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JUCA KFOURI
A Terra é vermelha e surpreende
O ano de 2006 termina com uma nova surpresa e uma nova prova de que
não há nada como o futebol
QUEM APOSTAVA no Inter?
Desculpe a imodéstia, mas
este colunista apostava.
E até no placar modesto e apertado de 1 a 0.
Em primeiro lugar, porque, com
quase 50 anos de muito futebol, uma
lição, ao menos, era mesmo para ter
aprendido: ninguém ganha no futebol por antecipação.
Em segundo lugar porque este
ano de 2006 já vinha sendo prodigioso em matéria de surpresas.
No calendário chinês, este é o ano
do cão. Mas no japonês, ou no do futebolês, é o ano da zebra.
Quem diria que o Botafogo seria o
campeão carioca diante do favoritismo do rico Fluminense?
Ou que em São Paulo o Santos superaria o campeão mundial São
Paulo e o milionário campeão brasileiro Corinthians?
Ou que em vez do hexacampeonato do Brasil na Alemanha veríamos o
tetra italiano?
Ou que o Estudiantes roubaria o
tri do Boca Juniors?
Ou, ainda, que o mexicano Pachuca venceria a Copa Sul-Americana
ao bater o Colo-Colo no Chile?
Pois já estava decretado que o Barcelona seria o campeão mundial de
clubes, como, no ano passado, decretou-se que seria o Liverpool.
E deu São Paulo e deu Inter.
Pelos mesmos 1 a 0, o do tricolor
conseguido aos 26min do primeiro
tempo, gol de Mineiro, e mantido
com competência.
O do colorado obtido aos 37min
do segundo tempo, Adriano, e administrado também com segurança.
Só dá brasileiros nos Mundiais
desde que a Fifa os assumiu.
No primeiro, em 2000, decidiram
entre si, e o Corinthians derrotou o
Vasco apenas nos pênaltis, depois de
um 0 a 0.
E no segundo e no terceiro o São
Paulo e o Inter derrotaram ingleses
e espanhóis.
Curioso observar que não faz muito tempo nossos times se baseavam
no talento individual de seus craques que desequilibravam.
Ontem os desequilibradores estavam do outro lado, embora nascidos
no Brasil, casos de Ronaldinho e Deco, naturalizado português.
Tem sido o conjunto que tem falado mais alto, a organização e disciplina táticas, aspectos não negligenciados pelo Barcelona, ao contrário,
mas que foram a marca registrada
tanto do São Paulo de Paulo Autuori
quanto deste Inter de Abel Braga,
que não apelou.
Os idiotas da objetividade já cantavam a vitória européia, porque visceralmente colonizados, ainda que
com DNA de cachorro vira-lata.
O impressionante show dado pelos catalães diante dos mexicanos do
América, de fato, tinha sido impressionante e era para ser cantado mesmo em prosa e verso.
Mas foi dado num jogo.
E um jogo é um jogo, outro jogo é
outro jogo.
Contra o Inter, era óbvio ululante
que seria outro jogo, com o que deixo de incomodar Nelson Rodrigues
e suas frases imortais.
E neste outro jogo tinha o imponderável do futebol potencializado a
enésima potência, porque era uma
decisão de Mundial de Clubes.
E é nessas ocasiões em que tudo
pode acontecer, em que o Sobrenatural de Almeida (como deixar de incomodá-lo?) dá o ar de sua graça.
Por exemplo: acontece de um Iarley, cearense de Quixeramobim, puxar um contra-ataque mortal, pisar
na bola, deixar o europeu com saúde
de vaca premiada (olha o Nelson aí,
de novo...) Puyol na saudade, escolher o Adriano mais experiente para
passar a bola e o tal Gabiru, alagoano
cabra macho, que entrara simplesmente no lugar do apolíneo capitão
Fernandão, para fazer o gol do título.
Porque isso tem nome e o nome
disso é futebol.
Que consagrou mais um grande
campeão e atura até os idiotas que
dirão que Ronaldinho amarelou.
blogdojuca@uol.com.br
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