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São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2003

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Cuca projeta o São Paulo com sangue "gringo"

Sebastião Nogueira/'O Popular'
Cuca, que adiou sua apresentação ao São Paulo, marcada para hoje, por causa da filha doente



Técnico recém-contratado quer ensinar catimba a atletas para tentar o título da Libertadores


EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL

"A coisa que mais dói na gente é ver os argentinos comemorando e pulando em círculo."
Alexis Stival, o Cuca, 40, pensa assim. Em entrevista à Folha, o novo técnico do São Paulo diz que nada o incomoda mais do que os "gringos". Por isso mesmo, ele foi contratado para dirigir o time do Morumbi em 2004, quando o clube paulista retorna à Taça Libertadores após ausência de dez anos, e quer transformar seus próprios comandados em "gringos".
Devoto da disciplina, o curitibano Cuca gosta de fazer corpo-a-corpo com os atletas, altera esquemas táticos no meio do jogo da mesma forma que substitui um atleta e diz que os atletas têm de aprender a sentir uma derrota.
Cuca é adepto do livro "A Arte da Guerra", de Sun Tzu, assim como Luiz Felipe Scolari, o último brasileiro a atingir o topo da América, com o Palmeiras, em 99.
 

Folha - O Rojas disse que conseguiu levar o São Paulo à Libertadores porque já conhecia os jogadores, não precisou de adaptação, período em que outros mais tarimbados sucumbiram à pressão. Você tem medo de não ter esse tempo?
Cuca -
Nós, profissionais que trabalhamos, temos a obrigação de conhecer os atletas. Eu conheço os clubes, o Cruzeiro, o Corinthians e o São Paulo também.

Folha - O que você acha do grupo do São Paulo, que a própria diretoria considerou limitado?
Cuca -
É um grupo diminuto, mas outros atletas estão chegando ao clube. Um time que ficou em terceiro lugar no Brasileiro, porém, tem qualidade.

Folha - Por que então o São Paulo não tem conseguido títulos?
Cuca -
Há necessidade de um time mais forte. O sonho, quando é de um só, não passa de sonho.

Folha - De que forma deve ser conduzido o trabalho para o clube voltar a vencer a Libertadores?
Cuca -
Temos de ter espírito de decisão e inteligência. Os gringos sabem muito bem fazer isso, nos tiram do sério. Eles provocam, puxam cabelo em campo, xingam, nos desestabilizam. Caímos nessa armadilha e somos derrotados. Temos de ser como os gringos nesse aspecto, porque na bola somos melhores.

Folha - Como pretende fazer isso?
Cuca -
No dia-a-dia. Na conversa particular. Eu gosto de trabalhar individualmente com os atletas nessa parte. Mas ainda falta discernimento aos brasileiros. Tem de saber catimbar.

Folha - O Luis Fabiano acabou prejudicando o São Paulo por sua indisciplina em 2003. Pretende fazer um trabalho especial com ele?
Cuca -
Ele se tornou um atleta muito visado, tudo o que acontece é culpa dele. Só tem um jeito de apagar isso: ele não ser mais expulso. Vou conversar com ele.

Folha - Você tem fama de ser um técnico disciplinador, que não aceita corpo mole de atleta...
Cuca -
A disciplina é a coisa mais bonita que existe. Exijo respeito, organização. Sempre trabalhei duro e quero um grupo assim.

Folha - Os reforços [Fabão, Rodrigo, Danilo, Vélber e Grafite e Cicinho] chegam para serem titulares?
Cuca -
Ninguém vai ser dono de camisa no meu time. Quando cheguei ao Goiás, diziam que havia muita panela lá. Eu falei que isso era ótimo. Eu gosto de panela, desde que caiba todo mundo nela.

Folha - Existe a possibilidade de você dispensar algum atleta? A diretoria do São Paulo disse que o novo técnico teria de trabalhar com o grupo que fosse definido por ela?
Cuca -
Eu vou fazer uma análise do grupo, só depois vou tomar alguma decisão, mas eu tenho autonomia para dispensar jogadores.

Folha - Como você pretende trabalhar com o Rojas?
Cuca -
Eu quero ter uma conversa com ele, natural. Se ele se encaixar à filosofia de trabalho, pode ser muito útil ao grupo.

Folha - Quem será seu auxiliar técnico. O seu irmão [Avlanis Stival, o Cuquinha] ou o Milton Cruz?
Cuca -
Eu trabalho com equipes sempre. Eles podem trabalhar juntos. Eu confio no Milton Cruz.

Folha - Como acabar com a fama de pipoqueiro do time?
Cuca -
Os jogadores têm de aprender a sentir uma derrota. A coisa que mais dói na gente é ver os argentinos comemorando.

Folha - O fato de jamais ter conseguido um título como treinador pode causar desconfiança na torcida?
Cuca -
A torcida quer saber o que você vai fazer, não o que já fez.


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