São Paulo, sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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Brasil bate seu recorde de casos de doping

Mesmo antes de 2009 terminar, 47 atletas são flagrados em seus exames

Marca anterior do país era de 2004, com 31 exames positivos, e a expectativa de especialistas é que o número cresça ainda mais em 2010

DA REPORTAGEM LOCAL

No ano em que conquistou o direito de receber a Olimpíada de 2016, o Brasil quebrou um recorde no esporte. O país superou a sua marca de atletas flagrados em exames antidoping, com 47 registros.
Antes, o número máximo de competidores que testaram positivo era 31, em 2004.
Mesmo sem ainda encerrar o ano e com a chance de mais casos serem detectados em provas como a São Silvestre, integrantes do Comitê Olímpico Brasileiro já começaram a analisar os números da temporada.
"Existem algumas explicações [para o aumento do número de casos]. Primeiro, há mais federações fazendo exames. Antes, só a natação e o futebol tinham mais controle", diz o médico Eduardo de Rose, da área de controle de doping do COB e membro da Wada (Agência Mundial Antidoping).
O número total de exames realizados no país em 2009, no entanto, ainda não foi fechado.
A estimativa é que cerca de 5.000 testes tenham sido aplicados. Em 2008, foram 4.621.
Outro ponto responsável pelo crescimento do número de casos é a qualidade dos exames, em sua maioria realizados no Ladetec, único laboratório credenciado pela Wada no país.
"Houve alguma mudança também na forma. Antes, ou se fazia o sorteio ou analisávamos os três primeiros colocados. Agora, existem mais controles fora de competição e dirigidos", completou De Rose.
Neste ano, o maior número de casos ocorreu no atletismo, que teve 17 atletas flagrados.
O caso mais emblemático foi o do doping sistemático com competidores da equipe Rede Atletismo, em Presidente Prudente, divulgado em agosto.
Treinados por Jayme Netto Jr. e Inaldo Sena, cinco atletas testaram positivo para a substância EPO (eritropoietina) em exame fora de competição, realizado no dia 15 de junho, e outros dois assumiram ter participação no esquema.
"Analisamos treinos e resultados. E até eventuais denúncias fazem parte da nossa central de inteligência. Isso integra o que a Iaaf [entidade que gerencia o atletismo mundial] determinou em 2007. Não adianta fazer um monte de exames e gastar dinheiro sem qualidade", diz o advogado Thomaz Mattos de Paiva, da agência antidoping da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo).
"Existem várias formas e informações que te levam ao atleta que utiliza a substância ilícita. A variação do peso, mudanças na pele, maior incidência de acnes, melhora de performance...", explica De Rose.
Para os especialistas, os casos não cairão em 2010. "Num primeiro passo, os casos de doping devem aumentar, mas, depois, a tendência é diminuírem para chegarmos a números, em tese, aceitáveis", afirma Paiva.
"Este ano assustou, mas há focos que ainda estamos estudando. O combate continuará a ser rigoroso, e vamos aumentar o número de exames para cerca de 800", completa ele.
A CBAt realizou, até agora, cerca de 620 testes. E já adquiriu maior número de kits para aplicar mais exames em 2010.
A substância que mais foi usada neste ano foi a EPO, que melhora a oxigenação do sangue, com 12 casos. "Em geral, se o sujeito tomou um anabólico, foi por má-fé. Os casos de flagrantes com estimulante e diurético podem ser casuais", afirma De Rose. (CRISTIANO CIPRIANO POMBO E JOSÉ EDUARDO MARTINS)


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