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Cambista vende bilhete por R$ 3.400
Nos arredores do estádio onde o Brasil enfrentou a Austrália, ingresso mais caro custava quase o triplo do preço oficial
Fifa relatou antes do início
da Copa que confederações
seriam penalizadas caso os
ingressos que receberam
parassem no mercado negro
DOS ENVIADOS A MUNIQUE
O homem se identifica como
Dimas. Aparenta ter entre 40 e
50 anos. Veste uma camisa da
seleção brasileira, mas diz não
gostar muito de futebol.
"É só para atrair mais clientes", explica o sujeito.
Ontem, nas cercanias do Estádio de Munique, ele abordava
pessoas que carregavam placas
ou bilhetes indicando que desejavam ingressos para o duelo.
Dimas tinha quatro entradas
de Brasil x Austrália para negociar. Pedia 600 por cada uma
-o equivalente a R$ 1.700.
Duas horas e meia antes do
apito inicial, já havia vendido
tudo. "Também já arrumei
compradores para o jogo da seleção contra o Japão. Tá tranqüilo para vender. É até mais
fácil que no Brasil", afirma.
Sua declaração já seria suficiente para ilustrar o fracasso
da política criada pela Fifa, e
entidade máxima do futebol)
para coibir a compra de entradas no mercado negro. O curioso é que Dimas não é exceção.
Os arredores do palco que recebeu o segundo triunfo do
Brasil na Copa eram ontem um
balcão de negócios. Durante 40
minutos, a Folha percorreu
um trecho de aproximadamente 800 m, que liga a estação de
metrô Fröttmaning ao estádio.
Na mão, o repórter, que não
usava sua credencial de jornalista, carregava um pedaço de
papel com a frase "I need tickets" ("Eu preciso de ingressos"). Sete propostas foram feitas durante o trajeto.
A entrada mais barata saía
por 500 (R$ 1.420). A mais
cara custava o equivalente a R$
3.400. Trata-se uma diferença
grande se comparada às tarifas
estabelecidas pela Fifa -os
preços variam entre R$ 124 e
R$ 1.200 para cada partida.
"É melhor comprar logo,
porque hoje [ontem] tá tudo
muito movimentado", avisa
um jovem que oferecia espaços
em locais próximos às cabines
de TV. "Você vai ficar do ladinho do Galvão Bueno [narrador da Globo]", diz o rapaz, que
se recusa a dizer seu nome.
Enquanto faz sua proposta à
reportagem, dois policiais passam pelo local. Questionado se
temia ser detido, o homem dá
de ombros. "Isso aqui é uma
festa", fala o cambista.
A Fifa gostaria que não fosse.
No ano passado, a entidade que
comanda o futebol no mundo
informou que um sistema de
vendas pela internet seria suficiente para impedir negócios
no mercado negro. Tudo porque os ingressos foram impressos com informações pessoais
de seus compradores.
Os organizadores não conseguiram, contudo, controlar as
confederações nacionais e seus
dirigentes. Membros do Comitê Executivo da Fifa, além de
todos os países que estão na
Copa da Alemanha, receberam
uma cota de ingressos. Estes
não continham identificação.
No Estádio de Munique, eram
os tipos mais procurados.
"É uma versão mais segura,
mas, se te oferecerem um que
tiver nome, pode comprar. Eles
não estão olhando. Estão deixando entrar de qualquer jeito.
Não tem nada que possa dar errado", diz um homem que se
identifica como Brian.
Ele diz, em inglês, que suas
entradas para o duelo Brasil x
Austrália estavam esgotadas,
mas que tem três disponíveis
para o jogo contra o Japão, na
quinta, em Dortmund. Até oferece um cartão, com o número
de um celular alemão, para negociações futuras.
"Pode espalhar o número.
Vou trabalhar bastante na segunda fase", avisa ele, sem saber que dois cambistas brasileiros haviam sido presos ontem.
A Fifa relatou, antes do início
da Copa, que confederações seriam punidas caso os ingressos
que receberam não fossem comercializados corretamente e
acabassem no mercado negro.
Ontem, a reportagem tentou
contato com a assessoria de
imprensa da Fifa para saber se
a Confederação Brasileira de
Futebol poderia receber alguma sanção por causa da ação
dos cambistas. Os pedidos de
entrevista não foram respondidos até o fechamento desta edição.0
(GUILHERME ROSEGUINI, PAULO COBOS, SÉRGIO RANGEL, EDUARDO ARRUDA E RICARDO PERRONE)
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