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Marinheiro só
Scheidt, invicto neste ano e líder em Atenas, não é bicho-papão, dizem os adversários
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
A derrota entalou na garganta.
Última regata na liderança, sétimo título mundial na mão. Mas
Robert Scheidt deixou escapar.
No segundo degrau do pódio, o
brasileiro decidiu treinar mais para que a cena não se repetisse.
Conseguiu. Desde o revés para o
português Gustavo Lima, no dia
25 de setembro do ano passado,
ele ganhou todos os eventos que
disputou na classe laser.
Ontem, assumiu a liderança na
disputa pelo segundo ouro olímpico da categoria e mostrou que
quer ampliar sua hegemonia.
Em 2004, foram
nove vitórias em
nove torneios disputados, a performance mais arrasadora entre os
velejadores que
estão em Atenas.
Sinal de que os
rivais estão desde
já alijados da briga pelo pódio?
A resposta é
não, ao menos para os candidatos
que querem colocar água no chope do brasileiro. A
pedido da Folha, os principais adversários de Scheidt analisaram as
virtudes e os pontos fracos do
atleta. Conclusão unânime: ele é o
favorito, o melhor competidor da
classe. Mas tem deficiências que
podem ser exploradas.
O sueco Karl Suneson, sétimo
colocado no ranking mundial,
afirma que as condições do mar
não vão deixar ninguém disparar
na ponta da classificação.
"O Robert é praticamente imbatível em um mar com ventos fortes. Aqui na Grécia não é assim. O
clima é confuso, varia muito. As
regatas serão vencidas nos detalhes. É nesse ponto que um campeão pode se perder."
Suneson explica que está habituado às condições do local da regata, mas foge do tema quando
questionado sobre a estratégia
que usará para bater Scheidt.
"Você é jornalista do Brasil? Então não conto meus segredos."
O australiano Michael Blackburn é mais maleável. Vice-líder
da lista que engloba os melhores
da classe -Scheidt está no topo-, ele acredita que a luta pelo
ouro envolve ingredientes que
vão além da questão técnica.
"Contar com a sorte faz parte da
natureza da vela. Todos os campeões precisam dela. Isso é algo
real, necessário para vencer. Com
o Robert não é diferente."
Até o brasileiro de 31 anos concorda com a reflexão e diz que
existe um viés subjetivo na competição. "Hoje [ontem] foi um dia
difícil. Em certo
momento, optei
por um caminho
sem saber se daria certo. Deu.
Pura sorte."
Discussões filosóficas à parte,
Blackburn tratou
de estudar o homem a ser batido
na Grécia. Resultado: investiu na
preparação física,
um dos pontos
fortes de Scheidt.
"Repare como o Robert é forte, alto e leve. Isso dá velocidade ao seu
barco. Tentei melhorar a minha
condição para tentar surpreendê-lo", explica o australiano.
Outro que pode falar do tema
com propriedade é Gustavo Lima.
Ele foi o último a subjugá-lo, no
Mundial do ano passado.
Anteontem, o português deixou
Scheidt para trás e venceu a primeira regata. Só que não manteve
o bom desempenho e ocupa apenas o 11º lugar no geral.
"Precisamos minar a consistência do Robert. É preciso ser ousado, atacá-lo com mais freqüência.
Caso contrário, brigaremos apenas pelo segundo lugar."
A corrida para derrubar Scheidt
segue até domingo. Ele sabe da
pressão e do desejo dos adversários. E diz que nem liga. "Estou
preparado para tudo."
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