|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Anatomia do desastre
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Palmeiras e Botafogo, dois
ex-campeões nacionais, duas
glórias do futebol brasileiro, estão
na segunda divisão. A Lusa, que
já foi vice e pode ser considerada
uma força intermediária, também caiu. Não há como negar: o
momento é de comoção.
Se as regras forem respeitadas,
os quatro rebaixados terão chance de tocar o pé no fundo do poço
e iniciar um caminho de volta à
superfície.
Ao mesmo tempo, nosso futebol
terá uma chance única de mostrar que amadureceu. Será uma
demonstração de saúde democrática análoga à das recentes eleições nacionais.
Mas, se, ao contrário, houver virada de mesa, quem sairá perdendo será o futebol brasileiro como um todo. Mais que isso: será o
país inteiro. Precisamos de símbolos e indícios reais de que as coisas
estão mudando no Brasil.
Enquanto o Palmeiras se afundava em Salvador, Claudecir e
Magrão ajudavam decisivamente
o São Caetano a vencer o Santos e
garantir a vice-liderança na tabela. Embora separados por 2.000
quilômetros, os dois fatos simultâneos talvez tenham uma origem comum.
Tanto Magrão como Claudecir
foram dispensados do Parque Antarctica antes do início do campeonato pelo então técnico do time, Wanderley Luxemburgo.
Seria injusto, contudo, atribuir
a Luxemburgo a responsabilidade pela péssima campanha alviverde. Assim como seria injusto
jogar a culpa nas costas de um só
jogador (Alexandre, por exemplo,
que falhou de modo primário no
gol do Flamengo, quarta-feira, e
no terceiro do Vitória, ontem).
O desastre palmeirense se deve,
na verdade, a uma conjunção de
fatores imediatos e remotos.
Alguns deles são óbvios e foram
bastante comentados: política infeliz de contratações, troca excessiva de técnicos durante todo o
campeonato, contusões de jogadores importantes em momentos
decisivos etc.
Todos esses problemas podem
ser corrigidos a curto prazo. Mas
há uma questão mais profunda e
duradoura, apontada com muita
propriedade pelo leitor palmeirense Fernando Zucoloto, professor da USP em Ribeirão Preto: há
décadas as categorias de base do
Palmeiras não revelam craques
para o time principal.
Compare-se, nesse aspecto, o alviverde com seus três grandes rivais paulistas e a diferença saltará aos olhos.
Na fase das vacas gordas da
Parmalat, isso não era problema.
Saía, por exemplo, um Edmundo,
entrava um Muller. Saía um Zinho, entrava um Djalminha. Saía
um Evair, entrava um Rivaldo.
Saía um Cafu, entrava um Arce.
Com o dinheiro curto para
grandes contratações, o investimento na formação de jogadores
passa a ser crucial.
Mais do que nunca, fica evidente que tudo passa por uma administração honesta e eficiente, que
saiba potencializar os recursos do
clube.
Nesse aspecto, o tombo de agora
pode ter um lado saudável para
os palmeirenses.
Talvez seja a senha para o fim
do reinado de Mustafá Contursi à
frente do clube.
O fato de o candidato de oposição à presidência do Palmeiras
ser alguém com a estatura ética e
a competência profissional do
economista Luiz Gonzaga Belluzzo pode ser um motivo de alento.
Quem sabe é essa a luz no fim
do túnel?
Estrela solitária
No finzinho de Botafogo 0 x 1
São Paulo, Sandro chutou
um adversário sem bola, foi
expulso e queria mais briga.
Um retrato perfeito do desespero botafoguense: o zagueiro raçudo, que salvou o time
em tantas ocasiões, estava fora de si. Assim como o Palmeiras, o Fogão perdeu e mereceu cair. Por momentos, esteve perto de se salvar. No
primeiro tempo, quando outros resultados o ajudavam,
acertou três bolas na trave.
Tomou o gol num contra-ataque. O futebol é decidido
em centímetros, segundos,
detalhes cruéis.
Prova de brio
Parabéns ao Internacional,
que escapou da segundona
com as próprias pernas. Parabéns também ao São Paulo
e ao Gama. O primeiro, já líder, não facilitou para o Botafogo. O segundo, já rebaixado, não amoleceu para o Coritiba. Futebol é pra homem.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
Texto Anterior: Futebol: Real Sociedad mantém liderança e invencibilidade Próximo Texto: Futebol: Santos perde, mas se salva no saldo de gols Índice
|