São Paulo, sábado, 19 de junho de 2004

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MOTOR

Sambódromo

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Martin Brundle, hoje comentarista de TV, afirmou no Canadá: "Estamos desperdiçando Schumacher". De fato, dá para contar nos dedos os pilotos na história da F-1 que seriam capazes de arriscar largar em sexto para ganhar uma corrida e, no final de tantas voltas, ganhar.
Schumacher é um desses pilotos, por mais que boa parte do mundo o deteste e contabilize contra ele privilégios, facilidades, trapaças e, uma vez mais, a complacência do companheiro de equipe - "conveniente", de acordo com suas próprias palavras.
Schumacher é um desses pilotos porque recebe uma missão nos boxes e a cumpre como se fosse um soldado, um exterminador, que sai do carro como entrou, sem um pingo de suor, inumano. Uma terrível qualidade, que varre o livro de recordes como um vírus de computador e afasta o alemão dos outros heróis do esporte.
Falta a Schumacher exatamente esse contorno, o de herói. Se um dia fizerem um filme sobre sua carreira, o roteirista terá que fantasiar sua trajetória, já que não haverá enredo que comporte tanta explicação técnica, único modo de torná-lo raro, incomum. Hoje, não há quem dê a velha medida, o que ele faz outros não fazem.
O que Schumacher faz na pista beira o impossível. Mas, no lugar de apreciar o show, acabamos por considerá-lo patético. O alemão evolui na pista como uma escola de samba, o desafio está nele mesmo. Não são poucas as dificuldades, mas, como o alemão as despreza olimpicamente, resta ao público a sensação de desfile.
Fica mais fácil então desqualificar a F-1. Sobram recursos. Schumacher, excelente piloto, é definitivamente um chato, as regras estão cada vez mais burras com o desespero da FIA, a tecnologia galopa, crise, adversários, falta de adversários. É só escolher.
Em igual medida, partimos para as soluções. Quebrem outra perna do alemão, mudem o treino oficial, desembarquem a tecnologia, acabem com os testes, deixem Barrichello correr!
Esta última, diante da quase impossibilidade das demais, parece mais viável. Ecclestone foi o primeiro a pedir. O último, antes do Canadá, foi Frank Williams.
Animado com esse papel de salvador da pátria, tão comum a ele por aqui, Barrichello se animou e resolveu cutucar o companheiro no meio da corrida de Montréal. Acelerou, mostrou o carro, retrocedeu. Nunca saberemos o que aconteceu, se foi incapaz de rasgar seu contrato ou, mais prosaico, de ultrapassar o campeão.
O piloto brasileiro, em sua lógica peculiar, disse que tentou fazer a ultrapassagem, que foi o primeiro companheiro do alemão a fazer isso e que devia se sentir orgulhoso por isso. Um leitor da coluna, antes de Barrichello proferir tamanha barbaridade, gastou várias linhas para explicar que passou do "orgulho à vergonha" no instante daquele manobra.
Manobra que, se feita para valer, a despeito do resultado, poderia mudar o campeonato, a F-1, a vida de Barrichello e, quem sabe, a de Schumacher. Pois, se é verdade que desperdiçamos Schumacher, seria bom não ter que esperar pelo filme para entender isso.

O erro da Toyota
E não é que a equipe japonesa cometeu mesmo a insanidade de contratar Ralf? Se a notícia é ruim para Cristiano da Matta, ela pode ser boa para outro brasileiro, Ricardo Zonta. Em Indianápolis, dizem que o atual piloto de testes já assinou para ser titular em 2005.

O erro da Williams
Mal contada essa história do duto de ar nos freios da Williams. Diferentemente da Toyota, que extrapolou seu dispositivo em 2 mm (para a equipe, dentro da tolerância de fabricação), o time inglês errou por 30 mm. Há quem acredite em uma conspiração interna contra o novato Sam Michael, que acabou de assumir o posto de diretor técnico que era de Patrick Head. É mais fácil acreditar que a Williams, assim como a McLaren, desce a ladeira. Não vai ser fácil voltar a subir.

E-mail mariante@uol.com.br


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