São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 2002

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FUTEBOL

Anatomia do desastre

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Palmeiras e Botafogo, dois ex-campeões nacionais, duas glórias do futebol brasileiro, estão na segunda divisão. A Lusa, que já foi vice e pode ser considerada uma força intermediária, também caiu. Não há como negar: o momento é de comoção.
Se as regras forem respeitadas, os quatro rebaixados terão chance de tocar o pé no fundo do poço e iniciar um caminho de volta à superfície.
Ao mesmo tempo, nosso futebol terá uma chance única de mostrar que amadureceu. Será uma demonstração de saúde democrática análoga à das recentes eleições nacionais.
Mas, se, ao contrário, houver virada de mesa, quem sairá perdendo será o futebol brasileiro como um todo. Mais que isso: será o país inteiro. Precisamos de símbolos e indícios reais de que as coisas estão mudando no Brasil.
 
Enquanto o Palmeiras se afundava em Salvador, Claudecir e Magrão ajudavam decisivamente o São Caetano a vencer o Santos e garantir a vice-liderança na tabela. Embora separados por 2.000 quilômetros, os dois fatos simultâneos talvez tenham uma origem comum.
Tanto Magrão como Claudecir foram dispensados do Parque Antarctica antes do início do campeonato pelo então técnico do time, Wanderley Luxemburgo.
Seria injusto, contudo, atribuir a Luxemburgo a responsabilidade pela péssima campanha alviverde. Assim como seria injusto jogar a culpa nas costas de um só jogador (Alexandre, por exemplo, que falhou de modo primário no gol do Flamengo, quarta-feira, e no terceiro do Vitória, ontem).
O desastre palmeirense se deve, na verdade, a uma conjunção de fatores imediatos e remotos.
Alguns deles são óbvios e foram bastante comentados: política infeliz de contratações, troca excessiva de técnicos durante todo o campeonato, contusões de jogadores importantes em momentos decisivos etc.
Todos esses problemas podem ser corrigidos a curto prazo. Mas há uma questão mais profunda e duradoura, apontada com muita propriedade pelo leitor palmeirense Fernando Zucoloto, professor da USP em Ribeirão Preto: há décadas as categorias de base do Palmeiras não revelam craques para o time principal.
Compare-se, nesse aspecto, o alviverde com seus três grandes rivais paulistas e a diferença saltará aos olhos.
Na fase das vacas gordas da Parmalat, isso não era problema. Saía, por exemplo, um Edmundo, entrava um Muller. Saía um Zinho, entrava um Djalminha. Saía um Evair, entrava um Rivaldo. Saía um Cafu, entrava um Arce.
Com o dinheiro curto para grandes contratações, o investimento na formação de jogadores passa a ser crucial.
Mais do que nunca, fica evidente que tudo passa por uma administração honesta e eficiente, que saiba potencializar os recursos do clube.
Nesse aspecto, o tombo de agora pode ter um lado saudável para os palmeirenses.
Talvez seja a senha para o fim do reinado de Mustafá Contursi à frente do clube.
O fato de o candidato de oposição à presidência do Palmeiras ser alguém com a estatura ética e a competência profissional do economista Luiz Gonzaga Belluzzo pode ser um motivo de alento.
Quem sabe é essa a luz no fim do túnel?

Estrela solitária
No finzinho de Botafogo 0 x 1 São Paulo, Sandro chutou um adversário sem bola, foi expulso e queria mais briga. Um retrato perfeito do desespero botafoguense: o zagueiro raçudo, que salvou o time em tantas ocasiões, estava fora de si. Assim como o Palmeiras, o Fogão perdeu e mereceu cair. Por momentos, esteve perto de se salvar. No primeiro tempo, quando outros resultados o ajudavam, acertou três bolas na trave. Tomou o gol num contra-ataque. O futebol é decidido em centímetros, segundos, detalhes cruéis.

Prova de brio
Parabéns ao Internacional, que escapou da segundona com as próprias pernas. Parabéns também ao São Paulo e ao Gama. O primeiro, já líder, não facilitou para o Botafogo. O segundo, já rebaixado, não amoleceu para o Coritiba. Futebol é pra homem.

E-mail: jgcouto@uol.com.br



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