São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 2006

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XICO SÁ

Futebol, teu nome é doença

Por mais que o torcedor do São Paulo não compreenda o mote deste espaço, Freud explica a falha de Rogério

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, para quem veste sempre o lindo manto negro do agouro e toca bumbo na retreta dos contrários, ver o São Paulo vice das Américas foi mais que um orgasmo.
Um gozo com o membro alheio, é bom que se diga, doutor Sigmund, mas esse é o belo desvio mental de quem seca. Longe deste abutre ludopédico negar a sua própria doença.
E olhe que secar esse São Paulo é a pior das artes. Joga demais. Naqueles últimos minutos no Beira-Rio, escapamos por milagre. Mas secar time ruim não tem graça, o bom é atirar os sinalizadores e rojões do azar contra os melhores.
Pena que uma legião de torcedores dos grandes paulistas ainda não tenha entendido, depois de pelejas tantas, o mote desta coluna. Na semana passada, os tricolores jogaram 870 pedras -virtuais, ufa!, e-mails- neste Geni gutenberguiano de tantas páginas. Rolou uma corrente entre eles. Minha mãe, minha sexualidade e o que resta do meu enlameado e mísero patrimônio moral pagaram o pato.
Generalista como todo homem que roda a bolsinha na imprensa para assegurar o leite 12 anos e o champanhe das moças, já escrevi sobre quase tudo. Nunca, como agora, de volta ao futebol que me iniciou no jornalismo, vi tanto melindre, tamanha suscetibilidade. Escrevia sobre escândalos políticos e no outro dia a suposta vítima me apertava a mão com um riso cínico, embora pudesse ter, no momento seguinte, os bens bloqueados.
O futebol é especial por isso. Por mais que a gente diga que é apenas um jogo, um esporte, uma gozação de botequim, o torcedor não perdoa, se mune de mais paus e pedras. Ainda bem que, neste caso, as barbaridades são virtuais mais que desabafos, um legítimo jus esperneandis. Que continuem assim, data venia, para sempre.
Agora devolve a bola, gandula, não faz nariz de cera. Voltemos ao jogo do ano. E que azar o de Rogério Ceni, não é? Fosse qualquer mortal, estaria condenado ao cupim dos bancos de reservas. Besteira. Ele está mais do que no lucro. O mais pobre dos tricolores, aquele que vive além muito além das pontes que separam a casa-grande e a senzala em São Paulo, ainda lhe deve o dízimo do reconhecimento.
O que pesou no caso do goleiro, como soprou o amigo Campos Velho, de origem colorada, foi o que está guardado nos porões do inconsciente. Rogério era Inter quando criança, aí voltamos mais uma vez ao doutor Freud e suas doenças da alma. Ora, passamos a vida inteira num acerto de contas permanente com a infância. Das fraldas viemos e às fraldas geriátricas voltaremos com essa pendenga. Só esse mundo infantil justificaria aquele lapso, quando o goleiro serve a bola ao avante inimigo como se realizasse involuntariamente um sonho de menino: ver o seu time vermelho e branco campeão da Libertadores.
"A"
O tédio pós-Copa mudou a Série A do Brasileiro. Fora o esforçado, e só, Palmeiras, não tem valido meia lata de cerva. Até Luxa, que fazia jogar bonito desde o Bragantino, tortura os fãs do Peixe com um mormaço ludopédico à la Lazzaroni.

"B"
Os duelos da B que vi são superiores. O Náutico, desde 2005, quando foi abatido pelo Grêmio, joga um futebol decente. Aquela fatídica peleja, diz Ricardo Calil, é tema de "Inacreditável - A Batalha dos Aflitos", dirigido por Beto Sousa e com roteiro de Eduardo Bueno.

"C"
Os clássicos amazônicos da Terceirona foram arrepiantes. Desde "Fitzcarraldo" Manaus não via nada como Rio Negro 2x1 Fast Clube. Em Belém, um inesquecível Tuna Luso 2x0 Ananindeua.


xico.folha@uol.com.br

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