São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 2006

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Cambista vende bilhete por R$ 3.400

Nos arredores do estádio onde o Brasil enfrentou a Austrália, ingresso mais caro custava quase o triplo do preço oficial

Fifa relatou antes do início da Copa que confederações seriam penalizadas caso os ingressos que receberam parassem no mercado negro

DOS ENVIADOS A MUNIQUE

O homem se identifica como Dimas. Aparenta ter entre 40 e 50 anos. Veste uma camisa da seleção brasileira, mas diz não gostar muito de futebol.
"É só para atrair mais clientes", explica o sujeito.
Ontem, nas cercanias do Estádio de Munique, ele abordava pessoas que carregavam placas ou bilhetes indicando que desejavam ingressos para o duelo.
Dimas tinha quatro entradas de Brasil x Austrália para negociar. Pedia 600 por cada uma -o equivalente a R$ 1.700.
Duas horas e meia antes do apito inicial, já havia vendido tudo. "Também já arrumei compradores para o jogo da seleção contra o Japão. Tá tranqüilo para vender. É até mais fácil que no Brasil", afirma.
Sua declaração já seria suficiente para ilustrar o fracasso da política criada pela Fifa, e entidade máxima do futebol) para coibir a compra de entradas no mercado negro. O curioso é que Dimas não é exceção.
Os arredores do palco que recebeu o segundo triunfo do Brasil na Copa eram ontem um balcão de negócios. Durante 40 minutos, a Folha percorreu um trecho de aproximadamente 800 m, que liga a estação de metrô Fröttmaning ao estádio.
Na mão, o repórter, que não usava sua credencial de jornalista, carregava um pedaço de papel com a frase "I need tickets" ("Eu preciso de ingressos"). Sete propostas foram feitas durante o trajeto.
A entrada mais barata saía por 500 (R$ 1.420). A mais cara custava o equivalente a R$ 3.400. Trata-se uma diferença grande se comparada às tarifas estabelecidas pela Fifa -os preços variam entre R$ 124 e R$ 1.200 para cada partida.
"É melhor comprar logo, porque hoje [ontem] tá tudo muito movimentado", avisa um jovem que oferecia espaços em locais próximos às cabines de TV. "Você vai ficar do ladinho do Galvão Bueno [narrador da Globo]", diz o rapaz, que se recusa a dizer seu nome.
Enquanto faz sua proposta à reportagem, dois policiais passam pelo local. Questionado se temia ser detido, o homem dá de ombros. "Isso aqui é uma festa", fala o cambista.
A Fifa gostaria que não fosse. No ano passado, a entidade que comanda o futebol no mundo informou que um sistema de vendas pela internet seria suficiente para impedir negócios no mercado negro. Tudo porque os ingressos foram impressos com informações pessoais de seus compradores.
Os organizadores não conseguiram, contudo, controlar as confederações nacionais e seus dirigentes. Membros do Comitê Executivo da Fifa, além de todos os países que estão na Copa da Alemanha, receberam uma cota de ingressos. Estes não continham identificação. No Estádio de Munique, eram os tipos mais procurados.
"É uma versão mais segura, mas, se te oferecerem um que tiver nome, pode comprar. Eles não estão olhando. Estão deixando entrar de qualquer jeito. Não tem nada que possa dar errado", diz um homem que se identifica como Brian.
Ele diz, em inglês, que suas entradas para o duelo Brasil x Austrália estavam esgotadas, mas que tem três disponíveis para o jogo contra o Japão, na quinta, em Dortmund. Até oferece um cartão, com o número de um celular alemão, para negociações futuras.
"Pode espalhar o número. Vou trabalhar bastante na segunda fase", avisa ele, sem saber que dois cambistas brasileiros haviam sido presos ontem.
A Fifa relatou, antes do início da Copa, que confederações seriam punidas caso os ingressos que receberam não fossem comercializados corretamente e acabassem no mercado negro.
Ontem, a reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa da Fifa para saber se a Confederação Brasileira de Futebol poderia receber alguma sanção por causa da ação dos cambistas. Os pedidos de entrevista não foram respondidos até o fechamento desta edição.0 (GUILHERME ROSEGUINI, PAULO COBOS, SÉRGIO RANGEL, EDUARDO ARRUDA E RICARDO PERRONE)

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