São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 2002

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TÊNIS

Aprender a jogar

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Nestes últimos cinco anos, Gustavo Kuerten disputou (e ganhou) três finais de Roland Garros. Teve também um outro domingo em que Kuerten disputou (e ganhou) uma final de ""Copa do Mundo", em Lisboa.
Kuerten participou também de vários outros torneios, menos importantes, em que ganhou várias vezes e perdeu algumas. Quando ganhou, Kuerten parabenizou e elogiou o adversário; sempre que perdeu, elogiou e admitiu a superioridade do rival. Um show de cavalheirismo, de esportividade.
Fernando Meligeni também alcançou feitos heróicos nestes últimos anos. Chegou a uma semifinal em Roland Garros, por exemplo. Há poucos meses, foi finalista do Torneio da Costa do Sauípe, no primeiro torneio grande disputado em nosso país há vários anos. Em uma Olimpíada, a de 1996, Meligeni viu escapar por pouco uma medalha.
Meligeni também não é só talento. Por sua esportividade, é reconhecido em todo o mundo. Outro show de cavalheirismo.
E não é preciso ficar só nas estrelas do tênis nacional. A cada mês, dezenas de torneios juvenis são disputados país afora, em cidades pequenas, médias e grandes. Reúnem crianças, adolescente, jovens que têm como sonho virar um Kuerten, um Meligeni.
Nesses torneios, que faço questão de acompanhar in loco quando possível, é possível ver esses jovens tenistas aprendendo a jogar, aprendendo a ganhar e, sim, aprendendo a perder.
Não é só nos torneios profissionais que se vê um tenista caminhar até o ponto da quadra onde a bola caiu e, então, avisar o juiz de que ela foi boa e beneficia o rival. É nos torneios juvenis, infantis, nas ""peladas de tênis" pelo país, que isso também acontece.
Mas, disso tudo, pouco ou quase nada passa na TV. Às vezes, só na TV paga. Muitas vezes, nem isso.
Nada que se compare a esta época, em que somos bombardeados pela Copa. Época em que pais e filhos sentam-se juntos para ver a seleção, em que crianças de todas as idades faltam às aulas para aprender mais sobre esporte.
É quando vejo, então, na TV, um atleta turco chutar a bola com força, irritado, em direção ao brasileiro Rivaldo, um dos maiores ídolos do país. É quando Rivaldo cai. Põe as mãos no rosto. Uiva de dor e faz o árbitro exibir um cartão vermelho para o adversário.
É quando vejo no ""replay" que a bola bateu no joelho de Rivaldo. Não bateu em seu rosto, não machucou, não doeu. Rivaldo levanta triunfante, conseguindo expor seu adversário à humilhação máxima no esporte, à expulsão (ou no futebol humilhação máxima é perder um jogo?). Vejo que seus companheiros correm para abraçá-lo, dar parabéns. Rivaldo deu a vantagem à sua equipe. Ainda que usando da farsa, da mentira, da deslealdade.
Depois, em outro jogo, vejo ainda os brasileiros festejando a anulação de um gol legítimo dos belgas. Tudo isso seguido pelas explosões de alegria e comentários de sempre: ""é isso aí, juizão!", ""Rivaldo usou da malandragem para conseguir a expulsão".
É uma pena que até hoje o tênis não teve oportunidade de mostrar um pouco na TV um atleta dando o ponto ao adversário.
Quando temos oportunidade gigantes de passar valores do esporte aos nossos futuros esportistas, ensinamos e festejamos na TV que "roubado é mais gostoso".
Que pena!

O primeiro
Quem vai abrir Wimbledon na segunda? Tradicionalmente, o atual campeão faz a primeira partida no All England Lawn & Tennis Club. Mas o croata Goran Ivanisevic não vai jogar, com problemas no ombro. O atual vice-campeão, o australiano Patrick Rafter, também não joga, aposentado que está. Cabeça-de-chave número um, Lleyton Hewitt sugere Pete Sampras, sete vezes campeão.

O próximo
Alexandre Simoni está com um novo técnico. Depois de alguns meses com Eduardo Eche, passa a ser treinado pelo ex-tenista argentino Pablo Albano. "Queria ter uma experiência nova. Ele tem muita coisa para me passar e ensinar", justificou Simoni.

O evento
Para quem gosta de se programar com antecedência, o Torneio da Costa do Sauípe começa no dia 9 de setembro.

E-mail reandaku@uol.com.br



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