São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2008

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Solo

Lluis Gene/France Presse
Diego Hypólito, 6º no solo em Pequim

EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

Quase ao seu lado, ginastas executavam suas séries na final do solo. O Ginásio Nacional reagia ruidosamente.
Sentado a alguns metros do tablado, não se importava com fotógrafos e oficiais que bloqueavam sua visão. Seus olhos fitavam fixamente apenas o além. A expressão de seu rosto era quase catatônica. Com o passar dos minutos, vez por outra fitava o chão.
Algum tempo depois, quando havia alguma reação da torcida, já olhava, ocasionalmente, para o telão a fim de ver o que ocorria, mas logo perdia o interesse. Retornava à condição anterior, evitando a todo custo olhar o tablado.
Com os dedos de uma mão, apertava os dedos da outra.
Assim reagiu o brasileiro Diego Hypólito, 22, após encerrar sua série, praticamente perfeita até então, com um tombo. ""Não acredito, não acredito", era a frase que repetia a maior esperança de medalha do país na ginástica.
Ficou isolado. Até seu técnico, Renato Araújo, incapaz de falar com ele, afastou-se. Preferiu conversar com Mário Namba, médico do time.
""Depois da 15ª vez que ele falou "não acredito", eu me afastei. Era um momento dele", justificou o treinador.
Em sua exibição, o bicampeão mundial do solo apresentou uma série com aterrissagens cravadas. Sorriu após duas delas, no final da primeira diagonal e da terceira, antes de iniciar uma parada de mão.
Ao subir no aparelho, o ginasta tinha a vantagem psicológica de ter executado a série de maior pontuação durante a fase classificatória: 15,950.
Para compor o cenário ideal para Diego, antes de ele se apresentar, seu mais tradicional adversário, Marian Dragulescu, 28, sofrera uma queda.
Sem ter visto a apresentação dos rivais e demonstrando estar profundamente abalado, Diego afirmou que, ""se não tivesse errado, com certeza teria ganhado medalha".
Diego tinha razão. Um oficial da Federação Internacional de Ginástica consultado pela Folha disse que, não fosse a queda, Diego seria ouro.
O tombo representou desconto de oito décimos. Se for considerado que foi conseqüência de uma falha técnica na execução, o desconto poderia chegar a um ponto.
O brasileiro terminou em sexto a final do solo, com 15,200 pontos. O chinês Zou Kai foi campeão com 16,050.
Ou seja, se não fosse pelo tombo, teria somado 16,200 pontos, que o teriam catapultado à ponta da classificação.
""Ai, gente, não sei o que aconteceu. Realmente não sei", lamentou Diego, fortemente emocionado, lágrimas escorrendo dos olhos. ""Estava tudo certo, isso que aconteceu eu nunca esperava. Não sei..."
""Ele sentiu o peso. É bicampeão mundial, mas Mundial é Mundial e Olimpíada é Olimpíada", disse Eliane Martins, supervisora da Confederação Brasileira de Ginástica.
""Esse garoto se destruiu, ele está destruído. É assim que ele está. Estou muito preocupada", lamentou a presidente da CBG, Vicélia Florenzano.



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