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JOSÉ ROBERTO TORERO
Atravessei o estacionamento do circo e com um guarda-chuva na cabeça fui assistir
a São Caetano x Rio Claro
NESTA TERÇA eu queria falar
sobre algo que só eu tivesse
visto. Nada de escrever sobre
a vitória do Flamengo, mais um empate do Corinthians ou a derrota do
São Paulo. Eu queria uma coisa diferente, exclusiva. E consegui.
Com um guarda-chuva sobre a cabeça, atravessei o estacionamento
do circo Stankovich e cheguei à porta lateral do estádio Ulrico Mursa,
em Santos, onde haveria o jogo entre
São Caetano e Rio Claro, dois times
na zona do rebaixamento (o mando
era do São Caetano, que está com
seu estádio interditado).
Foi o menor público deste Campeonato Paulista. Apenas 102 pagantes. Mas havia 165 pessoas. Posso garantir, porque contei cada uma
delas. Até os nove familiares do bom
zagueiro Douglão, os 22 amigos de
um dirigente do Rio Claro, e os 13
policiais militares.
Aliás, eles não tiveram muito trabalho. Bastou uma corda e um policial para manter as duas torcidas organizadas afastadas. A do São Caetano tinha cerca de 40 pessoas. O dobro da do Rio Claro. Mas, espalhadas
pelas laterais do campo, havia 12 faixas. Uma para cada cinco torcedores
organizados.
O jogo começa e, logo no primeiro
ataque, Luan acerta um lindo chute
de fora da área, encobrindo o goleiro
Luís Henrique. Um a zero para o São
Caetano.
Só depois do gol chegam Luiz Silva, 42, torcedor da Portuguesa, e
seus dois filhos: Rodrigo, 11, cruzeirense, e Ricardo, 8, o único torcedor
legítimo do São Caetano na família.
Pergunto por que ele torce para o
São Caetano e ele diz: "Eu torço para
ele porque ele começou a ser bom."
"Desde quando?"
"Desde que eu nasci."
É verdade. Em 2000 e 2001, o São
Caetano obteve um bivice-campeonato brasileiro. Mas o amor de Ricardo pelo time começou um pouco
depois, em 2004, quando o pai lhe
deu uma camisa do Azulão. Como
naquele ano o clube foi campeão
paulista, Ricardo virou fã.
Falando em camisas, o pai de Ricardo lamenta que não haja sequer
um vendedor pelas redondezas, pois
queria comprar novas camisas do time. Em compensação, comemora a
facilidade para estacionar o automóvel. "Nem tem guardador de carro."
Aos 18 minutos, um zagueiro do
Rio Claro manda a bola para fora do
estádio. Alguns funcionários do circo, que viam o jogo sobre um trailer,
desistem da partida.
No fim do primeiro tempo, quando o Rio Claro mais atacava, gol do
São Caetano. Os 20 torcedores que
vieram de Rio Claro (em uma van e
um carro), param de tocar. Estão
cansados pelos 260 km e quatro horas de viagem. Só voltam a se animar
aos 25 do segundo tempo, quando
Luciano diminui para 2 a 1.
O mais otimista é Gabriel, de sete
anos. Gabriel quer ser goleiro como
Luís Henrique, o goleiro do time. E
vibra quando, no último minuto, seu
ídolo vai para a grande área adversária tentar o gol de empate. Mas não
consegue, faz falta e é expulso.
O jogo acaba e Ricardo, o pequeno
torcedor do São Caetano, pula de
um lado para o outro, quase derrubando seus óculos.
No próximo sábado, o São Caetano jogará outra vez em Ulrico Mursa. Mas o público deve ser menor.
Ricardo vai numa festinha de aniversário.
torero@uol.com.br
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