São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

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Daiane brilha e ganha novo status

Com acrobacia mais difícil no solo, ginasta se torna a primeira negra a obter dois ouros seguidos em torneios de elite

Beneficiada por contusão de Fei Cheng, favorita na prova, brasileira ganha finalíssima da Copa do Mundo em nova jornada vitoriosa no Brasil


CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Daiane dos Santos se tornou a primeira ginasta negra a conquistar o bicampeonato de um torneio da elite da ginástica.
Ao exibir um salto de maior dificuldade em sua série, a gaúcha levou o ouro no solo na finalíssima da Copa do Mundo, no ginásio do Ibirapuera.
Diante de cerca de 9.000 pessoas, a atleta mostrou que, em casa, é imbatível. Levantou o público ao som de "Isto aqui, o que é?", tirou sua maior nota pelo novo código de pontuação -15,600- e faturou seu terceiro ouro em etapas no Brasil. De quebra, viu Laís Souza alcançar o bronze e propiciar a dobradinha no pódio do torneio.
"Eu venci no Rio, aqui em São Paulo no ano passado e agora de novo. Hoje foi o dia dos gaúchos, menos o do Ronaldinho", brincou Daiane, que é corintiana, mas afirmou ter torcido pelo time de seu pai na final do Mundial de Clubes da Fifa. "Eu agora sou bi, pelo Inter e minha filha", disse Moacir dos Santos.
Daiane cumpriu sua série em 1min26s e lançou mão de suas melhores acrobacias, o duplo twist carpado (duplo mortal para a frente com as pernas esticadas) e o tsukahara estendido (mortal de costas com pirueta e as pernas esticadas).
"Consegui mostrar a cara do Brasil. Independentemente de eu ser a única negra na competição, sei que vitórias como essa ajudaram a mudar as coisas na ginástica artística, apesar de o Brasil esconder o preconceito", afirmou a atleta, que disputou seu terceiro torneio no ano.
Segundo a Federação Internacional de Ginástica, nenhuma atleta negra conseguiu tantos feitos em provas individuais. O destaque sempre foi Dominique Dawes (EUA), que tem um ouro por equipe e dois bronzes em Olimpíadas.
A gaúcha foi beneficiada pelo fato de a chinesa Fei Cheng, favorita da prova, atuar contundida no tornozelo e ter cometido uma queda -a campeã mundial por pouco não abandonou o torneio, já que, pela manhã, sentiu a lesão e chorou.
"A ginástica é cruel, nunca pensei que ela [Fei Cheng] fosse errar. Mas eu nem torci contra. Juro", afirmou Daiane, 23.
Não mesmo, porque, antes de entrar no tablado, ficou cabisbaixa, compenetrada. Nem viu a exibição de Daniele Hypólito, que acabou em quarto.
"Naquela hora, rezo, repasso a série, fica concentrada. E nem ouço o público", disse Daiane.
Com a vitória, a atleta ratificou a condição de líder do ranking mundial de solo e se isolou como a ginasta do país com mais ouros na Copa -dez.
"Não sei explicar o sucesso do país no solo, acho que tem a ver o com o jeito do brasileiro", afirmou a atleta, que, como na finalíssima de Birmingham-2004, protagonizou dobradinha com Diego Hypólito, que anteontem se tornou o mais jovem bicampeão da história.
Para aumentar a festa, Laís terminou em terceiro, com 14,925, atrás de Daiane e da britânica Elizabeth Tweddle, que levou a prata (15,200). A ginasta paulista ainda eximiu a arbitragem, que foi vaiada pelos torcedores. "O público é assim. Mas foi justa a avaliação. E eu estou superfeliz, pois me dei um outro presente", diz a atleta, que já levara a prata no salto.
Após a festa de um final de semana histórica para a ginástica brasileira, as atletas viajaram para o Guarujá, onde ocorreria a festa de encerramento.


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