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"Morte de Senna foi boa para a F-1"
Em entrevista, Ecclestone, homem forte das pistas, lamenta tragédia, mas diz que ela trouxe publicidade para a categoria
Pragmático, bilionário que
controla o esporte diz que
torceu por Massa, que crê
em Barrichello e que, se der,
ajudará Nelsinho a voltar
FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Bernard Charles Ecclestone,
78, zanzava acelerado, ontem
pela manhã, no paddock de Interlagos. Queria se certificar de
que tudo daria certo num ensaio de moda para a "Playboy"
americana. Conversou com os
produtores, chamou a modelo,
de roupão branco e que tomava
garoa, para um café no seu escritório, levou todos aos boxes
da Ferrari para algumas fotos.
Homem forte da F-1, dono de
fortuna estimada em US$ 2,4
bilhões (cerca de R$ 4 bilhões),
Bernie, como é conhecido desde os tempos em que se aventurava como piloto, nos anos 50,
só atendeu a Folha quando tudo estava organizado. O mercado americano é uma obsessão.
E um ensaio assim pode atingir
gente que normalmente não
segue o automobilismo, explicou o inglês.
Mesmo motivo que o levou a
dizer logo depois que a morte
de Ayrton Senna, em 1994, foi
boa para os negócios da F-1.
Antes da entrevista, apenas
um pedido: perguntas pessoais
estavam vetadas. Há alguns
meses, Ecclestone namora
uma brasileira, Fabiana Flosi,
que trabalhava na empresa
promotora do GP Brasil.
FOLHA - Campos, Manor, Lotus,
USF1, a nova BMW... Quantas dessas equipes novas estarão em 2010?
BERNIE ECCLESTONE - Todas parecem muito confiantes. A FIA
checou as condições que elas
têm para estrear na F-1 e também pareceu satisfeita.
FOLHA - Mas elas têm dinheiro?
ECCLESTONE - Parece que sim. As
pessoas falam em crise, mas há
dinheiro por aí. Acabei de falar
com um cara que quer comprar
uma dessas equipes.
FOLHA - Então, quantas equipes
você imagina no grid de Bahrein?
ECCLESTONE - Eu ficaria muito
feliz com 13.
FOLHA - De certa forma, esse grid
mais cheio é uma volta ao passado?
ECCLESTONE - Não. Estamos de
volta para o futuro.
FOLHA - E o que você acha da ideia
de três carros por equipe?
ECCLESTONE - Uma estupidez.
Não vai acontecer. Esqueça.
FOLHA - Esta é a última corrida da
F-1 com a FIA sob a presidência de
Max Mosley. Quais serão suas lembranças deste período?
ECCLESTONE - Max e eu somos
amigos há 35, 40 anos. Trabalhamos juntos, muito, em diversas coisas. Muitas vezes, temos diferentes opiniões sobre
assuntos importantes. Algumas vezes não nos entendemos
em nada, pensamos completamente diferente. Mas todo
mundo vai sentir falta dele. As
pessoas hoje não têm a consciência de tudo o que ele fez.
Nós mudamos a F-1.
FOLHA - Jean Todt e Ari Vatanen
concorrem à presidência da FIA na
próxima sexta...
ECCLESTONE - Vatanen não tem
capacidade para o cargo. Ele
não tem a experiência. Todt
tem a experiência, trabalha duro, é um bom administrador.
Trabalhamos bem quando ele
estava na Ferrari.
FOLHA - Qual é a importância do
GP Brasil para a F-1?
ECCLESTONE - Eu trouxe a F-1
para o Brasil. É importante correr na América do Sul.
FOLHA - E sobre os EUA? A F-1 vai
voltar para lá?
ECCLESTONE - Estamos trabalhando com alguma coisa em
Nova York. Mas trabalhar com
americanos não é tão fácil
quanto as pessoas acham que é.
FOLHA - Qual é sua opinião sobre
Rubens Barrichello?
ECCLESTONE - Ele foi segundo piloto muito tempo, fez bem isso.
Gostaria de vê-lo caminhando
com as próprias pernas.
FOLHA - Você acha que ele tem alguma chance neste ano?
ECCLESTONE - Se ele tiver a chance de vencer a corrida e Jenson
parar... Quem sabe?
FOLHA - Qual foi o impacto da morte de Ayrton Senna para a F-1?
ECCLESTONE - Foi uma infelicidade. Mas a publicidade gerada
foi tanta... Foi boa para a F-1. É
uma pena que tenhamos perdido o Ayrton para isso acontecer. Ele era popular, mas muita
gente que não o conhecia soube
da F-1 por conta da publicidade
gerada com sua morte.
FOLHA - O Brasil vai organizar a Copa e a Olimpíada. O país tem capacidade para receber esses eventos?
ECCLESTONE - Por que não? Vocês podem, sim.
FOLHA - Um executivo inglês da
empresa que administra o Paddock
Club [área VIP nos circuitos] foi assaltado ao sair do aeroporto, sexta...
ECCLESTONE - Essas coisas acontecem no mundo todo. Muita
gente mora em São Paulo, é difícil de controlar. E tem muito a
ver com as pessoas da F-1 tomarem precauções. Venho aqui
há 35 anos e nunca aconteceu
nada de errado comigo.
FOLHA - Sobre Nelsinho... É viável
imaginá-lo no grid da F-1 em 2010?
ECCLESTONE - Gostaria de ver isso. É um menino talentoso, que
passou por períodos difíceis...
FOLHA - Você o ajudaria?
ECCLESTONE - Sim, sim. Se eu puder ajudar, vou fazer. Sou amigo deles. Vi o Nelsinho bebê.
Sou como seu padrinho.
FOLHA - Felipe Massa. Ele é um futuro campeão mundial?
ECCLESTONE - Sim. Queria ele
campeão em 2008...
FOLHA - Mas você é inglês.
ECCLESTONE - Não tem essa de
ser inglês. Eu só fiquei desapontado com a maneira como
as coisas aconteceram. É claro
que gostei de ver o Lewis [Hamilton] ser campeão, mas Felipe teve muito azar. E foi a Ferrari que perdeu aquele campeonato, não ele. Como ocorreu com Lewis no ano anterior.
FOLHA - A Honda deixou a F-1 em
2008. A BMW vai sair no fim de
2009. Qual será a próxima montadora a sair, a Toyota?
ECCLESTONE - Elas vêm e vão o
tempo todo. Fazem o trabalho,
conseguem a promoção que
buscavam e vão. Entendem a
F-1 como um exercício de marketing. Não tenho ideia de qual
será a próxima, mas todas, inclusive a Toyota, têm um contrato assinado comigo de que
ficarão até o fim de 2012.
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