São Paulo, sábado, 19 de junho de 2004

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FUTEBOL

Filme que estreará sexta-feira é compêndio da época de ouro do esporte

"Bíblia" de Pelé faz reviver Brasil que não existe mais

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Vi o aguardado "Pelé Eterno" ao lado do próprio Rei, numa projeção destinada a exibidores e membros da equipe de produção. O filme de Aníbal Massaini é provavelmente o documentário mais completo já realizado sobre um esportista e reinstaura de forma inequívoca Pelé no trono de melhor futebolista da história.
Durante a projeção, Pelé se emocionou principalmente em dois momentos: diante dos depoimentos de seus ex-companheiros de Santos e na passagem que mostrou o impacto internacional da sua figura -causando, por exemplo, a interrupção de uma guerra civil no Congo.
Quanto à sua trajetória dentro de campo, o ex-jogador disse que o filme "vai ser a bíblia do Pelé, não vai deixar nenhuma dúvida sobre o valor dele".
Quando terminou a projeção, no laboratório da empresa Cinecolor, em Alphaville, Grande São Paulo, Pelé perguntou a Massaini: "Não pode mais mexer mesmo? É que eu senti falta de uns três gols aí". O diretor, que juntou 25 horas de material e foi editando até chegar à versão final, com 2h05, limitou-se a dar uma risada.
O documentário entra em cartaz em 150 cinemas de todo o país na próxima sexta, depois de uma semana de pré-estréias: amanhã no Palácio dos Bandeirantes, segunda-feira no Teatro Municipal do Rio, terça no Cine Bristol (São Paulo) e quinta em Santos.
O filme é resultado de quatro anos de pesquisas em arquivos cinematográficos, televisivos e jornalísticos de 15 países.
Ao fim da sessão, o que fica é a sensação avassaladora de que dificilmente o futebol voltará a viver momentos tão exuberantes.
Os grandes atrativos do documentário, além dos quase 400 gols exibidos, são as preciosas imagens de arquivo do Brasil dos anos 50 e 60 -que mostram desde bastidores de treinos do Santos a singelos comerciais de TV gravados por Pelé na juventude.
Os depoimentos são em geral demasiado rápidos e truncados. Por vezes formam painéis interessantes, como o que reconstitui o clima entre os jogadores do Santos nos tempos áureos.
Pelé riu muito durante a projeção quando Dorval diz na tela que o Rei falava enquanto dormia e certa vez acordou o colega aos berros de "gol". "Nem começou o jogo e esse cara já está fazendo gol", afirma Dorval na fita.
Já Lima chama a atenção para o fato de que Pelé era o único jogador do Santos que tinha carro, num revelador contraste com o futebol dos dias de hoje.
A tão comentada reconstituição virtual de dois gols cujas imagens estão desaparecidas -o da rua Javari, em jogo contra o Juventus em 1959, e o "gol de placa" contra o Fluminense no Maracanã, em 1961- resulta um tanto artificial.
No primeiro caso, a recriação do gol por computador é menos interessante do que as vívidas recordações dos jogadores que participaram daquela partida.
Massaini não pretende que seu documentário seja neutro e objetivo. "É um filme de devoção a um ídolo. Procurei me pautar por aquilo que as pessoas mais gostariam de ver. Aposto que não atingirá só os freqüentadores habituais de cinema ou os amantes do futebol. É um filme para emocionar homens e mulheres de todas as idades e todas as classes."


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