São Paulo, terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Atravessei o estacionamento do circo e com um guarda-chuva na cabeça fui assistir a São Caetano x Rio Claro

NESTA TERÇA eu queria falar sobre algo que só eu tivesse visto. Nada de escrever sobre a vitória do Flamengo, mais um empate do Corinthians ou a derrota do São Paulo. Eu queria uma coisa diferente, exclusiva. E consegui.
Com um guarda-chuva sobre a cabeça, atravessei o estacionamento do circo Stankovich e cheguei à porta lateral do estádio Ulrico Mursa, em Santos, onde haveria o jogo entre São Caetano e Rio Claro, dois times na zona do rebaixamento (o mando era do São Caetano, que está com seu estádio interditado).
Foi o menor público deste Campeonato Paulista. Apenas 102 pagantes. Mas havia 165 pessoas. Posso garantir, porque contei cada uma delas. Até os nove familiares do bom zagueiro Douglão, os 22 amigos de um dirigente do Rio Claro, e os 13 policiais militares.
Aliás, eles não tiveram muito trabalho. Bastou uma corda e um policial para manter as duas torcidas organizadas afastadas. A do São Caetano tinha cerca de 40 pessoas. O dobro da do Rio Claro. Mas, espalhadas pelas laterais do campo, havia 12 faixas. Uma para cada cinco torcedores organizados.
O jogo começa e, logo no primeiro ataque, Luan acerta um lindo chute de fora da área, encobrindo o goleiro Luís Henrique. Um a zero para o São Caetano.
Só depois do gol chegam Luiz Silva, 42, torcedor da Portuguesa, e seus dois filhos: Rodrigo, 11, cruzeirense, e Ricardo, 8, o único torcedor legítimo do São Caetano na família. Pergunto por que ele torce para o São Caetano e ele diz: "Eu torço para ele porque ele começou a ser bom." "Desde quando?" "Desde que eu nasci."
É verdade. Em 2000 e 2001, o São Caetano obteve um bivice-campeonato brasileiro. Mas o amor de Ricardo pelo time começou um pouco depois, em 2004, quando o pai lhe deu uma camisa do Azulão. Como naquele ano o clube foi campeão paulista, Ricardo virou fã.
Falando em camisas, o pai de Ricardo lamenta que não haja sequer um vendedor pelas redondezas, pois queria comprar novas camisas do time. Em compensação, comemora a facilidade para estacionar o automóvel. "Nem tem guardador de carro."
Aos 18 minutos, um zagueiro do Rio Claro manda a bola para fora do estádio. Alguns funcionários do circo, que viam o jogo sobre um trailer, desistem da partida.
No fim do primeiro tempo, quando o Rio Claro mais atacava, gol do São Caetano. Os 20 torcedores que vieram de Rio Claro (em uma van e um carro), param de tocar. Estão cansados pelos 260 km e quatro horas de viagem. Só voltam a se animar aos 25 do segundo tempo, quando Luciano diminui para 2 a 1.
O mais otimista é Gabriel, de sete anos. Gabriel quer ser goleiro como Luís Henrique, o goleiro do time. E vibra quando, no último minuto, seu ídolo vai para a grande área adversária tentar o gol de empate. Mas não consegue, faz falta e é expulso.
O jogo acaba e Ricardo, o pequeno torcedor do São Caetano, pula de um lado para o outro, quase derrubando seus óculos. No próximo sábado, o São Caetano jogará outra vez em Ulrico Mursa. Mas o público deve ser menor. Ricardo vai numa festinha de aniversário.


torero@uol.com.br

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