São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2008

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JUCA KFOURI

Para calar a boca da crítica

A própria imprensa gosta de dizer que o time X ou o time Y calou a crítica. Uma bobagem que não quer calar

TOMARA QUE a seleção brasileira tenha calado a boca dos críticos ontem no Mineirão.
Tomara que tenha vencido, e bem, quem sabe até goleado, a poderosa seleção da Argentina.
Dá até para imaginar as entrevistas, a maioria dedicada a responder aos que disseram que a seleção foi um fiasco tanto contra a Venezuela quanto contra o Paraguai.
Por mais que esses mesmos que agora talvez repliquem tenham admitido que a seleção brasileira, de fato, não jogara nada diante de venezuelanos e paraguaios. Terá jogado bem contra os argentinos? Tomara.
E viva o direito de revanche.
O direito autoral em relação ao "vocês vão ter de me engolir" tem dono conhecido, auge da bobagem, como se as críticas que eram feitas a Zagallo e sua seleção na Copa América de 1997, na Bolívia, não fossem mais que merecidas e, pior, como se os críticos não quisessem exatamente que a seleção jogasse bem e ganhasse a taça.
E este é o ponto.
Os anões intelectuais da vida não fazem idéia de quanto os críticos honestos querem ver os erros corrigidos e a seleção brasileira sempre vencendo. E nem se dão conta de que, ao contrário de fechar a boca dos que têm senso crítico, e nenhuma segunda intenção ou interesse comercial, o triunfo abre suas bocas para felizes gargalhadas, só possíveis em dias de vitória.
Outro dia mesmo eram os jogadores corintianos que diziam que ganhariam a Copa do Brasil para responder à crítica. Pois não ganharam e não responderam, para tristeza dos críticos que são corintianos.
Que fique, portanto, bem claro ao sentimento revanchista: tudo o que um jornalista quer é rigorosamente igual ao que quem não é jornalista também quer e, no caso, o que o torcedor quer: ver seu time vencer.
O resto é reação de gente medíocre, que não sabe nem perder nem ganhar, exatamente as duas mais preciosas lições do esporte.
Aliás, é tudo tão óbvio que até dá preguiça de explicar, além de chover no molhado para o leitor que está cansado de saber disso.

Uma pena
O ministro Marcos Vilaça tem feito um trabalho exemplar na fiscalização do dinheiro público que foi investido no Pan-2007, mesmo que já demore demais a apresentação do relatório final. Infelizmente não poderemos esperar dele a mesma excelência em relação à fiscalização do que farão com o nosso dinheiro na Copa de 2014. Porque o mínimo que se exigirá será que se dê por impedido para tal missão depois de ter, "por convite pessoal" de Ricardo Teixeira, chefiado a desastrada delegação brasileira na derrota no Paraguai.
Louve-se, aliás, a transparência da CBF, que fez questão de anunciar em seu sítio a conquista de tão influente aliado, como mostrou Paulo Cobos, desta Folha.
Nas Copas passadas, juízes e desembargadores recebiam mordomias do gênero, e a entidade fazia questão de ocultar. Hoje, acima do bem e do mal, a CBF não tem nada a temer. E ai de alguém se propuser nova CPI sobre a entidade.
A menos, é claro, que a Argentina tenha vencido em Belo Horizonte...


blogdojuca@uol.com.br

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