São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 2002

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Multidão vai às ruas celebrar vaga da Coréia

ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

Nem a polícia aguentou.
Ao fecharem uma faixa de cada lado de uma avenida em Seul para que a torcida pudesse sentar, os policiais reservaram também um canto para si. Ficou ali uma divisão, que, ao final da partida, entraria para conter os ânimos da torcida e permitir que todos fossem embora tranquilos.
Quietos no início, os policiais, sentados como torcedores, foram se agitando ao longo da partida. Quando chegou a prorrogação, gritavam. Ao final, com o gol de Ahn, pulavam e berravam.
Uma espécie de bedel pedia para que se acalmassem, em vão. Um outro policial, na frente deles, ameaçou usar o megafone para falar com seus colegas.
Trabalho para eles não faltava.
A seu redor, na frente da Prefeitura de Seul, cerca de 500 mil torcedores formavam o centro nervoso da maior mobilização da história do país -segundo o governo, mais de 4 milhões foram às ruas por causa do jogo.
Um jeito de torcer para ficar maluco. Na prefeitura, o jogo foi transmitido em cinco telas. Quem olhava no telão do projetor, via a Coréia atacando para a direita. Quem olhava ao lado, no monitor gigante, enxergava a Coréia atacante para a esquerda. Para não haver dúvida, houve quem preferisse levar seu próprio televisor.
Claro, nem tudo era tão diferente assim. Tinha ambulante vendendo comida e bebida em caixas de isopor. Tinha cerveja, tinha bêbado. E briga, nada grave.
Os coreanos não pararam, cantaram do início ao fim, mesmo quando a derrota parecia próxima, ao final do segundo tempo.
Comemoraram impedimento do adversário. O sangue do lateral-esquerdo Coco. O cartão vermelho do atacante Totti.
Para acompanhar nas ruas o jogo mais importante de sua história, toparam quase tudo.
Havia gente em lugares de onde simplesmente não se via nada. Outros enxergavam um pouco do telão por meio das árvores. Para uma melhor visão, valia subir em cadeira, carro, caminhão e até em moto. Valia até se amontoar na porta de restaurantes para tirar uma lasca do monitor interno.
O primeiro motivo de festa do dia tinha sido a desclassificação japonesa, à tarde. Ao final do dia, a festa maior. A polícia bloqueou o trânsito e parte do metrô. Ruas foram tomadas por crianças, que podiam caminhar pelo meio delas. Jardins e canteiros foram cercados para não serem pisoteados.
Bandeiras na cabeça e nas costas, os coreanos mostraram ser uma torcida insaciável. No intervalo do jogo, enquanto o time perdia por 1 a 0, seguiram cantando o nome do país. "Queremos ficar entre os quatro", explicou Kwon Seon-moon, 33.
Depois do jogo, então, berraram ainda mais, em meio ao show de música e aos fogos de artifício. "A Coréia pode vencer a Espanha. A Alemanha [que enfrenta os EUA nas quartas] é difícil, mas a Itália também era difícil", analisava Hwang Jung-ill, 40.



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