São Paulo, quinta-feira, 18 de outubro de 2001

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FUTEBOL

Empresa de J. Hawilla informa Teixeira de rescisão por carta; confederação fica sem agência oficial de marketing

CBF e Traffic rompem parceria de 11 anos

FERNANDO MELLO
JOSÉ ALBERTO BOMBIG


DO PAINEL FC

A mais duradoura parceria da era Ricardo Teixeira na CBF (Confederação Brasileira de Futebol) chegou ao fim.
A Traffic, empresa de marketing esportivo do ex-jornalista J. Hawilla, não é mais a agência oficial da entidade que comanda o futebol brasileiro, decisão comunicada por carta a Teixeira.
É o primeiro elo do mais controverso contrato de patrocínio do futebol do país que se rompe após a criação de duas CPIs do Congresso para investigar o esporte e seus negócios.
Em 1996, Traffic, CBF e Nike celebraram o acordo que ficaria conhecido internacionalmente como "contrato CBF-Nike" e que motivaria o surgimento das CPIs na Câmara e no Senado.
A parceria entre Ricardo Teixeira e J. Hawilla foi oficializada no segundo ano da gestão do dirigente na CBF, em 1990.
O contrato CBF-Nike, de US$ 160 milhões, dá à multinacional de materiais esportivos o direito de patrocinar a seleção brasileira por dez anos, até 2006.
No âmbito comercial, o fim da parceria entre a agência e a entidade não altera o que já foi acordado com a Nike, mas dificulta uma renovação e pode aumentar o desgaste entre as partes.
O motivo do rompimento foi a exclusão da Traffic da negociação entre CBF e AmBev, que culminou com a substituição da marca Coca-Cola, cliente da agência de Hawilla, pelo guaraná Antarctica nos uniformes de treino da seleção brasileira. Hawilla havia levado a Coca-Cola para a CBF no início da década de 90.
Segundo a Folha apurou, o empresário também estava desgostoso com o fim da Copa Mercosul, torneio sul-americano de clubes capitaneado pela Traffic, que foi retirada do calendário do futebol por um acordo ao qual Ricardo Teixeira deu aval.
A parceria Traffic-CBF foi devassada pelas CPIs do Congresso, que, apesar de considerarem o negócio ruim para entidade, não encontraram nele irregularidades.
De acordo com deputados da CPI da CBF/Nike, que funcionou na Câmara de outubro do ano passado até junho último, a agência "monopolizava" os negócios da CBF e recebia comissões acima das praticadas pelo mercado.
Só pelo acordo da entidade com a Nike, a Traffic recebeu US$ 8 milhões. Em seus depoimentos às CPIs, Hawilla e Teixeira afirmaram que os valores eram os praticados no setor -5% de comissão.
Os dois empresários tiveram seus sigilos bancário, fiscal e telefônico quebrados. A suspeita inicial dos congressistas, de que Hawilla e Teixeira eram de alguma forma sócios, não se confirmou.
O dirigente e o empresário voltarão a depor na CPI do Futebol, que ainda funciona no Senado.
Desta vez, na pauta dos senadores estará o Mundial de Clubes da Fifa, realizado pela Traffic e pela CBF no Brasil em 2000, e o contrato da entidade com a AmBev, que renderá uma comissão de US$ 8 milhões à MB Promoções, empresa do empresário Renato Tiraboschi, ex-sócio e amigo de Teixeira.
A Traffic já havia rompido seu contrato com a Fifa no primeiro semestre deste ano e, anteontem, anunciou o fim de sua parceria com a TV Bandeirantes.


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