Se querem ganhar dele, rezem", avisa algoz de Sydney-00
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.