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XICO SÁ
Futebol, teu nome é doença
Por mais que o torcedor do São Paulo não compreenda o mote deste espaço, Freud
explica a falha de Rogério
AMIGO TORCEDOR , amigo secador, para quem veste sempre
o lindo manto negro do agouro e toca bumbo na retreta dos contrários, ver o São Paulo vice das
Américas foi mais que um orgasmo.
Um gozo com o membro alheio, é
bom que se diga, doutor Sigmund,
mas esse é o belo desvio mental de
quem seca. Longe deste abutre ludopédico negar a sua própria doença.
E olhe que secar esse São Paulo é a
pior das artes. Joga demais. Naqueles últimos minutos no Beira-Rio,
escapamos por milagre. Mas secar
time ruim não tem graça, o bom é
atirar os sinalizadores e rojões do
azar contra os melhores.
Pena que uma legião de torcedores dos grandes paulistas ainda não
tenha entendido, depois de pelejas
tantas, o mote desta coluna. Na semana passada, os tricolores jogaram
870 pedras -virtuais, ufa!, e-mails-
neste Geni gutenberguiano de tantas páginas. Rolou uma corrente entre eles. Minha mãe, minha sexualidade e o que resta do meu enlameado e mísero patrimônio moral pagaram o pato.
Generalista como todo homem
que roda a bolsinha na imprensa para assegurar o leite 12 anos e o champanhe das moças, já escrevi sobre
quase tudo. Nunca, como agora, de
volta ao futebol que me iniciou no
jornalismo, vi tanto melindre, tamanha suscetibilidade. Escrevia sobre
escândalos políticos e no outro dia a
suposta vítima me apertava a mão
com um riso cínico, embora pudesse
ter, no momento seguinte, os bens
bloqueados.
O futebol é especial por isso. Por
mais que a gente diga que é apenas
um jogo, um esporte, uma gozação
de botequim, o torcedor não perdoa,
se mune de mais paus e pedras. Ainda bem que, neste caso, as barbaridades são virtuais mais que desabafos, um legítimo jus esperneandis.
Que continuem assim, data venia,
para sempre.
Agora devolve a bola, gandula, não
faz nariz de cera. Voltemos ao jogo
do ano. E que azar o de Rogério Ceni,
não é? Fosse qualquer mortal, estaria condenado ao cupim dos bancos
de reservas. Besteira. Ele está mais
do que no lucro. O mais pobre dos
tricolores, aquele que vive além
muito além das pontes que separam
a casa-grande e a senzala em São
Paulo, ainda lhe deve o dízimo do reconhecimento.
O que pesou no caso do goleiro,
como soprou o amigo Campos Velho, de origem colorada, foi o que está guardado nos porões do inconsciente. Rogério era Inter quando
criança, aí voltamos mais uma vez ao
doutor Freud e suas doenças da alma. Ora, passamos a vida inteira
num acerto de contas permanente
com a infância. Das fraldas viemos e
às fraldas geriátricas voltaremos
com essa pendenga. Só esse mundo
infantil justificaria aquele lapso,
quando o goleiro serve a bola ao
avante inimigo como se realizasse
involuntariamente um sonho de
menino: ver o seu time vermelho e
branco campeão da Libertadores.
"A"
O tédio pós-Copa mudou a Série
A do Brasileiro. Fora o esforçado, e
só, Palmeiras, não tem valido meia
lata de cerva. Até Luxa, que fazia jogar bonito desde o Bragantino, tortura os fãs do Peixe com um mormaço ludopédico à la Lazzaroni.
"B"
Os duelos da B que vi são superiores. O Náutico, desde 2005, quando
foi abatido pelo Grêmio, joga um
futebol decente. Aquela fatídica peleja, diz Ricardo Calil, é tema de
"Inacreditável - A Batalha dos Aflitos", dirigido por Beto Sousa e com
roteiro de Eduardo Bueno.
"C"
Os clássicos amazônicos da Terceirona foram arrepiantes. Desde
"Fitzcarraldo" Manaus não via nada como Rio Negro 2x1 Fast Clube.
Em Belém, um inesquecível Tuna
Luso 2x0 Ananindeua.
xico.folha@uol.com.br
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