São Paulo, domingo, 18 de outubro de 2009

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"Morte de Senna foi boa para a F-1"

Em entrevista, Ecclestone, homem forte das pistas, lamenta tragédia, mas diz que ela trouxe publicidade para a categoria

Pragmático, bilionário que controla o esporte diz que torceu por Massa, que crê em Barrichello e que, se der, ajudará Nelsinho a voltar


FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Bernard Charles Ecclestone, 78, zanzava acelerado, ontem pela manhã, no paddock de Interlagos. Queria se certificar de que tudo daria certo num ensaio de moda para a "Playboy" americana. Conversou com os produtores, chamou a modelo, de roupão branco e que tomava garoa, para um café no seu escritório, levou todos aos boxes da Ferrari para algumas fotos.
Homem forte da F-1, dono de fortuna estimada em US$ 2,4 bilhões (cerca de R$ 4 bilhões), Bernie, como é conhecido desde os tempos em que se aventurava como piloto, nos anos 50, só atendeu a Folha quando tudo estava organizado. O mercado americano é uma obsessão.
E um ensaio assim pode atingir gente que normalmente não segue o automobilismo, explicou o inglês.
Mesmo motivo que o levou a dizer logo depois que a morte de Ayrton Senna, em 1994, foi boa para os negócios da F-1.
Antes da entrevista, apenas um pedido: perguntas pessoais estavam vetadas. Há alguns meses, Ecclestone namora uma brasileira, Fabiana Flosi, que trabalhava na empresa promotora do GP Brasil.

 

FOLHA - Campos, Manor, Lotus, USF1, a nova BMW... Quantas dessas equipes novas estarão em 2010?
BERNIE ECCLESTONE
- Todas parecem muito confiantes. A FIA checou as condições que elas têm para estrear na F-1 e também pareceu satisfeita.

FOLHA - Mas elas têm dinheiro?
ECCLESTONE
- Parece que sim. As pessoas falam em crise, mas há dinheiro por aí. Acabei de falar com um cara que quer comprar uma dessas equipes.

FOLHA - Então, quantas equipes você imagina no grid de Bahrein?
ECCLESTONE
- Eu ficaria muito feliz com 13.

FOLHA - De certa forma, esse grid mais cheio é uma volta ao passado?
ECCLESTONE
- Não. Estamos de volta para o futuro.

FOLHA - E o que você acha da ideia de três carros por equipe?
ECCLESTONE
- Uma estupidez. Não vai acontecer. Esqueça.

FOLHA - Esta é a última corrida da F-1 com a FIA sob a presidência de Max Mosley. Quais serão suas lembranças deste período?
ECCLESTONE
- Max e eu somos amigos há 35, 40 anos. Trabalhamos juntos, muito, em diversas coisas. Muitas vezes, temos diferentes opiniões sobre assuntos importantes. Algumas vezes não nos entendemos em nada, pensamos completamente diferente. Mas todo mundo vai sentir falta dele. As pessoas hoje não têm a consciência de tudo o que ele fez. Nós mudamos a F-1.

FOLHA - Jean Todt e Ari Vatanen concorrem à presidência da FIA na próxima sexta...
ECCLESTONE
- Vatanen não tem capacidade para o cargo. Ele não tem a experiência. Todt tem a experiência, trabalha duro, é um bom administrador. Trabalhamos bem quando ele estava na Ferrari.

FOLHA - Qual é a importância do GP Brasil para a F-1?
ECCLESTONE
- Eu trouxe a F-1 para o Brasil. É importante correr na América do Sul.

FOLHA - E sobre os EUA? A F-1 vai voltar para lá?
ECCLESTONE
- Estamos trabalhando com alguma coisa em Nova York. Mas trabalhar com americanos não é tão fácil quanto as pessoas acham que é.

FOLHA - Qual é sua opinião sobre Rubens Barrichello?
ECCLESTONE
- Ele foi segundo piloto muito tempo, fez bem isso. Gostaria de vê-lo caminhando com as próprias pernas.

FOLHA - Você acha que ele tem alguma chance neste ano?
ECCLESTONE
- Se ele tiver a chance de vencer a corrida e Jenson parar... Quem sabe?

FOLHA - Qual foi o impacto da morte de Ayrton Senna para a F-1?
ECCLESTONE
- Foi uma infelicidade. Mas a publicidade gerada foi tanta... Foi boa para a F-1. É uma pena que tenhamos perdido o Ayrton para isso acontecer. Ele era popular, mas muita gente que não o conhecia soube da F-1 por conta da publicidade gerada com sua morte.

FOLHA - O Brasil vai organizar a Copa e a Olimpíada. O país tem capacidade para receber esses eventos?
ECCLESTONE
- Por que não? Vocês podem, sim.

FOLHA - Um executivo inglês da empresa que administra o Paddock Club [área VIP nos circuitos] foi assaltado ao sair do aeroporto, sexta...
ECCLESTONE
- Essas coisas acontecem no mundo todo. Muita gente mora em São Paulo, é difícil de controlar. E tem muito a ver com as pessoas da F-1 tomarem precauções. Venho aqui há 35 anos e nunca aconteceu nada de errado comigo.

FOLHA - Sobre Nelsinho... É viável imaginá-lo no grid da F-1 em 2010?
ECCLESTONE
- Gostaria de ver isso. É um menino talentoso, que passou por períodos difíceis...

FOLHA - Você o ajudaria?
ECCLESTONE
- Sim, sim. Se eu puder ajudar, vou fazer. Sou amigo deles. Vi o Nelsinho bebê. Sou como seu padrinho.

FOLHA - Felipe Massa. Ele é um futuro campeão mundial?
ECCLESTONE
- Sim. Queria ele campeão em 2008...

FOLHA - Mas você é inglês.
ECCLESTONE
- Não tem essa de ser inglês. Eu só fiquei desapontado com a maneira como as coisas aconteceram. É claro que gostei de ver o Lewis [Hamilton] ser campeão, mas Felipe teve muito azar. E foi a Ferrari que perdeu aquele campeonato, não ele. Como ocorreu com Lewis no ano anterior.

FOLHA - A Honda deixou a F-1 em 2008. A BMW vai sair no fim de 2009. Qual será a próxima montadora a sair, a Toyota?
ECCLESTONE
- Elas vêm e vão o tempo todo. Fazem o trabalho, conseguem a promoção que buscavam e vão. Entendem a F-1 como um exercício de marketing. Não tenho ideia de qual será a próxima, mas todas, inclusive a Toyota, têm um contrato assinado comigo de que ficarão até o fim de 2012.


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