São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 2005

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TÊNIS

Após 3 anos parada, suíça se inspira em Davenport e Agassi, espera dupla com Navratilova, mas quer mesmo bater russa

No retorno, Hingis anseia por Sharapova

João Pires/FotoJump
Hingis fala à Folha


RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Quando Martina Hingis entra no restaurante, o barulho diminui. Os olhares se voltam para ela. A suíça ignora atenções, pessoas e a vista de Copacabana, 37 andares abaixo. Apesar do ar-condicionado, sente calor. Durante a conversa, só parou de falar para beber Coca-Cola light -duas latas.
A garota que ganhou raquete aos dois anos, estreou no circuito aos 13, chegou ao topo aos 16 e largou o esporte para viver a vida aos 22 descobriu, aos 25, que, em verdade, não há vida fora do tênis.
Seis dias depois de anunciar seu retorno, Hingis falou com exclusividade à Folha. Citou Venus Wil-liams, contou que se inspira em Lindsay Davenport e que espera Martina Navratilova. Mas, no fundo, quer só uma tenista: Maria Sharapova.
 

Folha - Você já tem 76 títulos, milhões de dólares, ficou no topo por mais de 200 semanas, enfim, tudo o que sabemos. Por que voltar?
Martina Hingis -
Eu amo o tênis, adoro jogar. Minha carreira teve de ser interrompida por causa de problemas físicos, mas agora acho que o corpo ainda agüenta.

Folha - Quando parou, imaginava que algum dia voltaria a jogar?
Hingis -
Ah, não. Só depois, como comentarista, nas exibições, comecei a pensar em me dar uma nova chance. Não sou velha! [risos] Tenho 25 anos, talvez seja a minha última chance. Não quero ir embora e continuar a vida sem ter ao menos tentado [voltar].

Folha - Teve um momento exato em que decidiu voltar? Vendo Mary Pierce, 30 anos, disputar títulos e...
Hingis -
[Interrompendo] Bem, não. Uma coisa levava à outra: jogar exibições, depois torneios beneficentes, sentir-se bem fisicamente, jogar um set, depois dois...

Folha - Ver a veterana Lindsay Davenport, sua ex-rival, voltar ao topo, serve de inspiração?
Hingis -
Claro! Lindsay, Mary Pierce, Mauresmo, estão aí, no topo... Sharapova é a única estrela nova, que eu nunca enfrentei.

Folha - E ouvi falar que você está louca para enfrentar Sharapova...
Hingis -
Sim!

Folha - Em uma final de Grand Slam, seria esse o cenário ideal?
Hingis -
Tomara! Mas esta é uma idéia sua, olhando longe. Se chegar à final de um Grand Slam, já estarei feliz. Mas enfrentar Sharapova, a qualquer hora, mesmo numa primeira rodada, semifinal, não importa, adoraria.

Folha - Ganhar de Sharapova e chegar a número cinco, por exemplo, seria o suficiente para você?
Hingis -
Não dá para dizer.

Folha - Você traçou metas?
Hingis -
Não. O mais importante é jogar em alto nível. Agora, ganhar ou perder... É claro prefiro ganhar, mas jogar bem um Grand Slam, talvez seja esse o objetivo.

Folha - Pretende jogar o máximo de torneios ou focar em alguns?
Hingis -
Então, planejei só voltar na Austrália e ver o que rola.

Folha - Você está mentalmente pronta para o circuito?
Hingis -
Claro. Lembre que eu fiquei três anos em férias! [risos]

Folha - E como era sua rotina?
Hingis -
Eu estudei bastante...

Folha - Em Zurique...
Hingis -
Sim... Fiz trabalhos como comentarista, brinquei com meus cavalos, esquiei, joguei tênis, participei de eventos...

Folha - Muitos estão excitados porque, com a sua volta, a Suíça pode ser o país do tênis.
Hingis -
[risos]

Folha - Você conversou com Roger Federer [suíço número um do mundo] recentemente?
Hingis -
Sim. Recebi uma mensagem: "Bom ter você de volta, sentimos sua falta".

Folha - Gentil da parte dele.
Hingis -
Sem dúvida. Ele é o máximo e merece o sucesso.

Folha - O tênis mudou muito?
Hingis -
Ficou mais atlético. Mas as pessoas ainda estão aí. E olha Agassi, com 35, ainda jogando, competitivo, então acho que é possível. Hoje, eu me acho "tenista de meia-idade", não velha.

Folha - Dizem que você vai formar dupla com Martina Navratilova.
Hingis -
Quem sabe? Fizemos exibições, sempre eu contra ela. Ela sabe como eu jogo, então... Ela tem o meu telefone. [risos]

Folha - Você voltará ao circuito acompanhada da sua mãe?
Hingis -
[Séria] Eu estou apenas treinando na academia dela.

Folha - Chris Evert disse que você chegará a ser top 6, mas não a 1.
Hingis -
É a opinião dela. Como disse, não tracei metas. Não vou ficar desapontada.

Folha - É muito difícil acreditar que você não traçou objetivos...
Hingis -
Como poderia?

Folha - E tecnicamente quais...
Hingis -
[Interrompendo] Eu lhe digo quais são meus objetivos depois do Aberto da Austrália, ok?

Folha - Você foi vitoriosa. Agora, pode apanhar. Isso não assusta?
Hingis -
Isso [perder] vai acontecer. Eu estou correndo o risco.

Folha - Só porque ama o tênis...
Hingis -
Claro! O tênis deu o que tenho, deu esta vida que levo.

Folha - O que mais sentia falta?
Hingis -
A atmosfera, os grandes torneios, a adrenalina, o público...

Folha - Dizem que você volta porque não suporta ver Sharapova como a queridinha do público.
Hingis -
[Risos irônicos] Ah, claro! Tenho taaaanto ciúme dela!

Folha - É mentira, então...
Hingis -
Volto pelo desafio. Depois que parei, estudar foi o desafio. Agora, é voltar e jogar bem.

Folha - Você citou Davenport e Agassi. São eles em quem espelha?
Hingis -
Sem dúvida. Estão aí, ano após ano, disputando e ganhando títulos. Mary Pierce também. E gosto de ver Roger jogar, ele é um gênio, e as Williams.

Folha - E Venus Williams?
Hingis -
Também. Ela sempre tirou o melhor tênis de mim, sempre. Os melhores jogos que disputei foram com ela. Mas como lhe disse, adoraria jogar com Maria.

Folha - Se você pegar Sharapova na estréia na Austrália e vencer...
Hingis -
Você está insistindo nisso. [Risos] Não tracei objetivos, juro. [Séria] Se pegar Sharapova na estréia, ótimo. Se for depois, melhor ainda. Vamos ver a chave, o que acontece, se será na Austrália, se mais tarde. Mas, quando a gente se encontrar, aí, azar de uma de nós [risos].


O colunista Régis Andaku viajou ao Rio para esta entrevista a convite da Koch Tavares

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