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FUTEBOL
Filme que estreará sexta-feira é compêndio da época de ouro do esporte
"Bíblia" de Pelé faz reviver Brasil que não existe mais
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Vi o aguardado "Pelé Eterno" ao
lado do próprio Rei, numa projeção destinada a exibidores e
membros da equipe de produção.
O filme de Aníbal Massaini é provavelmente o documentário mais
completo já realizado sobre um
esportista e reinstaura de forma
inequívoca Pelé no trono de melhor futebolista da história.
Durante a projeção, Pelé se
emocionou principalmente em
dois momentos: diante dos depoimentos de seus ex-companheiros de Santos e na passagem
que mostrou o impacto internacional da sua figura -causando,
por exemplo, a interrupção de
uma guerra civil no Congo.
Quanto à sua trajetória dentro
de campo, o ex-jogador disse que
o filme "vai ser a bíblia do Pelé,
não vai deixar nenhuma dúvida
sobre o valor dele".
Quando terminou a projeção,
no laboratório da empresa Cinecolor, em Alphaville, Grande São
Paulo, Pelé perguntou a Massaini:
"Não pode mais mexer mesmo? É
que eu senti falta de uns três gols
aí". O diretor, que juntou 25 horas
de material e foi editando até chegar à versão final, com 2h05, limitou-se a dar uma risada.
O documentário entra em cartaz em 150 cinemas de todo o país
na próxima sexta, depois de uma
semana de pré-estréias: amanhã
no Palácio dos Bandeirantes, segunda-feira no Teatro Municipal
do Rio, terça no Cine Bristol (São
Paulo) e quinta em Santos.
O filme é resultado de quatro
anos de pesquisas em arquivos cinematográficos, televisivos e jornalísticos de 15 países.
Ao fim da sessão, o que fica é a
sensação avassaladora de que dificilmente o futebol voltará a viver
momentos tão exuberantes.
Os grandes atrativos do documentário, além dos quase 400 gols
exibidos, são as preciosas imagens de arquivo do Brasil dos
anos 50 e 60 -que mostram desde bastidores de treinos do Santos
a singelos comerciais de TV gravados por Pelé na juventude.
Os depoimentos são em geral
demasiado rápidos e truncados.
Por vezes formam painéis interessantes, como o que reconstitui o
clima entre os jogadores do Santos nos tempos áureos.
Pelé riu muito durante a projeção quando Dorval diz na tela que
o Rei falava enquanto dormia e
certa vez acordou o colega aos
berros de "gol". "Nem começou o
jogo e esse cara já está fazendo
gol", afirma Dorval na fita.
Já Lima chama a atenção para o
fato de que Pelé era o único jogador do Santos que tinha carro,
num revelador contraste com o
futebol dos dias de hoje.
A tão comentada reconstituição
virtual de dois gols cujas imagens
estão desaparecidas -o da rua
Javari, em jogo contra o Juventus
em 1959, e o "gol de placa" contra
o Fluminense no Maracanã, em
1961- resulta um tanto artificial.
No primeiro caso, a recriação
do gol por computador é menos
interessante do que as vívidas recordações dos jogadores que participaram daquela partida.
Massaini não pretende que seu
documentário seja neutro e objetivo. "É um filme de devoção a um
ídolo. Procurei me pautar por
aquilo que as pessoas mais gostariam de ver. Aposto que não atingirá só os freqüentadores habituais de cinema ou os amantes do
futebol. É um filme para emocionar homens e mulheres de todas
as idades e todas as classes."
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