São Paulo, domingo, 18 de outubro de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

Campeão também perde


Time campeão não se faz só com vitórias. O São Paulo tri perdeu pontos imperdoáveis nas campanhas vitoriosas

TATA JÁ ERA auxiliar de Muricy no São Paulo que disputava o título brasileiro em 2006.
Com oito pontos de vantagem, o Tricolor viajou a Porto Alegre, para enfrentar o Grêmio, vice-líder. "Milton Cruz e eu não tínhamos lugar para assistir, tivemos que dar a volta pelo lado de fora do estádio. Quando nos acomodamos, vimos o Grêmio pressionando o São Paulo e pensamos... hoje não vamos escapar."
Há tropeços sem volta num torneio de pontos corridos. Perder para o vice-líder em 2006, no caso do São Paulo. Ou cair hoje contra o Flamengo em casa e completar oito pontos perdidos, dos últimos nove disputados, no caso do Palmeiras.
Esse tipo de vacilo, o campeonato não perdoa. Naquele Grêmio x São Paulo de 2006, nem tanto...
"Passaram-se alguns minutos, o Milton Cruz e eu assustados com a pressão gremista, olhamos para o placar eletrônico: Grêmio 0 x 1 São Paulo. O Danilo fez o gol aos 50 segundos, enquanto dávamos a volta pelo lado de fora do estádio, e não percebemos", lembra Tata.
Tropeços de verdade também podem provocar sustos, apenas sustos. O Palmeiras já desperdiçou dez pontos em casa, com empates com Santos, Grêmio, Botafogo, São Paulo e Avaí. Até agora, o campeonato perdoa, pois o São Paulo perdeu 15 pontos no Morumbi. Uma sequência de tropeços como a das últimas rodadas dá a impressão de um caso inédito, de que nunca um time foi campeão vacilando tanto. Mentira.
O São Paulo tricampeão perdeu pontos imperdoáveis em suas três campanhas vitoriosas. Em 2006, empatou com o rebaixado Fortaleza no Morumbi. Em 2008, outro empate, dessa vez com o Ipatinga. Em 2007, o Corinthians não ganhou de ninguém, mas venceu o São Paulo por 1 a 0, gol de Betão. Lembra?
Coisa exclusiva dos campeões do presente? Também não é. Em 1964, o Santos de Pelé caiu por 5 a 1 diante do Guarani, em Campinas. Durante anos, persistiu a ideia de que a goleada era fruto do cansaço, que o Santos desceu do avião, na volta de uma excursão, e seguiu direto para Campinas. Mas o Santos empatou com a Ferroviária por 0 a 0, na Vila Belmiro, três dias antes, com Pelé, Zito, Mengálvio... Em quatro dias, Pelé colecionou dois desses resultados que nos fazem dizer: "Esse time não vai ser campeão nunca!".
Nenhuma dessas histórias absolve o líder do campeonato de um empate ou uma derrota para o Flamengo, por mais que este tenha um time capaz de arrancar para a Libertadores. Se quer ser campeão, o Palmeiras precisa mostrar hoje à tarde. Mas, se não vencer, meu amigo Roberto Salim, palmeirense dos bravos, repetirá o que tem dito nas últimas semanas. Que o Palmeiras não tem jogador para ser campeão.
Aí, não. Palmeirense que se preza se lembra de um tropeço contra o Flamengo, desses que o tempo não perdoa. Na penúltima rodada de 2002, empate com o Flamengo no Parque Antarctica por 1 a 1. Se vencesse, escaparia do rebaixamento, selado na derrota para o Vitória, três dias mais tarde. Aquele era um time muito ruim. Os jogadores, não. Rebaixado, o Palmeiras alinhava Zinho, Arce, Dodô, Leonardo Moura, Fabiano Eller, os goleiros Sérgio e Marcos. Time campeão não se faz só com craques. Nem só com vitórias.

pvc@uol.com.br


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