São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2011 |
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RITA SIZA Adeus a um craque
O JORNALISTA É aquela pessoa que vive no receio constante de ser ultrapassado pela realidade. De ser desmentido depois de garantir algo como uma verdade absoluta e universalmente aceite. De deixar escapar uma evidência, óbvia e cristalina, que por qualquer razão nunca soube apontar. De ser apanhado de surpresa pelos factos que, supostamente, estava farto de conhecer. Tudo isto a propósito da conferência em que Ronaldo anunciou o fim da sua carreira profissional de futebolista. Que momento comovente, esse. Que enorme privilégio, também, esse último gesto de generosidade do Fenómeno na hora da saída, essa humilde e honesta exposição de humanidade: Ronaldo, em lágrimas, a confirmar a um batalhão de jornalistas que saía de cena, vencido pela doença. Não havia nenhum jornalista no Brasil ou no resto do mundo que desconhecesse a complexa história clínica do Ronaldo, um génio constantemente atraiçoado por lesões e infortúnios, mas que mesmo assim construiu uma carreira colossal. Será que nos enganamos, será que ele tem futuro?, duvidaram quando o jovem Ronaldo falhou quase toda a segunda temporada que passou no PSV. Será que ele está acabado, será que ele é capaz de recuperar?, questionaram quando o seu joelho voltou a ceder, poucos minutos após regressar ao relvado depois de uma nova cirurgia que o mantivera afastado durante meses. "Finito", vaticinaram, no fim do contrato com o Milan. Já para não falar na sua performance na Copa da França, quando sofreu o maior "assalto" da mídia em sua carreira. Afinal o que se passou com Ronaldo, o que foi que ele comeu, o que foi que ele tomou, como é que ele vai ter uma convulsão na véspera da final de um Mundial? E agora, de novo no Brasil, uma derradeira interrogação. Porque é que ele está tão gordo? Numa penada, uma elegante bofetada de luva branca, um desabafo, Ronaldo desculpou a toda a classe as décadas de dúvidas, críticas, opiniões, diagnósticos, previsões e especulações. Mas que mal devem estar a sentir-se agora todos os que fizeram chacota do meu peso, não resistiu a dizer. Se a conferência fosse relatada na linguagem cifrada do futebol, alguém teria dito nesse momento: Ronaldo apanha a bola, dribla o adversário e arranca imparável, sozinho, para a glória reservada apenas a alguns eleitos. "Tenho que reconhecer que perdi", confessou o craque. Não, Ronaldo, quem perdeu fomos nós. Você, verdadeiro Fenómeno, será para sempre vencedor. Texto Anterior: Em 1992, cinema decretou a "inabilidade' Próximo Texto: Corinthians e Fla podem rachar C13 Índice | Comunicar Erros |
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