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Daiane brilha e ganha novo status
Com acrobacia mais difícil no solo, ginasta se torna a primeira negra a obter dois ouros seguidos em torneios de elite
Beneficiada por contusão de Fei Cheng, favorita na prova, brasileira ganha finalíssima da Copa do Mundo em nova jornada vitoriosa no Brasil
CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Daiane dos Santos se tornou
a primeira ginasta negra a conquistar o bicampeonato de um
torneio da elite da ginástica.
Ao exibir um salto de maior
dificuldade em sua série, a gaúcha levou o ouro no solo na finalíssima da Copa do Mundo,
no ginásio do Ibirapuera.
Diante de cerca de 9.000 pessoas, a atleta mostrou que, em
casa, é imbatível. Levantou o
público ao som de "Isto aqui, o
que é?", tirou sua maior nota
pelo novo código de pontuação
-15,600- e faturou seu terceiro ouro em etapas no Brasil. De
quebra, viu Laís Souza alcançar
o bronze e propiciar a dobradinha no pódio do torneio.
"Eu venci no Rio, aqui em São
Paulo no ano passado e agora
de novo. Hoje foi o dia dos gaúchos, menos o do Ronaldinho",
brincou Daiane, que é corintiana, mas afirmou ter torcido pelo time de seu pai na final do
Mundial de Clubes da Fifa. "Eu
agora sou bi, pelo Inter e minha
filha", disse Moacir dos Santos.
Daiane cumpriu sua série em
1min26s e lançou mão de suas
melhores acrobacias, o duplo
twist carpado (duplo mortal
para a frente com as pernas esticadas) e o tsukahara estendido (mortal de costas com pirueta e as pernas esticadas).
"Consegui mostrar a cara do
Brasil. Independentemente de
eu ser a única negra na competição, sei que vitórias como essa
ajudaram a mudar as coisas na
ginástica artística, apesar de o
Brasil esconder o preconceito",
afirmou a atleta, que disputou
seu terceiro torneio no ano.
Segundo a Federação Internacional de Ginástica, nenhuma atleta negra conseguiu tantos feitos em provas individuais. O destaque sempre foi
Dominique Dawes (EUA), que
tem um ouro por equipe e dois
bronzes em Olimpíadas.
A gaúcha foi beneficiada pelo
fato de a chinesa Fei Cheng, favorita da prova, atuar contundida no tornozelo e ter cometido uma queda -a campeã
mundial por pouco não abandonou o torneio, já que, pela
manhã, sentiu a lesão e chorou.
"A ginástica é cruel, nunca
pensei que ela [Fei Cheng] fosse errar. Mas eu nem torci contra. Juro", afirmou Daiane, 23.
Não mesmo, porque, antes de
entrar no tablado, ficou cabisbaixa, compenetrada. Nem viu
a exibição de Daniele Hypólito,
que acabou em quarto.
"Naquela hora, rezo, repasso
a série, fica concentrada. E nem
ouço o público", disse Daiane.
Com a vitória, a atleta ratificou a condição de líder do ranking mundial de solo e se isolou
como a ginasta do país com
mais ouros na Copa -dez.
"Não sei explicar o sucesso
do país no solo, acho que tem a
ver o com o jeito do brasileiro",
afirmou a atleta, que, como na
finalíssima de Birmingham-2004, protagonizou dobradinha com Diego Hypólito, que
anteontem se tornou o mais jovem bicampeão da história.
Para aumentar a festa, Laís
terminou em terceiro, com
14,925, atrás de Daiane e da britânica Elizabeth Tweddle, que
levou a prata (15,200). A ginasta paulista ainda eximiu a arbitragem, que foi vaiada pelos
torcedores. "O público é assim.
Mas foi justa a avaliação. E eu
estou superfeliz, pois me dei
um outro presente", diz a atleta, que já levara a prata no salto.
Após a festa de um final de
semana histórica para a ginástica brasileira, as atletas viajaram para o Guarujá, onde ocorreria a festa de encerramento.
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