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Multidão vai às ruas celebrar vaga da Coréia
ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL
Nem a polícia aguentou.
Ao fecharem uma faixa de cada
lado de uma avenida em Seul para
que a torcida pudesse sentar, os
policiais reservaram também um
canto para si. Ficou ali uma divisão, que, ao final da partida, entraria para conter os ânimos da
torcida e permitir que todos fossem embora tranquilos.
Quietos no início, os policiais,
sentados como torcedores, foram
se agitando ao longo da partida.
Quando chegou a prorrogação,
gritavam. Ao final, com o gol de
Ahn, pulavam e berravam.
Uma espécie de bedel pedia para que se acalmassem, em vão.
Um outro policial, na frente deles,
ameaçou usar o megafone para
falar com seus colegas.
Trabalho para eles não faltava.
A seu redor, na frente da Prefeitura de Seul, cerca de 500 mil torcedores formavam o centro nervoso da maior mobilização da
história do país -segundo o governo, mais de 4 milhões foram às
ruas por causa do jogo.
Um jeito de torcer para ficar
maluco. Na prefeitura, o jogo foi
transmitido em cinco telas. Quem
olhava no telão do projetor, via a
Coréia atacando para a direita.
Quem olhava ao lado, no monitor
gigante, enxergava a Coréia atacante para a esquerda. Para não
haver dúvida, houve quem preferisse levar seu próprio televisor.
Claro, nem tudo era tão diferente assim. Tinha ambulante vendendo comida e bebida em caixas
de isopor. Tinha cerveja, tinha bêbado. E briga, nada grave.
Os coreanos não pararam, cantaram do início ao fim, mesmo
quando a derrota parecia próxima, ao final do segundo tempo.
Comemoraram impedimento
do adversário. O sangue do lateral-esquerdo Coco. O cartão vermelho do atacante Totti.
Para acompanhar nas ruas o jogo mais importante de sua história, toparam quase tudo.
Havia gente em lugares de onde
simplesmente não se via nada.
Outros enxergavam um pouco do
telão por meio das árvores. Para
uma melhor visão, valia subir em
cadeira, carro, caminhão e até em
moto. Valia até se amontoar na
porta de restaurantes para tirar
uma lasca do monitor interno.
O primeiro motivo de festa do
dia tinha sido a desclassificação
japonesa, à tarde. Ao final do dia,
a festa maior. A polícia bloqueou
o trânsito e parte do metrô. Ruas
foram tomadas por crianças, que
podiam caminhar pelo meio delas. Jardins e canteiros foram cercados para não serem pisoteados.
Bandeiras na cabeça e nas costas, os coreanos mostraram ser
uma torcida insaciável. No intervalo do jogo, enquanto o time
perdia por 1 a 0, seguiram cantando o nome do país. "Queremos ficar entre os quatro", explicou
Kwon Seon-moon, 33.
Depois do jogo, então, berraram ainda mais, em meio ao show
de música e aos fogos de artifício.
"A Coréia pode vencer a Espanha.
A Alemanha [que enfrenta os
EUA nas quartas] é difícil, mas a
Itália também era difícil", analisava Hwang Jung-ill, 40.
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