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FUTEBOL
A busca do desequilíbrio
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
D esde a Copa de 1958, na
Suécia, os laterais brasileiros
gostam de avançar. Ficaram famosos os gritos do Feola para o
Nilton Santos voltar para a defesa. Ele desobedeceu, ou não escutou, e fez um dos gols do Brasil na
vitória de 3 a 0 contra a Áustria.
Nessa época, escutava os jogos
pelo rádio e já diziam que o futebol é uma caixinha de surpresas,
que o craque estava de salto alto e
outros chavões.
Havia também muitas falcatruas. Mas não existiam muitas
outras coisas ruins e chatas que
vemos hoje nem outras coisas
boas que temos atualmente, assunto para uma próxima coluna.
Os grandes laterais brasileiros
continuaram no ataque, sem deixar de serem bons na defesa, como Djalma Santos, Carlos Alberto, Leandro, Nelinho (que é excelente comentarista), Jorginho, Júnior, Leonardo, Branco, Cafu, Roberto Carlos, entre outros.
Já os laterais europeus só pensam na defesa. Os poucos habilidosos vão atuar no meio-campo
ou de alas, no esquema com três
zagueiros. No máximo, um dos
dois é escalado para atacar. Por
isso, Cafu e Serginho raramente
atuam juntos no Milan. Os bitolados técnicos da Europa não gostam da criativa solução brasileira
de alternar o avanço dos laterais
de acordo com o momento.
Mesmo assim, os técnicos europeus sempre morreram de medo
dos avanços do Cafu e do Roberto
Carlos. Mas o tempo passa. Cafu
tem atuado pouco e pior do que
antes, e Roberto Carlos é, hoje,
um lateral mais com estilo europeu do que brasileiro.
Com os 20 dias de descanso e de
treinos antes da Copa e pela vontade de encerrarem bem suas carreiras na seleção, Cafu e Roberto
Carlos podem ainda brilhar no
Mundial. Ainda mais que recauchutaram o Cafu.
Roberto Carlos precisa também
retirar a máscara que usa para
jogar em algumas ocasiões.
A seleção brasileira sempre jogou com um volante bastante recuado ou com um terceiro zagueiro, como na Copa de 2002, com a
finalidade de fazer a cobertura
dos laterais. Cafu e Roberto Carlos podiam avançar livremente.
No Mundial da Alemanha, isso
será mais difícil de acontecer. O
volante não pode abandonar o
meio-campo, pois o outro ficará
sozinho, já que os dois meias são
muito mais armadores e atacantes do que marcadores.
Como são dois zagueiros, um
não poderá também sair muito
para as laterais. Como isso será,
algumas vezes, inevitável, prefiro
zagueiros mais velozes e com as
pernas compridas, como é o caso
de Lúcio e Luisão.
Mas vale a pena arriscar. O
avanço dos laterais, pelo menos
um de cada vez, e o quarteto ofensivo formado pelos dois meias e
dois atacantes são fundamentais.
Além disso, o equilíbrio perfeito
e a pura razão inibem a liberdade, a ousadia e a paixão.
O Brasil só vai ganhar e brilhar
intensamente na Copa se tiver
um certo desequilíbrio. É preciso
buscá-lo, com equilíbrio.
Pontas-de-lança
Na coluna anterior sobre a evolução tática, parei no WM ou no
3-2-2-3. Como um dos meias chegava em velocidade, como uma
lança, na área adversária, era
chamado de ponta-de-lança. Para marcá-lo, os técnicos recuaram
um dos médios para a zaga, que
passou a ser o quarto zagueiro.
Antes havia um zagueiro central
e mais um de cada lado.
Erroneamente, até hoje o zagueiro esquerdo é chamado de
quarto-zagueiro, e o da direita, de
zagueiro central.
Como uma equipe não podia
ter apenas um jogador no meio-campo, os técnicos recuaram
mais ainda o meia ofensivo, que
passou a ser o meia-armador.
Assim, se formou o 4-2-4, com
uma linha de quatro defensores,
um armador mais defensivo (volante), um meia-armador e quatro jogadores mais adiantados
(dois pontas, um centroavante e o
ponta-de-lança).
O ponta-de-lança, geralmente
camisa 10, costumava ser o craque do time, como Pelé, Maradona, Cruyff, Zico e tantos outros.
Ele era uma mistura do atacante
de hoje, que recua para receber a
bola, com o meia-atacante (Alex,
Roger), que atua próximo dos
dois da frente. Já o meia-armador, como Ricardinho, participa
da marcação, da organização do
meio-campo e, às vezes, ainda
chega ao ataque para fazer gols.
Durante muito tempo, a maioria dos times brasileiros, como a
seleção em 1954 e o Santos de Pelé, jogou no 4-2-4. Dele, surgiu o
4-3-3, esquema a ser tratado em
uma próxima coluna.
E-mail :
tostao.folha@uol.com.br
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