São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

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Crise derruba esporte da Ulbra

Pendência judicial e dificuldade econômica fazem universidade dar fim a futsal, basquete e atletismo

Instituição de ensino, que adota modelo americano de ter times em vários esportes, teve a condição filantrópica questionada pela Receita

ADALBERTO LEISTER FILHO
GIULLIANA BIANCONI
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise econômica e problemas judiciais frearam o principal projeto esportivo de instituição de ensino do país. A Ulbra (Universidade Luterana do Brasil) decretou o fim, sucessivamente, de suas equipes de futsal, basquete e atletismo.
Manteve-se no vôlei e no futebol -neste último, disputa o Gaúcho e tenta vaga na Série D do Campeonato Brasileiro.
"Avaliamos que 2009 seria um ano para manter apenas algumas modalidades, principalmente aquelas que conseguirem ser bancadas com patrocínios", relata Fabrício Marin, gerente de esportes da Ulbra.
Instituição de ensino moldada no exemplo de universidades americanas, com programa esportivo em diversas modalidades, a Ulbra enfrentou grave pendência judicial em 2008.
A Procuradoria Geral da Fazenda Nacional contestou a condição de entidade filantrópica da instituição e ajuizou cobrança de R$ 2 bilhões referentes a impostos e contribuições previdenciárias desde 1998.
No dia 4, a Ulbra reconquistou o certificado de beneficente. Mas a crise financeira que assolou a instituição produziu estragos em seu departamento de esportes. Foi o caso do futsal, maior campeão da história da Liga, principal torneio do país, que se licenciou.
"A Ulbra quer sempre ter um time competitivo. Para isso, precisamos de parcerias. Como estamos sem, fechamos", relata Atílio Dias, ex-supervisor do futsal, que agora está no vôlei.
Casos semelhantes vivem o atletismo e o basquete. O primeiro, que chegou a ser a terceira melhor equipe do país -atrás só das potências BM&F e Rede-, anunciou na semana passada o fechamento do projeto. "É um intervalo. Em março, vamos retornar, mas com uma equipe regional, não mais para ficar entre os primeiros do Troféu Brasil", admite Marin.
Do grupo que atuou nos Jogos de Pequim, em agosto, dois atletas integravam a Ulbra: Emmily Pinheiro (4 x 400 m) e Fabiano Peçanha (800 m). Emmily se transferiu para a Rede. Fabiano está no Pinheiros. Mas os problemas não acabaram. "Não recebo desde dezembro", diz Marco de Lazari, ex-técnico da equipe. Segundo a Ulbra, os salários do atletismo foram acertados. "Amanhã [hoje] pagaremos o basquete, o último esporte que estava com vencimentos atrasados", fala Marin.
O basquete, por sua vez, também foi fechado, após o fim da parceria com a Prefeitura de Rio Claro. A universidade, dona de uma franquia do NBB (Novo Basquete Brasil), equivalente ao Brasileiro da modalidade, abriu mão de jogar o torneio.
A promessa agora é de uma volta no próximo semestre, ao menos para disputar o Gaúcho. "E podemos entrar na segunda edição do NBB, que começa no final do ano", prevê Marin.
A crise da Ulbra é só um sintoma de um setor que tem perdido representatividade nas principais ligas do país (basquete, vôlei, handebol e futsal).
Há oito anos, as instituições de ensino emergiam como novo polo, sendo mantenedoras de um terço dos clubes que disputavam esses torneios. Hoje, respondem por menos de 25%.
A Universo (Universidade Salgado de Oliveira) exemplifica a degringolada. A instituição foi dona de quatro times de basquete. Hoje mantém um, o Brasília, campeão da Liga das Américas. "Em breve, vamos retomar o time em Uberlândia", diz Jorge Bastos, diretor da equipe.


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