São Paulo, sábado, 18 de dezembro de 2010

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JOSÉ GERALDO COUTO

Corvos e zebras


Todo mundo (ou quase) torce para que hoje o Mazembe apronte de novo e possa redimir a África

O ZAGUEIRÃO Lúcio virou persona non grata no clube que o revelou ao dizer que o Internacional "comemorou antes da hora" e por isso foi derrotado pelo Mazembe.
Referia-se à festa de despedida do Colorado no Beira-Rio, diante de 30 mil torcedores, antes da viagem para Abu Dhabi.
A inesperada derrota do Inter reacendeu a velha discussão sobre "salto alto" no futebol. Será que os atletas colorados subestimaram o adversário e entraram em campo em clima de "já ganhou"?
Talvez. O que aconteceu com o Inter, a meu ver, é a repetição do que ocorre de quando em quando com clubes brasileiros e com a seleção ao se defrontarem com equipes teoricamente mais fracas.
A síndrome vem pelo menos desde a final da Copa de 1950 e consiste mais ou menos no seguinte: há inicialmente um excesso de confiança e de otimismo, a ponto de o adversário ser praticamente ignorado; ao primeiro tropeço ou dificuldade, o estado de espírito se inverte.
O time parece levar um susto ao tomar conhecimento de que existe um oponente, passando a agir então com ansiedade, afobação e, por fim, desespero.
Foi assim em 1950 e foi assim, por exemplo, na final da Copa de 1998, contra a França. Se, no Stade de France, houve um relaxamento do time de Zagallo depois da eletrizante vitória sobre a Holanda na semifinal, em Abu Dhabi a equipe colorada parece ter relaxado depois de ver o Pachuca ser eliminado pelos azarões congoleses.
Mesmo que o discurso de treinador e atletas fosse o de "respeito ao adversário", o fato é que nem o corvo Edgar, do Xico Sá, campeão dos secadores, acreditava de verdade nas possibilidades do Mazembe. Os colorados, do presidente do clube ao roupeiro, já estavam pensando na final com a Inter de Milão. O jogo contra os africanos era visto, no íntimo de cada um, como um treino para ganhar condicionamento físico.
Cabe observar se a Internazionale de Lúcio e companhia não vai cair hoje na mesma armadilha psicológica. Os secadores de todo o mundo torcem para que isso aconteça. Pouco provável, claro, mas quem sabe? Onde cabem duas zebras cabem três.
O futebol provaria que é mesmo o mais "democrático" e imprevisível dos esportes.
E a África, esse continente enigmático, que tem a zebra como um de seus símbolos, obteria uma redenção tardia, depois da decepção de suas seleções nacionais na Copa-2010.

jgcouto@uol.com.br


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