São Paulo, domingo, 19 de abril de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

O luto são-paulino


Sem o capitão Rogério Ceni, o São Paulo só disputará a final do Campeonato Paulista se hoje trocar o luto pela luta

ZUZA Homem de Mello e Gilberto Kassab foram dois dos são-paulinos famosos que fizeram os telefones do Tricolor tocarem nesta semana. Entre a noite de segunda e a manhã de terça, também ligaram para o Centro de Treinamento ou para o celular do superintendente Marco Aurélio Cunha jogadores de outros clubes, como o goleiro palmeirense Marcos. O assunto era o mesmo: Rogério Ceni.
Entre os são-paulinos, cada ligação trazia mais do que consternação. Ouvi torcedores que amanheceram a terça afirmando que o ano estava encerrado, que não havia mais esperança, no Paulista ou na Libertadores. Sentimento reforçado pela derrota em Medellín. "Para muita gente, o sentimento foi esse mesmo, mas tenho certeza de que isso não passa para o grupo de jogadores", aposta Marco Aurélio Cunha.
O impacto da ausência de Rogério pelos próximos quatro meses -e na semifinal de hoje- deixa dois aspectos para serem analisados.
O primeiro é a substituição. Bosco claramente não é um goleiro do mesmo nível do titular. Mas qual outro goleiro é? Na história do futebol, há pouquíssimos exemplos de times com dois goleiros do mesmo nível. Orlando e Félix na Portuguesa dos anos 60, Castilho e Veludo, no Fluminense dos 50, Gilmar e Cabeção, no Corinthians da mesma época.
A contratação de Bosco, há quatro anos, foi a tentativa de pôr no banco um goleiro digno de substituir Rogério. Alguém com mais de uma convocação para a seleção. A avaliação no Morumbi é a de que o suplente respondeu bem sempre que exigido. A distribuição de 60 mil faixas de capitão para a torcida é a tentativa de fazer a lesão virar a favor, um mutirão em favor do capitão.
O outro aspecto é a comparação da tristeza são-paulina por Rogério com as lesões importantes de outros craques. No passado, chorava-se pelos camisas 10. Hoje, pelo número 1. Mesmo assim, o Brasil não julgou a Copa de 98 perdida ao cortar Romário. Se é um exagero dizer que toda a torcida está enlutada e sem esperança, a parcela que se afoga em lágrimas lembra mesmo o momento em que o Flamengo perdeu Zico, em 1985. O time chegou ao triangular decisivo do Campeonato Carioca, mas a esperança era mínima, porque o time era fraco. Eis a diferença. O São Paulo é forte para vencer o Corinthians. A dificuldade não é a ausência do capitão, mas a força do adversário, que não perde desde agosto com seus titulares.
O luto flamenguista por Zico, nos anos 80, persistiu até sua volta à atividade normal, em 1987. O Flamengo contratou Sócrates, e ele também se machucou. Mesmo com uma faixa preta no coração, os rubro-negros ganharam o Estadual de 1986, o primeiro título com Bebeto titular.
"Nós teríamos problemas se não tivéssemos contratado o Dênis. Hoje, temos um bom reserva para o Rogério e outro de qualidade para uma eventual substituição do Bosco", diz Marco Aurélio Cunha. Essa serenidade será importante hoje, no vestiário, mas só a vitória sobre o Corinthians devolverá a confiança de que os títulos independem da presença do capitão. Vencer o clássico e acabar com a invencibilidade corintiana não é missão simples. O São Paulo só disputará a decisão do campeonato se hoje trocar o luto pela luta.

pvc@uol.com.br

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