São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUCA KFOURI

A Terra é vermelha e surpreende

O ano de 2006 termina com uma nova surpresa e uma nova prova de que não há nada como o futebol

QUEM APOSTAVA no Inter?
Desculpe a imodéstia, mas este colunista apostava. E até no placar modesto e apertado de 1 a 0.
Em primeiro lugar, porque, com quase 50 anos de muito futebol, uma lição, ao menos, era mesmo para ter aprendido: ninguém ganha no futebol por antecipação.
Em segundo lugar porque este ano de 2006 já vinha sendo prodigioso em matéria de surpresas. No calendário chinês, este é o ano do cão. Mas no japonês, ou no do futebolês, é o ano da zebra.
Quem diria que o Botafogo seria o campeão carioca diante do favoritismo do rico Fluminense?
Ou que em São Paulo o Santos superaria o campeão mundial São Paulo e o milionário campeão brasileiro Corinthians?
Ou que em vez do hexacampeonato do Brasil na Alemanha veríamos o tetra italiano?
Ou que o Estudiantes roubaria o tri do Boca Juniors?
Ou, ainda, que o mexicano Pachuca venceria a Copa Sul-Americana ao bater o Colo-Colo no Chile?
Pois já estava decretado que o Barcelona seria o campeão mundial de clubes, como, no ano passado, decretou-se que seria o Liverpool. E deu São Paulo e deu Inter.
Pelos mesmos 1 a 0, o do tricolor conseguido aos 26min do primeiro tempo, gol de Mineiro, e mantido com competência.
O do colorado obtido aos 37min do segundo tempo, Adriano, e administrado também com segurança. Só dá brasileiros nos Mundiais desde que a Fifa os assumiu.
No primeiro, em 2000, decidiram entre si, e o Corinthians derrotou o Vasco apenas nos pênaltis, depois de um 0 a 0.
E no segundo e no terceiro o São Paulo e o Inter derrotaram ingleses e espanhóis.
Curioso observar que não faz muito tempo nossos times se baseavam no talento individual de seus craques que desequilibravam. Ontem os desequilibradores estavam do outro lado, embora nascidos no Brasil, casos de Ronaldinho e Deco, naturalizado português.
Tem sido o conjunto que tem falado mais alto, a organização e disciplina táticas, aspectos não negligenciados pelo Barcelona, ao contrário, mas que foram a marca registrada tanto do São Paulo de Paulo Autuori quanto deste Inter de Abel Braga, que não apelou.
Os idiotas da objetividade já cantavam a vitória européia, porque visceralmente colonizados, ainda que com DNA de cachorro vira-lata.
O impressionante show dado pelos catalães diante dos mexicanos do América, de fato, tinha sido impressionante e era para ser cantado mesmo em prosa e verso.
Mas foi dado num jogo. E um jogo é um jogo, outro jogo é outro jogo.
Contra o Inter, era óbvio ululante que seria outro jogo, com o que deixo de incomodar Nelson Rodrigues e suas frases imortais. E neste outro jogo tinha o imponderável do futebol potencializado a enésima potência, porque era uma decisão de Mundial de Clubes.
E é nessas ocasiões em que tudo pode acontecer, em que o Sobrenatural de Almeida (como deixar de incomodá-lo?) dá o ar de sua graça.
Por exemplo: acontece de um Iarley, cearense de Quixeramobim, puxar um contra-ataque mortal, pisar na bola, deixar o europeu com saúde de vaca premiada (olha o Nelson aí, de novo...) Puyol na saudade, escolher o Adriano mais experiente para passar a bola e o tal Gabiru, alagoano cabra macho, que entrara simplesmente no lugar do apolíneo capitão Fernandão, para fazer o gol do título.
Porque isso tem nome e o nome disso é futebol.
Que consagrou mais um grande campeão e atura até os idiotas que dirão que Ronaldinho amarelou.


blogdojuca@uol.com.br

Texto Anterior: Festa fecha avenidas de Porto Alegre
Próximo Texto: Daiane brilha e ganha novo status
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.