São Paulo, sábado, 19 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para ministério, tocha com taxa extra é ilegal

Governo diz estar sobrecarregado e que precisa dividir gastos com municípios

Pasta desconhece cobrança a mais, afirma que evento é caro e que, se for acionada por cidades, vai investigar eventuais irregularidades


RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

Para o Ministério do Esporte, é justo cobrar taxas de até R$ 56 mil de prefeituras, a maioria endividada, para participar no revezamento da tocha do Pan.
Em um evento esportivo que já consumiu cerca de R$ 3 bilhões dos governos federal, estadual e municipal, a pasta afirma ter decidido cortar seus gastos com o revezamento e passar parte da conta para as cidades.
"A cobrança é normal, a taxa de adesão [paga pelas prefeituras] é para as despesas locais, como locomoção e estadia de pessoal", disse o ministro Orlando Silva Júnior, anteontem.
O ministério demonstra desconhecimento sobre como a cobrança dos gastos com o revezamento está sendo feita.
Ministro e seus assessores afirmam que, ao pagar a taxa de adesão, a cidade não precisa desembolsar mais nada, diferentemente do que algumas dizem estar acontecendo.
"Se alguém está cobrando algo além da taxa de adesão, é ilegal. É só a cidade reclamar com o ministério que vamos apurar", declara Ricardo Leyser, da Secretaria Especial do Pan, ligada ao ministério.
Porém ele diz não crer que isso ocorra. "Nós e o Co-Rio fizemos a apresentação às cidades juntos, ninguém cobrou nada além da adesão."
O secretário foi a terceira pessoa com quem a Folha falou no ministério para esclarecer o assunto, por orientação da assessoria de imprensa.
De acordo com Leyser, a taxa de adesão cobre despesas com transporte dentro da cidade, alimentação, hospedagem e qualquer outro gasto com as equipes do governo federal e do Co-Rio envolvidas na passagem da tocha pelo município.
"Se alguma cidade resolver colocar uma banda de música para acompanhar a tocha, aí tem que pagar as despesas. Pode ser que isso esteja acontecendo. Aí é uma decisão da cidade", afirma Leyser.
Segundo o ministério, existem três níveis de taxa, que variam de R$ 23 mil a R$ 56 mil, de acordo com o tamanho do município envolvido. "Se alguém paga menos do que isso é porque preferiu bancar as despesas e diminuir a taxa de adesão", esclarece.
Leyser não estranha o fato de algumas cidades pagarem R$ 23 mil para ter a tocha por poucas horas em suas ruas. "Acontece que o nível do serviço é o mesmo, são os mesmos profissionais envolvidos, não tem como mudar o preço."
E o secretário demonstra irritação com os municípios que se queixam dos gastos. Fala que, se fosse prefeito, pagaria sem pensar duas vezes R$ 23 mil para ter o revezamento por algumas horas em sua terra.
"Se alguma cidade acha caro, não quer, não precisa participar. Não fará diferença para nós, as cidades participam porque querem", afirma Leyser.
Segundo o Ministério do Esporte, a decisão de fazer as prefeituras pagarem e a venda de patrocínio reduziu de R$ 20 milhões para R$ 13 milhões o custo do desfile da tocha pan-americana. O governo federal desembolsou pouco menos de R$ 5 milhões na empreitada.
Apesar da entrada de dinheiro das cidades e do patrocínio, o ministério alega que não terá lucro algum com a operação. Ela apenas se pagará.
"É tudo muito caro, a tocha é feita no México, o material é de alta qualidade", diz Leyser.
Entre as despesas está a fabricação de 400 tochas usadas no trajeto, segundo a assessoria de imprensa do ministério.


Texto Anterior: Dono da casa: Cesar Maia afirma que Rio não gastou nada em 2004
Próximo Texto: Rodrigo Pessoa receberá da CBH ultimato sobre disputa do Pan
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.