São Paulo, domingo, 19 de março de 2006

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FUTEBOL

Mané, Diego e Ronaldinho

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

Quer dizer que o doutor Tostão escreveu que, independentemente do que venha a fazer na Copa da Alemanha, Ronaldinho Gaúcho já está no nível de Garrincha e Maradona, só abaixo de Pelé?
Invejo o doutor Tostão.
É corajoso o doutor Tostão.
Invejo por ser ele quem foi como jogador e por ser quem é como cidadão e colunista.
Corajoso porque, sobre o mesmo tema, eu simplesmente pipoquei.
Sim, até falei coisa parecida, mas não tive peito para escrever.
O que se fala o vento leva, o que se escreve fica.
Mas sempre achei que ir bem ou ganhar uma Copa do Mundo não deve ser definitivo para avaliar um jogador de futebol.
Tantos gênios não a venceram, como Cruyff, Zico e Falcão, para ficar só em três.
Outros tantos não brilharam nela, como Ademir da Guia.
E alguns até nem a jogaram, como Coutinho e Dirceu Lopes -um, parceiro de Pelé, e o outro, do próprio Tostão.
Pois é. Como já disse Fernando Calazans: não ganharam, não brilharam, não disputaram uma Copa do Mundo?
Azar da Copa do Mundo.
Porque agora, com o aval do doutor Tostão, eu o imito, descaradamente: Ronaldinho Gaúcho está no patamar de Mané Garrincha e Diego Maradona.
Como ambos, ele não é apenas eficaz. Ele também faz rir.
Sempre gostei de comparar Mané Garrincha com Charles Chaplin e Pelé com Steven Spielberg.
O primeiro fazia o estádio rir, gargalhar até.
O segundo deixava os estádios boquiabertos, estupefatos.
Pois Ronaldinho faz as duas coisas. Magistralmente.
E faz gols como poucos, como Pelé e Maradona, por exemplo.
E passa para seus companheiros marcarem, como Mané e Diego, por exemplo.
Ronaldinho reinventa o futebol e joga uma bola superior hoje em dia, numa raia diferente de seus companheiros de profissão.
O jogo que ele joga não é o mesmo dos demais -e olhe que entre esses demais tem gente como Zinedine Zidane e Thierry Henry, para não cansar o leitor.
E o doutor Tostão lembrou que Ronaldinho já foi muito bem na Copa passada.
"É, mas foi expulso infantilmente contra a Inglaterra", alguém fará questão de lembrar.
Verdade. Só que o francês Zidane também foi expulso na Copa de 1998, em casa e na estréia, e acabou brilhantemente campeão, como Ronaldinho Gaúcho.
Doutor Tostão me encorajou a terminar estas mal traçadas de maneira eloqüente, quase demagógica, triunfal.
Vamos parar de pruridos bobos e dizer as coisas como as coisas são: Ronaldinho Gaúcho é gênio e já garantiu seu lugar no panteão que abriga Garrincha e Maradona. Mesmo que vá mal na Copa da Alemanha.
E, se estraçalhar no torneio, como esperamos, deixaremos de lembrar dele apenas ao lado desses dois deuses.
E o Rei Pelé que se cuide, porque o seu século já acabou.

Seleção da coluna
Só tem um bicho mais curioso que jornalista: o leitor. É impressionante como você quer saber qual seria a seleção brasileira ideal do colunista. Já que tirei o domingo para declarações bombásticas, lá vai, começasse amanhã a Copa do Mundo de 2006: Rogério Ceni, Cicinho, Alex, Juan e Zé Roberto; Emerson, Juninho Pernambucano, Kaká e Ronaldinho Gaúcho; Robinho e Ronaldo. Como o Mundial na Alemanha não começa amanhã, e imaginando uma situação em que todos os jogadores estejam 100%, a seleção seria: Marcos, Cafu, Alex, Juan e Roberto Carlos; Zé Roberto, Juninho Pernambucano, Kaká e Ronaldinho Gaúcho; Robinho e Ronaldo. E diria ao Ronaldinho Gaúcho: jogue como você joga no Barcelona, com liberdade. Olhe para o Ronaldo como se fosse o Eto'o e para o Kaká como se fosse o Deco.


@ - blogdojuca@uol.com.br

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